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Flávio Rocha: vacinação de trabalhadores é vital para retomada do PIB

Presidente do conselho do Grupo Guararapes defende que as empresas possam vacinar já seus funcionários que estão “na linha de frente”

Flávio Rocha, fundador da Riachuelo: empresário também pede por uma definição do governo sobre a lei que permite suspensão de contratos (Germano Lüders/Exame)

Flávio Rocha, fundador da Riachuelo: empresário também pede por uma definição do governo sobre a lei que permite suspensão de contratos (Germano Lüders/Exame)

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Carolina Ingizza

Publicado em 23 de março de 2021 às 17h33.

Última atualização em 23 de março de 2021 às 18h16.

Em meio ao pior período da pandemia no Brasil, com mais de 295.000 mortes registradas, Flávio Rocha, presidente do conselho de administração do Grupo Guararapes, dono da Riachuelo, tem duas preocupações centrais: garantir a vacinação da força de trabalho e evitar novas demissões pelo país. 

Em entrevista à EXAME na tarde desta terça-feira, 23, o executivo afirmou que o setor empresarial brasileiro tem uma enorme disposição para ajudar durante a pandemia, mas precisa vacinar sua força de trabalho quanto antes para evitar mais mortes e ajudar na retomada econômica. 

Ontem, 22, o empresário participou, ao lado de outros executivos brasileiros, de uma reunião com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para discutir o ritmo de vacinação no Brasil. O grupo pleiteia que o governo flexibilize as regras para que a iniciativa privada possa vacinar desde já parte de seus funcionários. 

Pela legislação vigente, as empresas podem comprar vacinas diretamente com as fabricantes, mas precisam doar todas as doses para o Sistema Único de Saúde (SUS) até que todo o grupo prioritário de vacinação (idosos e profissionais de saúde) esteja imunizado, o que pode chegar a 70 milhões de pessoas. Só depois disso é que a iniciativa privada poderia vacinar seus funcionários — mantendo ainda a contrapartida de doação de 50% das doses ao SUS.

Publicamente, empresários como Carlos Wizard Martins, do grupo Sforza, e Luciano Hang, da varejista Havan, também defendem a vacinação privada. Eles acreditam que, ao imunizar sua força de trabalho, estariam desonerando o SUS, que não precisaria se preocupar em garantir essas doses. Wizard, por exemplo, espera investir cerca de 5,5 milhões de reais para vacinar seus funcionários.

Confira os principais trechos da entrevista com Flávio Rocha:

Neste momento de pico da pandemia no Brasil, quais são suas principais preocupações como empresário?

Estou preocupado com a urgência da reedição da proposta de emenda constitucional (PEC) que permitiu a suspensão de contratos e redução salarial em 2020. Em reunião com o IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo), discutimos quanto é essencial que o texto saia imediatamente. Os pequenos já estavam sofrendo, mas agora até mesmo os grandes varejistas cogitam demitir. É urgente que se tenha uma definição do escalão superior do governo para entender se vamos poder suspender os contratos ou não. Sem isso, podemos gerar de um dia para o outro uma onda de desemprego muito grande. Acredito que, no ano passado, boa parte do PIB [produto interno bruto] brasileiro se manteve graças ao auxílio emergencial e às medidas para retenção dos empregos. Agora, na segunda onda, precisamos utilizar as boas práticas que aprendemos em 2020. 

Na sua visão, qual é o papel que as empresas privadas podem assumir no combate à pandemia?

A iniciativa privada tem mostrado uma enorme predisposição para ajudar, como vemos com a iniciativa “Unidos pela Vacina” da Luiza Helena Trajano. Acredito que temos um papel de complementaridade em relação ao governo para mobilizar fontes de suprimentos. É uma pena que a ideia da vacina ser comprada pela iniciativa privada tenha sido deturpada, como se o poder econômico estivesse tentando furar a fila. Em uma guerra, temos os que estão na retaguarda, feridos e idosos, e os que estão na trincheira avançada. É importante distribuir sabiamente os recursos entre ambos os grupos. Não adianta destinar todas as vacinas para a retaguarda. Se deixarmos para vacinar os que estão travando a guerra só no segundo semestre, Inês é morta. Precisamos ganhar as duas guerras, a biológica e a econômica. 

O senhor defende que as empresas possam vacinar seus funcionários agora?

A iniciativa privada se dispunha, sem mudar a destinação das doses existentes, a ir comprar vacinas para atender à sua força de trabalho e doar metade ao SUS, como contrapartida. O que não podemos esperar é a vacinação pública dos grupos prioritários estar concluída para poder começar a vacinar os quadros de funcionários. Do lado econômico, também há vidas em jogo. Em um momento de quase 300.000 mortos, ninguém com bom senso pode pensar em outra coisa que não a preservação de vidas, mas com 1% mais de desemprego, teremos 1% mais de mortalidade. 

Há disponibilidade dos laboratórios para atender aos pedidos privados?

Vamos ver essa dificuldade em um segundo instante. Mas o que percebemos é que logo vai haver uma abundância de vacinas no mercado. O número de doses aumenta exponencialmente semana a semana, de centenas de milhares para milhões. Acreditamos que a partir do fim de março seja possível pensar em comprar doses sem causar detrimento para os grupos prioritários. Queremos ajudar a ter uma retomada mais rápida no pós-pandemia, poupando vidas.

Como o Congresso recebeu o pedido de flexibilização?

A pauta está na mesa. Na nossa reunião ontem, sentimos um maior alinhamento com as casas legislativas, um espírito de cooperação. É impressionante a lista de conquistas de aprovação em apenas 45 dias de nova gestão da Câmara e do Senado. Tivemos autonomia do Banco Central, aprovação da Lei do Gás, da lei que regulamenta o mercado de câmbio. São pelo menos 20 itens aprovados em pouquíssimo tempo.

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