Celso Loducca, Giuliano Cedroni, Paula Cosenza, Justine Otondo, João Queiroz e Maurício Ramos, do Ventre Studio: mais de 40 projetos desde 2020 (Divulgação/Divulgação)
Editor de Negócios e Carreira
Publicado em 3 de setembro de 2023 às 13h22.
Última atualização em 3 de setembro de 2023 às 13h28.
A indústria cultural contribui com 3,11% do PIB do Brasil, segundo estudo recente patrocinado pelo Observatório do Itaú Cultural, uma das principais instituições de fomento ao setor no país.
Com faturamento ao redor de 30 bilhões de reais, o consolidado de negócios em segmentos como música, audiovisual, moda, games, arquitetura, publicidade, design, teatro, festivais e por aí vai tem uma receita superior à da cadeia automobilística.
No Brasil, as montadoras e suas fornecedoras respondem a 2,1% do PIB, de acordo com a mesma pesquisa.
No total, 7,4 milhões de brasileiros estão empregados em negócios da indústria cultural.
O empresário Marcus Buaiz olha para esses números com perplexidade.
"A indústria do entretenimento foi, de certa forma, marginalizada por muito tempo no Brasil", diz ele, um dos expoentes do mercado de entretenimento no Brasil após duas décadas de investimentos em negócios como gestão de carreira de celebridades e atletas, casas noturnas e restaurantes.
"Os números dão conta do tamanho desse mercado e das oportunidades à frente."
Para captar um naco disso tudo, Buaiz está apostando alto no Ventre Studio, uma produtora de conteúdos audiovisuais com um ‘sonho grande’ pela frente.
"Nossa ambição é contar as boas histórias do Brasil para o mundo", diz ele, ao lado do sócio João Queiroz, também fundador da Querosene Filmes, produtora envolvida em mais de dez longa metragens no Brasil, Argentina, Uruguai e México ao longo dos últimos dez anos.
Fundado em 2020, mas operando em modo low-profile até agora, o Ventre Studio quer reunir bons profissionais do audiovisual brasileiro em projetos com potencial de emplacar nos cinemas dentro e fora do país.
E, em meio à guerra das plataformas de streaming por conteúdo original e com alto potencial de viralização, a meta é gerar sucessos globais a partir do Brasil.
Uma referência para o negócio é a Coreia do Sul, um país emergente até pouco tempo com tradição alguma no audiovisual.
Nos últimos cinco anos, os sul-coreanos produziram sucessos em série. Para ficar em dois exemplos: o filme Parasita, 2019, foi o primeiro estrangeiro a ganhar as principais estatuetas do Oscar no ano seguinte.
A série Round 6 é a série mais vista do Netflix. Mais de 142 milhões de assinantes assistiram a primeira temporada; a segunda está em produção.
O formato do Ventre Studio é o de um estúdio independente de outras empresas do setor. O foco é juntar a expertise dos sócios para buscar bons roteiros à disposição no mercado e, em outra ponta, captar recursos junto a bancos e outros investidores para fazer a coisa acontecer.
Para além de viabilizar a produção do audiovisual, os fundadores querem também atuar na distribuição dos produtos junto a distribuidoras de cinema, plataformas de streaming e emissoras de televisão.
O embrião do Ventre Studio é formado pelos sete fundadores. Além de Buaiz e Queiroz, fazem parte do Ventre profissionais tarimbados: os produtores Giuliano Cedroni, Justine Otondo e Paula Cosenza e o publicitário Celso Loducca.
Juntos, eles produziram:
As conversas entre os sócios começaram na pandemia. "A quarentena mostrou a força do audiovisual", diz Buaiz. "Em casa, passamos a consumir muito mais conteúdo e a barra dos telespectadores subiu."
Essa percepção, em boa medida, colaborou para o modelo de negócios do Ventre Studio. A ideia por ali é trabalhar com poucos projetos — algo como três a quatro por ano — com orçamentos parrudos para a realidade brasileira.
"Estamos falando de produções de 30 milhões de reais para cima", diz Queiroz.
Em dois anos de colaborações entre os sócios do Ventre Studio, mais de 40 projetos com narrativas potentes já pasaram por ali.
Se tudo correr como o planejado, e as obras saírem do papel, a meta dos sócios é chegar a 2028 movimentando algo como 500 milhões de reais por ano com o Ventre Studio.
O primeiro projeto a ficar pronto vai estrear em outubro.
Trata-se de João Sem Deus, uma ficção em cima da história do médium João de Deus, alvo de denúncias de assédio sexual por centenas de mulheres atendidas no centro espírita tocado por ele em Abadiânia, em Goiás, até o escândalo vir à tona, em 2018. Hoje ele cumpre prisão domiciliar.
Quem assina a obra é a cineasta Marina Person e tem no elenco Marco Nanini, Bianca
Comparato e Karine Telles. A produção deve passar com exclusividade no Canal Brasil.
Ainda em 2023, a produtora lançará o documentário-ficção ‘Diário de uma Onça’, do diretor inglês Joe Stevens (do documentário Earth at Night, da Apple Original). A produção tem a parceria da ONG Onçafari e da plataforma de streaming Globoplay.
Em 2024 estreiam O Pinguim e o Pescador, um longa-metragem de ficção dirigido por David Schurmann e estrelado pelo ator francês Jean Renó; ‘Permitidos’, uma comédia romântica dirigida por Luís Pinheiro e com Juliana Didone e Bárbara Paz no elenco; e ainda ‘It’s Not Over Yet’, um longa do cineasta israelense Amos Gitai.
Para o ano que vem, os sócios do Ventre Studio apostam em dois outros grandes projetos.
Um deles é 100 dias, longa-metragem adaptado do best seller do velejador brasileiro Amyr Klink. A produção tem parceria com a Disney.
A segunda é Iemanjá, um filme de super-herói brasileiro numa parceria do Ventre Studio com o estúdio de animação DC Comics e com a Warner.