Rogelio Golfarb, da Ford: "é uma combinação que faz parte do momento que a economia vive", afirmou (Divulgação/Ford)
Da Redação
Publicado em 3 de fevereiro de 2015 às 13h02.
São Paulo - O vice-presidente da Ford para América do Sul, Rogelio Golfarb, avaliou nesta terça-feira, 3, que a queda de 18,8% nas vendas de veículos em janeiro na comparação com o mesmo mês do ano passado foi "significante" e maior do que a montadora esperava.
Ele ponderou, contudo, que é precipitado definir o ano de 2015 apenas pelo resultado de janeiro, mês marcado por algumas "distorções".
Para o executivo, o recuo em janeiro foi motivado por um "combinação de fatores", como a antecipação de compra por conta do IPI reduzido, aumento do custo de financiamento, seletividade no crédito e confiança baixa dos consumidores na economia brasileira.
"É uma combinação que faz parte do momento que a economia vive", afirmou.
Golfarb avaliou que o "mais preocupante" é o fato de os emplacamentos terem caído no primeiro mês do ano mesmo com as promoções promovidas pelas concessionárias e os estoques com IPI reduzido.
De acordo com ele, das 351 mil unidades de estoque que sobraram de dezembro, 277 mil foram faturadas com a redução do IPI. "Foi uma queda mais significativa e acima do que esperávamos", afirmou.
Golfarb afirmou que as vendas e a produção de veículos têm "viés de baixa" em 2015. De acordo com o executivo, isso é consequência da "exaustão do ciclo de crescimento" e das medidas de ajuste fiscal anunciadas recentemente pela nova equipe econômica.
Para as vendas, a montadora espera queda "na ordem" de 5% neste ano na comparação com 2014. Golfarb ponderou, contudo, que essa previsão é "inicial".
"É preciso ver como o mercado vai reagir a essas medidas anunciadas", afirmou. O executivo esclareceu que a Ford ainda não conseguiu medir o impacto dessas mudanças recentes.
O vice-presidente avaliou que, apesar de afetar a economia no primeiro momento, as medidas do ajuste têm o "objetivo claro" de dar a solidez macroeconômica que o setor automotivo precisa para ter um novo ciclo de crescimento sustentável.
"A indústria automobilística é de grandes investimentos e de longo prazo, então o setor precisa dessa solidez macroeconômica", explicou.
Retomada
Golfarb avaliou ainda que a lei que facilita a retomada do bem, que entrou em vigor no fim de novembro do ano passado, é uma "medida importante", mas que não deve fomentar as vendas ou mudar o comportamento da concessão de crédito.
"A decisão de dar o crédito é focada na capacidade de pagamento e não em quanto tempo levará para retomar o veículo", disse.
Demissões
Questionado sobre se a Ford pretende fazer demissões ou paralisações na produção durante o carnaval, como outras montadoras anunciaram, o vice-presidente da Ford afirmou que "não temos nada para anunciar hoje" referente a esse assunto.
"Somos sempre cautelosos na questão de expansão. Monitoramos a questão do mercado", disse.
Crise hídrica
Golfarb afirmou que a montadora não espera que a produção nas fábricas no Brasil seja impactada pela crise hídrica que afeta o País.
Segundo ele, no planejamento da empresa há previsão de impacto no custo de produção por outros motivos, como as medidas de ajuste fiscal anunciadas recentemente pela nova equipe econômica e pelo aumento da tarifa de energia elétrica. Ele não divulgou, contudo, a dimensão do impacto.
O executivo ressaltou que a Ford tem acompanhado "de perto" a crise hídrica que afeta principalmente as regiões Sul e Sudeste do País e que já planeja novas medidas para diminuir o consumo. Uma delas será a utilização do método de reúso da água na fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista.
O método já é utilizado na unidade da Ford em Camaçari, na Bahia. O executivo afirmou que a montadora também está em processo de troca das lâmpadas das fábricas por luzes de led.
"Estamos atacando de frente principalmente a questão cultural, para conscientizar nossos trabalhadores que é importante reduzir o consumo", afirmou. De acordo com ele, a Ford estabeleceu uma meta de redução do consumo, a qual ele disse não poder revelar.
Golfarb acrescentou que outras medidas já eram usadas antes, como temporizadores nas torneiras para diminuir a vazão da água. "Outras medidas mais estruturantes já implantamos na época da instalação das fábricas", destacou.