Petrobras: processos civis, trabalhistas, tributários, entre outros, devem render à estatal um custo de 59 bilhões de dólares (Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 10 de setembro de 2015 às 20h56.
São Paulo - Os processos movidos por acionistas exigindo indenizações por perdas com corrupção e informações supostamente falsas devem dar dor de cabeça à Petrobras por bastante tempo, mas isso está longe de ser a maior fonte de estragos financeiros da estatal, segundo um levantamento obtido pela Reuters.
Segundo o estudo da consultoria europeia Management & Excellence, processos civis, trabalhistas, tributários, entre outros, devem render à estatal um custo de 59 bilhões de dólares, sem contar eventuais indenizações que a empresa venha a ter que pagar por processos movidos por investidores nos EUA, por conta do escândalo de corrupção investigado pela Lava Jato.
Para efeito de comparação, o valor de mercado da companhia era de 31,4 bilhões de dólares, segundo dados da BM&FBovespa referentes ao valor de fechamento de quarta-feira.
O valor corresponde à soma de processos que a própria empresa reconheceu como perdas prováveis no balanço do primeiro semestre. Só em causas tributárias, a maior fonte delas, a perda esperada pela estatal supera 31 bilhões de dólares.
A conta da consultoria inclui também 17 bilhões de dólares relacionados à baixa contábil feita empresa, principalmente em ativos de refino, devido a valores inflados por sobrepreços pagos às construtoras das obras.
Processo civis e trabalhistas devem responder por pouco mais de 8 bilhões de dólares em perdas.
"A governança ruim causou problemas em várias frentes para a Petrobras, não apenas a corrupção. As ervas daninhas ainda estão crescendo e o problema está longe de terminar", disse à Reuters William Cox, sócio-fundador da M&E.
Procurada, a Petrobras não comentou o assunto até a publicação desta reportagem. A Management & Excellence foi fundada em 2011 e é especializada em análise de desempenho financeiro e de governança corporativa. A empresa criou índices formados por ações de empresas com melhores desempenhos nessas esferas, em parceria com a Euromoney e a Bolsa de Hong Kong.
Em 2008, as perdas legais''esperadas pela Petrobras no fim de 2008 somavam 379 milhões de dólares, segundo Cox. Isso significa que o montante cresceu 155 vezes desde então.
Talvez uma notícia ainda pior seja o fato de que a provisão da companhia para cobrir esse tipo de perdas não só não cresceu, como mais recentemente diminuiu. O provisionamento, que era de 1,54 bilhão de dólares em junho do ano passado, caiu para 1,43 bilhão no fim do primeiro semestre deste ano.
Em geral, as provisões de grandes empresas oscilam entre 5 a 10 por cento do equivalente às perdas esperadas. O percentual da Petrobras, que era de 6 por cento no fim de 2008, caiu a 2,4 por cento em junho último, segundo a M&A.
Posto de outra forma, a perda esperada pela Petrobras corresponde a 225 por cento de sua posição de caixa atual, 26,2 bilhões de dólares.
"É o maior nível que eu já vi na vida numa empresa de grande porte, após revisar os números de centenas delas no mundo todo", disse Cox.
Para o consultor, esses números deixam em segundo plano os processos de acionistas dos quais a Petrobras é alvo nos EUA. Isso porque, situações parecidas como as que envolveram os colapsos dos grupos de energia e telecomunicações Enron e WorldCom renderam entre 6 bilhões e 7 bilhões de dólares em indenizações a acionistas.
A estatal também pode ter custos adicionais para encerrar processos por investigações criminais e civis nos Estados Unidos sobre seu papel no escândalo de corrupção. Em agosto, a Reuters publicou que essa cifra seria de ao menos 1,6 bilhão de dólares.