Sidney Klajner, presidente do Hospital Albert Einstein, no EXAME Fórum Saúde 2018 (Germano Lüders/Exame)
Mariana Desidério
Publicado em 12 de setembro de 2018 às 13h14.
Última atualização em 5 de novembro de 2019 às 15h33.
São Paulo – Um problema fundamental da saúde privada no Brasil é a falta de coragem para mudar e reduzir custos. Essa foi uma das conclusões do debate “Saúde privada: é possível satisfazer todos os interesses?”, que ocorreu durante o EXAME Fórum Saúde, realizado nesta quarta-feira por EXAME.
Participaram da discussão Sidney Klajner, presidente do Hospital Albert Einstein, Irene Hahn, presidente da Qualirede, e Henrique Lian, diretor de relações institucionais da Proteste. Cada palestrante fez uma apresentação de dez minutos, e depois houve um debate com perguntas sobre o tema.
É consenso geral que o custo da saúde no Brasil chegou a um patamar insustentável. O resultado disso é que o consumidor não tem mais condições de pagar pela saúde privada, e as próprias operadoras encontram dificuldades para oferecer o serviço.
“Acho que todos nós sabemos o que tem para ser feito. Mas falta coragem para dar o passo inicial, mesmo que num primeiro momento isso traga uma redução nos lucros”, disse Sidney Klajner, presidente do Hospital Albert Einstein.
Em sua apresentação, Klajner deu exemplos de como o Albert Einstein tem feito essa mudança. Uma das ações foi a implementação de uma segunda opinião para indicações de cirurgias que usam itens caros como órteses ou próteses.
“Depois que passamos a fazer dessa forma, 61% das indicações de cirurgia foram contraindicadas na segunda opinião. E nossa pesquisa de satisfação mostrou mais de 90% de satisfação tanto para os pacientes que fizeram a cirurgia quanto para os que não fizeram, o que prova que as indicações foram corretas”, disse.
No entanto, ações desse tipo mexem com o bolso. “Há um sistema perverso de remuneração que premia o exame desnecessário e o tempo de permanência do paciente. No Einstein a gente já vê uma diminuição da nossa receita por conta da redução do tempo de internação”, exemplificou Klajner.
A falta de coragem também foi citada por Irene Hahn, presidente da Qualirede, empresa que atua na gestão de planos de saúde. Em sua apresentação, Hahn citou a dificuldade que os beneficiários dos planos têm hoje de encontrar um bom médico que resolva seu problema. Por traz dessa dificuldade está a inexistência de uma avaliação do atendimento prestado pelos médicos listados nos planos.
“Parece pecado falar de mérito na saúde. Hoje eu tenho dados para dizer quais cardiologistas entregam maior valor, por exemplo. Consigo saber quais pessoas tiveram muitas intervenções após uma cirurgia, quais tiveram atendimento em cinco cardiologistas, mas acabaram fazendo uma cirurgia de urgência. E consigo saber quem fez esses atendimentos. Mas os planos não querem divulgar isso. Deus me livre falar essa equipe tem o melhor resultado”, provoca.
Para Hahn, esse é um exemplo de atitude que pode ser implementada rapidamente e que traria bons resultados para o setor. “Essa competitividade gera qualidade”, defende.
Outro ponto levantado por Hahn é a necessidade dos consultórios e hospitais usarem um sistema unificado de gestão, o que permitiria maior facilidade no cruzamento de dados e menores custos. “Se os bancos compartilham os caixas 24 horas, está na hora de compartilhar tecnologia na área da saúde, porque a tecnologia é fundamental para a mudança. Cada consultório gasta com sistema de gestão e não é pouco dinheiro. Uma alternativa é pensar em financiar um sistema em conjunto”, sugere.
Já Henrique Lian, diretor de relações institucionais da Proteste, organização de origem europeia que atua na defesa dos direitos do consumidor, lembra: “somos todos consumidores”. O paciente consome o plano, que consome os serviços do hospital que consome os serviços de um médico. Sendo assim, se há problemas no sistema, todos sofrem, afirmou.
Porém, mesmo que todos os atores estejam engajados em buscar soluções para o problema, essa é uma questão complexa, portanto, as soluções também não são simples, avalia Lian. “Esse é um tema que envolve ações de origem política e econômica. Mas também há um componente comportamental, que está tanto no paciente que vai para o hospital por qualquer motivo, quanto no médico que indica procedimentos desnecessários. Não há solução simples.”