Negócios

Fim da Webjet deve enterrar o modelo de baixíssimas tarifas

Companhia aérea fez fama com a oferta de passagens com preço baixo - mas o modelo já não valeria para os dias de hoje

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 23 de novembro de 2012 às 18h34.

São Paulo - A Webjet teve apenas sete anos de vida. Mas é difícil dizer que eles não foram intensamente vividos. Da sua fundação até ontem - último dia em que seus aviões cruzaram os céus -, a companhia teve quatro controladores diferentes, somou 19 aeronaves à frota que começou com apenas um avião e chegou a abocanhar sozinha quase 5% do mercado.

Com o fim das atividades, o modelo de baixo custo e baixíssima tarifa não deixa de ser colocado em xeque. Afinal, a Webjet nasceu com a proposta de fisgar os consumidores pelo preço. A companhia não conseguiu, no entanto, levar o plano adiante sem sair do vermelho.

Criada em 2005 pelo advogado Rogério Ottoni, a empresa inovou ao adotar um preço único para uma mesma viagem, com bilhetes vendidos apenas pela internet. Mas a operação durou apenas seis meses, sufocada por uma guerra de passagens travada pela concorrência. Sem caixa, a Webjet foi vendida por uma pechincha a uma sociedade composta pelo grupo Águia, dono de agências de turismo, e o empresário carioca Jacob Barata, que fez fortuna no ramo do transporte rodoviário.

A partir daí, outro avião foi adicionado à sua frota, mas os investimentos não evoluíram. Em 2007, o empresário Guilherme Paulus, fundador da CVC, arrematou a companhia por 45 milhões de reais. Sob a gestão do novo dono, a Webjet cresceu e apareceu, embora nunca tenha deixado de perder dinheiro. No ano passado, a empresa finalmente passou às mãos da GOL, vendida por 70 milhões de reais.

Enquanto durou...

Nesse meio tempo, a Webjet fez fama com a oferta agressiva de passagens, muitas delas oferecidas a poucas dezenas de reais. “Era sempre a companhia mais barata do mercado, com ou sem promoção da concorrência”, afirma o criador do blog Melhores Destinos, Leonardo Marques. Todos os dias, o endereço analisa 2.000 trechos nacionais para identificar os bilhetes mais econômicos.

Os preços mudaram pouco tempo depois da companhia ser comprada pela GOL, em junho de 2011. Mas a situação do setor vinha tornando a operação insustentável há tempos.


"Nos últimos anos, as tarifas caíram pela metade. Elas nunca estiveram tão baixas, principalmente considerando o preço do petróleo e do dólar", afirmou André Castellini, da Bain & Company. Pelos valores praticados hoje, acredita o especialista em aviação, as principais companhias brasileiras já seriam low cost low fare.

Como tanto o dólar quanto o petróleo impactam diretamente o valor do combustível, que responde sozinho por 35% do custo das empresas aéreas, as companhias estariam sofrendo. Não por acaso, as líderes TAM e GOL vêm registrando prejuízo após prejuízo. Afinal, oferecer um produto mais barato pressupõe o corte extremo das despesas em um ambiente já pressionado por fatores externos.

Desde a sua criação, a Webjet bem que tentou fazer jus à proposta, introduzindo práticas como a cobrança adicional do lanchinho a bordo – cobrava, até outubro, 1 real por copo de água. Em outras frentes, foi impedida pela legislação: lá fora, o despacho de bagagem é um serviço extra em empresas como a irlandesa Ryanair. Por aqui, todas as aéreas são obrigadas a oferecer o transporte gratuito de até 23 kg por passageiro.

As companhias estrangeiras de baixo custo também costumam operar em aeroportos secundários, com taxas de operação mais em conta. No Brasil, a diferenciação não é tão grande, o que acaba fazendo com que muitas empresas disputem os mesmos aeroportos. Ganha mais, portanto, quem conseguir ser mais eficiente.

Apesar de ter ajudado a Webjet a elevar o seu faturamento com a oferta de mais voos, a compra de aeronaves adicionais não deixou de representar um fardo para a companhia perseguir o objetivo. Adquiridos de países como China e Polônia, os aviões de segunda mão tinham idade média elevada. Também consumiam mais combustível e demandavam mais gastos com manutenção. O resultado é que acabavam sendo menos eficientes.

Não por acaso, a GOL divulgou que pretende devolver toda a frota da Webjet até o final de 2013. Até o primeiro trimestre, serão 16 aeronaves entregues. A empresa também anunciou que sua oferta doméstica deverá cair entre 5% a 8% no primeiro semestre do ano que vem. Tudo para racionalizar as operações.

"O setor precisa reduzir a oferta para que as tarifas aumentem", opinou Castellini, da Bain & Company. "Os custos ficaram maiores por causa da questão cambial e a situação atual é insustentável", completou. Para os saudosos das passagens a preço de banana - muitas delas ofertadas pela finada Webjet -, restará lembrar os velhos tempos. 

Acompanhe tudo sobre:Aviaçãocompanhias-aereasEmpresasEmpresas brasileirasgestao-de-negociosGol Linhas AéreasReestruturaçãoServiçosSetor de transporteWebjet

Mais de Negócios

"Tinder do aço": conheça a startup que deve faturar R$ 7 milhões com digitalização do setor

Sears: o que aconteceu com a gigante rede de lojas americana famosa no Brasil nos anos 1980

A voz está prestes a virar o novo ‘reconhecimento facial’. Conheça a startup brasileira por trás

Após perder 52 quilos, ele criou uma empresa de alimento saudável que hoje fatura R$ 500 milhões