Embarques de veículos vêm recuando desde o ano passado (Rafael Medeiros/Complexo de Suape/Creative Commons)
Juliana Estigarribia
Publicado em 5 de julho de 2019 às 06h00.
Última atualização em 5 de julho de 2019 às 06h00.
O crescimento acima de 10% nas vendas de veículos no Brasil, em 2019, continua insuficiente para alavancar a produção nacional de forma significativa. A crise econômica na Argentina - destino de quase 70% dos embarques brasileiros no setor - vem impactando as montadoras, o que evidencia a falta de competitividade da indústria local, justamente em um momento de discussões para o acordo entre Mercosul e União Europeia.
No primeiro semestre deste ano, os licenciamentos de veículos (incluindo caminhões e ônibus) cresceram 12,1%, para 1,31 milhão de unidades. Por outro lado, as exportações recuaram 41,5% na mesma base de comparação, para 221 mil unidades, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
“Nos últimos anos, temos feito um trabalho para buscar outros mercados além da Argentina para exportar, e agora mais ainda. Mas, no curto prazo, não é possível compensar essa queda tão forte”, afirma Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, em entrevista a EXAME.
O dirigente destaca que a indústria brasileira já exporta para outros países da América Latina como Chile, Peru, Colômbia e México, mas as montadoras vêm buscando novos mercados como África e Oriente Médio. As empresas não embarcam somente veículos, mas também motores, câmbio, eixos, entre outros componentes importantes dos chassis.
No início do ano, a associação projetou um crescimento de 9% da produção para 2019, porém, no acumulado do semestre o avanço foi pequeno, de apenas 2,8%. A Anfavea está estudando os números e pode revisar as projeções diante do cenário atual, mas por enquanto estão mantidas as previsões. No caso das exportações, a entidade prevê uma queda no ano de 28,5% (em volumes).
Acordo Mercosul x União Europeia
O tratado entre os dois blocos econômicos foi discutido por cerca de 20 anos e entrará em vigor após aprovação pelo Conselho Europeu e por parlamentares do Mercosul e da União Europeia, o que deve levar aproximadamente dois anos.
O acordo prevê que nos sete primeiros anos de vigência, o imposto de importação para veículos permanecerá em 35% no Brasil e uma cota de 50 mil unidades anuais poderá usar alíquota de 17,5% - sendo 32 mil unidades para o mercado brasileiro.
No oitavo ano, os veículos que superarem essa cota terão alíquota de 28,4%, taxa que cairá para 21,7% no nono ano. A partir do décimo ano, o imposto passa a 15%, eliminando a cota. As regras deste comércio dependem de índices de nacionalização de peças e componentes.
Para agentes do setor, é importante que o governo brasileiro faça sua parte e crie condições para aumentar a competitividade da indústria. "Investimentos em logística, redução da tributação e estímulos à educação para melhorar a qualidade da mão de obra são fundamentais para aumentar a nossa produtividade", avalia Arnaldo Brazil, diretor da Sell-Out 3 consultoria automotiva.
O presidente da Anfavea ressalta que, para exportar mais, é preciso abrir o mercado brasileiro e ampliar a entrada de peças e novas tecnologias que não são produzidas localmente. "Temos que ter acesso a esses produtos com o aumento dos acordos bilaterais", avalia Moraes.