Minha Casa Minha Vida: linha mais popular do programa, a faixa 1, ainda é tratada pelo empresariado como dúvida (Tânia Rêgo/ABr)
Da Redação
Publicado em 14 de maio de 2016 às 10h43.
São Paulo - Diante das incertezas que rondam a chegada de um novo governo, algumas das principais companhias que operam no Minha Casa Minha Vida (MCMV) apostam na continuidade - e até na expansão - das faixas 2 e 3 do programa.
Executivos de Tenda, Direcional e MRV, companhias que apresentaram o balanço nessa semana, destacaram que interlocutores da gestão de Michel Temer no Planalto já sinalizaram apoio a esses segmentos, financiados principalmente com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
No entanto, a linha mais popular do programa, a faixa 1, ainda é tratada pelo empresariado como dúvida, devido ao peso das obras no orçamento federal.
As discussões sobre a faixa 1 não têm sido muito "conclusivas, por enquanto", afirmou recentemente o diretor presidente da Tenda e conselheiro da Abrainc, Rodrigo Osmo.
Em teleconferência com analistas e investidores, o executivo relatou que tem conversado sobre o futuro do Minha Casa com vários interlocutores do governo Temer, que indicaram continuidade do programa, mas com possíveis ajustes.
De acordo com Osmo, pode haver espaço para o empresariado contribuir com ajustes na recém-criada faixa 1,5. "É uma discussão viva e queremos influenciar nisso", apontou o diretor presidente da Tenda. Apesar de anunciada pelo governo, a nova faixa ainda não teve contratações e, por isso, teria espaço para modificações.
Entre as críticas do setor às condições atuais da faixa 1,5, está o sistema de lista para seleção dos compradores. Assim como na faixa 1, o segmento recém-criado exige cadastro de interessados na aquisição de imóveis e o governo federal seleciona os beneficiados.
O problema, de acordo com o empresariado, é que isso inibe a prospecção dos clientes, análise de crédito e o processo de repasse. Embora a faixa 1,5 também conte com subsídios, o segmento exige crédito e envolvimento da renda das pessoas na aquisição.
Contas públicas
Para alguns empresários e analistas ouvidos pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, a paralisação de contratações na faixa 1 é quase uma certeza, pelo menos até que as contas públicas se encontrem em situação mais saudáveis. Por outro lado, não se espera atrasos, como ocorreu no passado, de pagamentos em obras em andamento no segmento.
O diretor vice-presidente da Direcional, Ricardo Ribeiro Valadares Gontijo, comentou durante apresentação de resultados que acreditava que "não deveria haver nenhum tipo de mudança com relação às obras em andamento".
O executivo disse que não tem observado atrasos em pagamentos na faixa 1, que são feitos 60 dias após a emissão das notas fiscais. "Não era o formato original do programa, mas oferece previsibilidade sobre recebimentos", acrescentou.
Para o diretor copresidente da MRV Engenharia, Rafael Menin, o novo governo terá todo interesse em manter o programa. Ao citar um estudo da Abrainc, que representa as incorporadoras, o executivo disse que a cada R$ 1 gasto pelo governo com subsídio nas faixas 2 e 3 do Minha Casa, a União tem um retorno de R$ 5 com tributos.
"As faixas 2 e 3 do Minha Casa Minha Vida, do ponto de vista fiscal, são muito interessantes. Acreditamos que o governo terá todo interesse em manter o bom funcionamento do programa, que é positivo em resultado fiscal, tem função social importantíssima e geração de emprego", acrescentou.
Lançamentos
Também em teleconferência, o diretor financeiro da Tenda, Felipe Cohen, afirmou que mesmo incerteza nos bancos públicos sobre uma possível mudança de governo já havia gerado impacto no segmento de baixa renda do mercado imobiliário. O executivo afirmou que tem sentindo um rigor maior para concessão de crédito, tanto para pessoa física quanto para pessoa jurídica.
Do ponto de vista de lançamentos, esse rigor tem se refletido em prazos mais alongados para contratação de obras, uma vez que a Tenda só oferta novos empreendimentos quando tem os recursos garantidos pelos bancos.
"Tínhamos projetos já aptos para lançamento, mas o alongamento no cronograma de contratação acabou empurrando alguns projetos para o segundo trimestre", disse. "Nossa intenção é continuar crescendo, mas temos de acompanhar como o processo vai se dar na Caixa, ainda mais num momento de turbulência política."
Rafael Menin, da MRV, relatou que vem percebendo ao longo dos meses um aperto na concessão de crédito tanto na Caixa quanto no Banco do Brasil. No entanto, com o feirão de Caixa e volume um pouco maior de lançamentos, a empresa espera conseguir "equilibrar essa restrição de crédito" nos bancos públicos, acrescentou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.