Celular: sistema une consumidores em busca de crédito a investidores dispostos a financiá-los (KristinaJovanovic/Thinkstock)
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de novembro de 2016 às 09h25.
São Paulo - Pouco mais de seis anos após chegar ao País, o crédito online começa a se organizar para estreitar relações com os consumidores e o Banco Central.
Sete fintechs de empréstimo a pessoas físicas e jurídicas - Biva, BankFacil, Geru, Just, Lendico, Simplic e Trigg - acabam de lançar a Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD). Um dos principais objetivos é criar um manual de boas práticas e afastar "aventureiros" do segmento.
As fintechs de crédito brasileiras seguem um modelo adaptado do utilizado no exterior. Batizado de peer-to-peer lending, ou crédito pessoa-a-pessoa, o sistema une consumidores em busca de crédito a investidores dispostos a financiá-los.
Lá fora, essa ponte não tem intermediação, o que é proibido pelas regras do BC brasileiro. Aqui, as fintechs precisam estar associadas a uma instituição financeira e atuar como correspondentes bancários.
Em comum, essas companhias prometem agilizar a liberação de crédito e oferecer taxas de juros mais baixas do que a média do mercado. A análise de crédito usa ferramentas pouco usuais no sistema financeiro tradicional, como as informações públicas em redes sociais.
"O próprio Banco Central sugeriu que fosse criado um grupo unificado para debater a regulação e a atuação das fintechs de crédito", afirma Rafael Pereira, presidente da ABCD e diretor da fintech Simplic. A ideia da associação é divulgar, em breve, um consolidado das operações do setor de crédito online.
Membro de outro grupo recém-criado que reúne todos os tipos de fintechs - a Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs) -, José Prado Villela acredita que a medida tem potencial para estimular o setor. "As associações têm o papel de validar a razão pela qual as fintechs foram criadas, que é trazer melhores serviços para as pessoas".
Para Marcelo Ciampolini, também um dos idealizadores da ABCD e fundador da Lendico, que atua no crédito pessoal no Brasil e em outros seis países, as fintechs saem na frente dos bancos ao conseguir uma análise de crédito mais precisa.
"Buscamos sempre atender aquele cliente com bom perfil de crédito que, por algum motivo, não está sendo atendido pelos bancos", diz Ciampolini. Na Lendico, pouco mais da metade dos tomadores usa o crédito para quitar dívidas mais caras.
O apelo tecnológico e descomplicado ganha força em um momento de retração do crédito, mas a penetração das fintechs ainda é tímida. Na Lendico, foram emprestados R$ 40 milhões em um ano e meio, uma cifra pequena perto de seus pares no mercado bancário.
O potencial é grande: um estudo da consultoria McKinsey projeta que os serviços financeiros digitais possam, até 2025, criar até 4 milhões de novos empregos no Brasil e injetar US$ 152 bilhões na economia.
Antes disso, barreiras precisam ser quebradas. Uma pesquisa da consultoria Capgemini feita em 15 países, incluindo o Brasil, mostra que, apesar de metade dos clientes bancários nas regiões pesquisadas utilizar serviços de fintechs de vários nichos, apenas 24% dizem confiar na startup que utilizam.
Por outro lado, 37% creem mais nas empresas tradicionais. Ciampolini, da Lendico, reconhece que a ameaça de fraude está sempre no radar da companhia. "Muitos sites tentam imitar o nosso layout para induzir o consumidor a erro", afirma.
Polêmicas.
O setor de crédito online não está imune a contradições. No Brasil, a plataforma Fairplace, inaugurada em 2010, foi tirada do ar poucos meses depois por quebrar as regras do BC que proíbem a atuação sem apoio de instituição financeira.
Apresentada como símbolo dessa nova indústria desde sua estreia, em 2006, a americana Lending Club se viu envolta em uma série de polêmicas neste ano.
Seu presidente, Renaud Laplanche, foi demitido em maio após reconhecer que omitiu ter participação em um fundo em que a Lending Club estava prestes a investir. A fintech também reconheceu que vendeu uma carteira de crédito a um investidor sem respeitar as exigências de risco apresentadas por ele.
Apesar dos tropeços, Rodrigo Corumba, vice-presidente de serviços financeiros da Capgemini, vê um crescimento acelerado para essas startups nos próximos dois anos, mas diz que a confiança do consumidor só chegará com o uso. Para ele, escolher uma fintech depende do quanto seus serviços são, de fato, inovadores para o cliente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.