Cherto: "não conheço ninguém acima de 60 anos que goste de ser tratado como uma criancinha" (Nuthawut Somsuk/Getty Images)
Consultor de Franquias
Publicado em 24 de janeiro de 2024 às 06h06.
Sou da safra de 1954. Mais precisamente, de maio de 1954. Não é preciso ser um gênio da matemática para constatar, dentro de uns poucos meses, entrarei firme e forte nos meus setentinha. Isso me torna particularmente interessado em conhecer negócios - e, mais especificamente, franquias – com foco no público idoso.
A transição do perfil demográfico da população global vem propiciando a criação de cada vez mais empreendimentos voltamos para o atendimento das necessidades e desejos específicos do chamado consumidor maduro, a tal Geração Prateada, a faixa populacional que mais cresce atualmente.
Projeções feitas recentemente pelo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, indicam que até 2030 o Brasil terá algo como 41,5 milhões de habitantes com 60 anos ou mais. Número que deverá saltar para 73,5 milhões até 2050. É mais do que a população inteira da maioria dos países.
Dos 193 países que integram a ONU, apenas 19 (cerca de 10%) contam com mais de 73,5 Milhões de habitantes. A França tem 67 Milhões. A Itália, 60. E a Inglaterra, 56. Ou seja, os idosos que viverão no Brasil daqui em 2050 representarão um mercado imenso.
Franquias em diversas partes do mundo, incluindo o Brasil, têm surgido ou se adaptado para atender as demandas específicas desse perfil de cliente. Sem pretender esgotar o tema, até por uma questão de espaço, vou citar aqui alguns dos nichos em que tais franquias atuam.
Um dos setores que mais tem crescido é o de cuidados domiciliares. No Brasil, a vasta maioria das redes de franquias que oferecem serviços para idosos atuam no ramo de cuidados básicos e de enfermagem, indo, em alguns casos, até o apoio psicológico, com o objetivo de ajudar idosos a manter uma certa independência em suas casas, ao mesmo tempo em que propiciam tranquilidade para seus familiares. Há também, em nosso mercado, ao menos uma rede bastante conhecida de franquias de casas de repouso.
Embora eu não conheça nenhuma rede brasileira focada nesse segmento, na Inglaterra e nos EUA há várias franquias de agências de turismo especializadas em pacotes de viagem customizados para clientes da faixa sênior (geralmente, a partir dos 50 anos). Nos EUA, identifiquei uma rede de franquias, a Road Scholar, que organiza apenas viagens educacionais e culturais para idosos.
Fora do Brasil, a tecnologia também é um campo fértil, com redes que alugam ou comercializam dispositivos de monitoramento de saúde e sistemas de assistência residencial inteligentes. Outras comercializam itens simples e intuitivos, como relógios e telefones projetados especificamente para idosos.
Na França, as franquias da Club Gym 50 oferecem aulas e treinamentos especialmente para pessoas acima dos 50. E, segundo consta, tem muitos clientes acima dos 60. Nos EUA, a SeniorNet oferece cursos sobre tecnologia e tecnologia para habilitar idosos a lidarem com as novas ferramentas do mundo de TI.
Como se pode observar, há muitas oportunidades ainda sub-aproveitadas no Brasil. Porém, é preciso ter em mente que atuar junto ao mercado sênior coloca as empresas diante de desafios que ainda não experimentaram. A necessidade de personalização dos produtos e serviços é bem grande, exigindo uma compreensão profunda das necessidades e preferências desse público.
Isso vale inclusive para a maneira como os colaboradores de cada unidade lidam com os clientes no dia a dia. Falo por experiência própria: não conheço ninguém acima de 50 ou 60 anos que goste de ser tratado como uma criancinha, ou um idiota. Já pensei em fazer uma reclamação formal à direção de vários grandes hospitais e laboratórios de análises clínicas nas quais é comum que enfermeiros e atendentes se dirijam a alguém como eu pedindo que “estenda o bracinho”, “vire a perninha” ou “levante a mãozinha”. Quem faz isso não tem ideia do quanto enfurece o paciente. Só não xingo por educação.
Não xingo, mas mentalmente rogo uma praga: “que essa pessoa possa viver tempo suficiente para um dia ser tratada assim, como uma debilóide...”.
Não há dúvida de que o futuro reserva um enorme potencial para o surgimento e crescimento, no mercado brasileiro e internacional, de franquias focadas em idosos, segmento que certamente continuará a crescer a velocidade acelerada. Mas, como em qualquer outro ramo, vai se dar bem quem conseguir entender e atender o cliente com mais competência do que os concorrentes.