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Frete impede desaceleração do preço de alimentos no varejo

Os altos custos do frete no Brasil têm sido o principal entrave para repassar ao varejo a deflação vista desde o início do ano nos produtos agropecuários no atacado


	A expectativa entre os analistas é de que a alta dos preços dos alimentos no varejo continue desacelerando, em alguma medida, nos próximos meses como reflexo da deflação no atacado
 (Marcos Santos/USP Imagens)

A expectativa entre os analistas é de que a alta dos preços dos alimentos no varejo continue desacelerando, em alguma medida, nos próximos meses como reflexo da deflação no atacado (Marcos Santos/USP Imagens)

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Da Redação

Publicado em 27 de maio de 2013 às 17h24.

São Paulo - Os elevados custos do frete no Brasil têm sido o principal entrave para o repasse ao varejo da deflação vista desde o início do ano nos produtos agropecuários no atacado, impedindo uma desaceleração mais contundente dos preços ao consumidor.

Na avaliação de analistas, o cenário aponta para um alívio no preço dos alimentos sim, mas ele ainda será insuficiente para o consumidor final sentir em seu bolso de forma plena. Isso porque os preços dos fretes foram afetados por variáveis perenes, como aumento nos preços do diesel e nova lei trabalhista para a categoria.

"Há um pico no período da colheita e depois ameniza. Mas vamos continuar em nível elevado (de preços do frete), e o que foi visto em 2011 e 2012 não deve ser alcançado novamente", disse o analista de grãos da consultoria agrícola Informa Economics FNP Aedson Pereira.

De acordo com cálculos da FNP, para o trecho de Cascavel (PR) a Paranaguá (PR), neste mês o frete está em torno de 75 reais por tonelada de soja ou milho, chegando a bater em 90 a 100 reais no pico da safra em março e abril. Na mesma época de 2012, o valor foi de 55 reais, com pico de 65 reais, diferença de mais de 50 %.

Já para transportar o grão de Rondonópolis (MT) a Santos (SP), o custo do frete é de cerca de 185 reais por tonelada, mas chegou a 220 reais no pico da safra. Em 2012, o custo foi de 170 reais, alcançando no máximo 180 reais.

Os principais fatores responsáveis pelo salto destes custos são o aumento no preço do diesel e a mudança da legislação trabalhista dos motoristas. O combustível, usado nos caminhões que transportam a safra e os produtos, já foi reajustado duas vezes este ano.

Já a Lei do Descanso, que entrou em vigor no ano passado, estabelece que os motoristas têm de parar por 30 minutos a cada quatro horas trabalhadas, além de direito a intervalo mínimo de 11 horas ininterruptas a cada 24 horas.

"Isso reduz o tempo que o caminhoneiro pode trabalhar, e portanto é preciso mais caminhões para manter o mesmo fluxo. A lei é boa, mas acaba gerando distorção no mercado num momento (de safra recorde e demanda internacional alta) em que há muita necessidade de caminhões", disse o sócio-analista da consultoria agrícola Agroconsult, André Debastiani.


Repasse barrado

Somente em abril, os preços no atacado dos produtos agropecuários no Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) registraram queda de 1,82 %, chegando a deflação de 1,96 % na segunda prévia de maio. No ano, eles acumulam queda de 6,26 %.

Mas apenas em maio os preços dos alimentos no varejo começaram a dar sinais de arrefecimento mais forte, desacelerando a alta a 0,47 % no IPCA-15, ante 1 % no mês anterior.

"Os preços no varejo estão desacelerando, mas num ritmo muito menor do que se esperava tendo em vista o que aconteceu no atacado. E o que influencia mais é o aumento do frete, pois é preciso carregar o grão para ser processado e depois o produto tem que ser levado para o supermercado", destacou a economista da Rosenberg & Associados Priscila Godoy.

Caso tivessem sido repassados 30 % da deflação dos preços agropecuários nos quatro primeiros meses do ano aos alimentos no varejo, a inflação ao consumidor poderia estar mais perto de 6 %, e não rondando o teto da meta do governo em 12 meses, de 6,5 % pelo IPCA.

Contas da economista da Tendências Alessandra Ribeiro mostram que, se esse cenário fosse verdadeiro, o grupo Alimentação e bebidas teria acumulado alta de 4,3 % no ano até o mês passado, e não 5,7 % como de fato ocorreu. E, em 12 meses, o IPCA teria registrado 6,15 %, abaixo dos 6,49 % vistos em abril.

Sinais recentes de fraqueza do consumo, diz a analista, têm o potencial para provocar alguma mudança neste cenário, fazendo com que os varejistas moderem o repasse dos custos, incluindo o dos fretes.

"Os supermercados estão sofrendo e, diante do arrefecimento de demanda, é de se esperar que o repasse de custo não seja tão alto daqui para frente", avalia Alessandra.

As vendas no varejo já sentiram o peso da inflação, que corrói o poder de compra da população, com queda de 0,2 % no primeiro trimestre deste ano.

De qualquer forma, a expectativa entre os analistas é de que a alta dos preços dos alimentos no varejo continue desacelerando, em alguma medida, nos próximos meses como reflexo da deflação no atacado.

"O repasse (da deflação) deve haver, então temos trajetória de desaceleração de alimentos. Mas devido aos custos, quem tinha expectativa de deflação (dos alimentos) no varejo eliminou esse cenário", completou Alessandra, que estima o IPCA neste ano em 5,6 %, com alta de 9 % de Alimentação.

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