(Buda Mendes/Getty Images)
André Martins
Publicado em 3 de abril de 2022 às 15h57.
Última atualização em 3 de abril de 2022 às 16h39.
O Flamengo divulgou na última semana o seu balanço financeiro de 2021. O clube carioca registrou receita de R$ 1,082 bilhão no período, um recorde para um time brasileiro. O faturamento bilionário mostra para o torcedor rubro-negro que mesmo com a recente insatisfação com os resultados em campo – o Flamengo perdeu o título da Libertadores para o Palmeiras no ano passado e o Campeonato Carioca para o Fluminense no último sábado, 2 –, os números administrativos vão bem.
Além de atingir o feito do bilhão para um clube brasileiro, o time registrou o seu maior superavit da história, com R$ 177,6 milhões em 2021. O crescimento em comparação com 2019, o seu melhor ano até então, foi de 4%. Ao colocar lado a lado com os dados de 2020, ano que o rubro-negro registrou prejuízo de R$ 59 milhões, o crescimento foi de 31%. Os números divulgados batem com a projeção da consultoria especializada em marketing esportivo Sports Value, obtido com exclusividade pela EXAME.
Em carta divulgada junto com o balanço, o presidente do clube, Rodolfo Landim – que anunciou neste domingo a recusa do convite para ser presidente do Conselho de Administração da Petrobras para se dedicar ao Flamengo – comemorou o resultado em um período de incerteza com a pandemia. "Ao encerrarmos 2021 e analisarmos os resultados do ano, podemos ter a certeza de que a palavra que melhor descreve este período é superação", escreveu Landim.
O recorde bilionário do Flamengo foi possível também com a contabilização do Campeonato Brasileiro de 2020 em 2021. Por conta da pandemia, a competição estendeu o calendário do futebol brasileiro. O rubro-negro informou no documento que sem os resquícios de 2020, a receita operacional bruta seria de R$ 992 milhões em 2021. O resultado ainda sim ultrapassaria a receita bruta de R$ 950 milhões de 2019, ano dos títulos da Libertadores e do Brasileirão.
Para Amir Somoggi, da Sports Value, os números históricos representam o equilíbrio financeiro que o Flamengo atingiu: "O clube conseguiu crescer em patrocínio independentemente da pandemia".
O balanço mostrou que o Flamengo conseguiu recuperar e crescer em receita em todas as frentes. Entre as principais receitas de 2021 estão: R$ 364 milhões de direitos de transmissão e prêmios pagos pelo desempenho em competições; R$ 278 milhões de venda e empréstimo de atletas; R$ 241 milhões de patrocínios, licenciamentos, royalties e patrocínios incentivados e R$ 71 milhões de receitas com bilheteria, exploração do estádio e do programa de sócio-torcedor.
Importante reforçar que os números poderiam ser ainda melhores. Com a liberação de público nos estádios ocorrendo apenas nos últimos meses de 2021, o clube aponta uma perda acima de R$ 100 milhões em receitas de bilheteria.
Os números positivos não pararam na receita e superavit recorde, também estão na diminuição da dívida. Segundo o documento, o endividamento líquido operacional caiu de R$ 480 milhões em 2020 para R$ 263 milhões em 2021, que é o segundo menor desde 2013.
Os números na prática reforçam o tamanho do Flamengo frente a outros clubes brasileiros. Multicampeão em 2019 e sempre disputando títulos, o rubro-negro vem de uma longa reconstrução para chegar nessa patamar.
O clube com a maior torcida do país – quase 40 milhões de pessoas – estava até 2013 cheio de dívidas e envolvo em má gestão, com baixa arrecadação e falta de controle orçamentário. A virada de patamar do Flamengo começou quando um grupo de empresários liderados por Antonio Bandeira de Melo ganharam as eleições e criaram um plano de longo prazo para restruturação econômica/financeira.
Mesmo sem conquistas a curto prazo, o foco na prática de gestão empresarial foi mantido. O clube conseguiu pagar dívidas e recuperou a credibilidade como instituição. Com a maximização das receitas de marketing, patrocínio, transferências de jogadores e aumento das receitas de bilheteria, o Flamengo conseguiu formar um elenco de jogadores de alto nível para disputar títulos.
Segundo Amir Somoggi, os resultados financeiros do Flamengo são excelentes para os padrões brasileiros, mas ainda são baixos em comparação com o mundo. "O Flamengo está grande para o Brasil, mas pequeno para o mundo".
E qual seria o plano para mudar isso? Segundo estudo exclusivo da Sports Value, tudo passaria principalmente pela internacionalização da marca Flamengo e a compra do Maracanã.
Ao apontar essas soluções, Somoggi coloca números para justificar. Primeiro o grande engajamento que o time já tem nas redes sociais. O Flamengo teve em 2021 mais de 930 milhões de interações, um número muito superior em comparação com Palmeiras e Corinthians, que vêm na sequência no ranking.
Com a sua marca internacionalizada, o rubro-negro poderia mais que dobrar esse número e reverter isso em receita. "O Flamengo já tem esse grande engajamento com 40 milhões de torcedores, se conseguisse atingir o nível de reconhecimento internacional de um Real Madrid, os resultados seriam sem precedentes no futebol brasileiro".
Usar o seu grande ídolo para atingir mercados pouco explorados pelo futebol brasileiro, como Japão, também é uma das sugestões do estudo. Zico fez história no futebol japonês e ajudou no desenvolvimento do esporte no país. Ele jogou no Kashima Antlers entre 1991 e 1994, e também se tornou técnico da Seleção Japonesa entre 2002 e 2006.
O retorno dessa estratégia ocorreria, por exemplo, com a venda de transmissões de jogos e produtos licenciados para esses mercados. "O trabalho de gestão precisa ser principalmente em transformar o clube em uma marca forte", explicou Somoggi.
O estudo aponta também que o clube poderia se "apropriar do turismo", usando a marca Flamengo como uma referência de uma visita ao Rio de Janeiro. Somoggi explica que assim como acontece quando alguém visita Nova York e compra um boné do time de beisebol NY Yankees como lembrança, mesmo sem se interessar pelo esporte, o Flamengo tem o potencial para ser essa marca para a cidade do Rio e do Brasil.
A compra do Maracanã também é apontada como uma principais estratégias para o time atingir outro patamar. Com o Flamengo sendo um do campeões de público e renda, ter o estádio histórico como seu ajudaria o time a maximizar a sua receita de bilheteria e aumentaria o valor da sua marca. Para Somoggi, o rubro-negro é o único dos grandes times do Rio de Janeiro com possibilidade de aglutinar fundos de investimentos e/ou imobiliários para conseguir chamar o Maracanã de seu.
O estudo "Flamengo do Futuro" também diz que o clube precisaria ter um marketplace próprio para trazer o engajamento de milhões para uma plataforma própria – e ganhar mais com isso –; estar antenado em transformações digitais e tecnológicas, além de estar em sintonia com o ESG e causas sociais – o Flamengo informou no seu balanço de 2021 que caminha para ser um dos poucos “carbon neutral” do setor esportivo no mundo.
O clube mais valioso do Brasil, o Flamengo vale R$ 2,69 bilhões. Toda essa transformação em um time que já tem uma gestão profissional, poderia simplesmente duplicar a sua avaliação econômica.