Nature Cycles: aplicativo afirma que é 95% confiável como método contraceptivo (Nature Cycles/Divulgação)
Clara Cerioni
Publicado em 18 de setembro de 2018 às 18h39.
Última atualização em 19 de setembro de 2018 às 10h19.
São Paulo — Aplicativo para controlar o ciclo menstrual, outro para lembrar de tomar a pílula do dia seguinte e mais um que funciona como método contraceptivo. As mulheres já podem ter um histórico e o controle de sua saúde reunidos no celular.
Nos últimos anos, a rica indústria tecnológica mundial percebeu o potencial de ferramentas voltadas para as mulheres. Isso deu origem a empreendimentos lucrativos que conquistam um público sedento por conhecer mais sobre o funcionamento do próprio corpo.
As "femtechs", como são chamadas essas empresas, receberam mais de 1 bilhão de dólares em investimentos desde 2015, de acordo com a revista americana Forbes. Segundo a publicação, em menos de uma década, esse nicho vai movimentar mais de 50 bilhões de dólares.
As agências regulatórias dos países desenvolvidos também estão impulsionando as "femtechs": recentemente, a Food and Drug Administration (FDA), agência de saúde dos Estados Unidos, aprovou o uso do aplicativo sueco Natural Cycles como método contraceptivo.
Essa foi a primeira vez que o órgão reconheceu um aplicativo para evitar a gravidez. Em 2017, a União Europeia já havia aprovado o app como "dispositivo médico".
Para a bióloga Caroline Brunetto de Farias, sócia da Ziel Biosciences, as mulheres estão percebendo cada vez mais cedo que precisam ter o domínio do próprio corpo. "O empoderamento reforçou a necessidade de avançar nas pesquisas e produtos para a saúde feminina", afirma.
Em parceria com a médica Daniela Baumann Cornélio, Caroline desenvolveu um método de autocoleta para identificar possíveis lesões no colo do útero que podem originar um câncer.
A descoberta, que recebeu um investimento de quase 1 milhão de dólares, está sendo testada em diversos países no mundo e pode diminuir os casos desse tipo de câncer, que mata cerca de 5 mil mulheres por ano no Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Nomeado de SelfCervix, o coletor foi desenvolvido no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), localizado na Universidade de São Paulo (USP).
Além do coletor, as brasileiras também projetam mais dois produtos, que estão em fase de teste. O objetivo, segundo Caroline, é que esses dispositivos sejam, em breve, distribuídos pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
Apesar de não ser um aplicativo, o produto da Ziel mostra que a ciência e a tecnologia estão dispostas a facilitar o cuidado das mulheres com a saúde.
O ginecologista Rogério Bonassi, coordenador científico da Associação de Obstetrícia e Ginecologia de São Paulo (Sogesp), explica que todos os recursos que auxiliam a mulher são válidos. "É importante ter um lugar que avisa a hora de tomar a pílula ou o dia em que há fertilidade", diz.
O especialista alerta, no entanto, que nada substitui o acompanhamento de um médico. "A tecnologia é para acrescentar e não para substituir", completa.
Na lista a seguir, EXAME reuniu alguns aplicativos que focam na saúde da mulher.
Com a premissa de servir como método contraceptivo, o aplicativo indica se a mulher está em período fértil. Ao ano, a usuária investe 79,99 dólares e recebe um termômetro basal, de duas casas decimais, para medir a temperatura vaginal.
Para controlar o ciclo menstrual, há diversos aplicativos diferentes. O Clue, que reúne mais de 5 milhões de mulheres ativas ao redor do mundo, funciona como uma agenda da menstruação. Além disso, o aplicativo exibe diversos artigos, dicas e orientações para a saúde feminina.
Voltado para mulheres que já tiveram ou que se preocupam com o câncer de mama, o Beyond The Shock reúne informações e uma rede de apoio para enfrentar a doença.
Com alarme, lembretes e contabilização das pílulas anticoncepcionais, o MyPill é uma excelente ferramenta para as mulheres que usam esse método contraceptivo. Como a administração das pílulas deve ser metódica, o aplicativo ajuda a evitar falhas e esquecimentos.