André Florence, cofundador e CEO da Alice: Criamos um modelo que reduz desperdícios e melhora a saúde das pessoas" (Alice/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 11 de fevereiro de 2025 às 09h30.
Última atualização em 11 de fevereiro de 2025 às 10h37.
O setor de planos de saúde vive uma crise: custos médicos disparando, reajustes altos e operadoras com dificuldades para manter a sustentabilidade financeira. Mas a Alice, operadora de planos empresariais, segue na direção oposta. Apostando em atenção primária, coordenação do cuidado e tecnologia, a operadora acaba de captar US$ 22 milhões, cerca de R$ 127 milhões, para sustentar um novo salto de crescimento.
O aporte, uma extensão da rodada Série C de 2021, foi liderado pelos fundos Kaszek, ThornTree Capital Partners, Canary e Globo Ventures. Desde sua fundação, em 2019, a Alice já captou mais de R$ 1 bilhão. “Estamos bem capitalizados. Parte do investimento ficará no caixa para reforçar ainda mais nossa solidez”, diz André Florence, cofundador e CEO da Alice.
O investimento chega após um ano de forte crescimento: 42 mil membros em janeiro de 2025, R$ 350 milhões em receita e uma queda de nove pontos percentuais na sinistralidade, que agora está em 60% no corporativo.
Após ajustes no portfólio e nos canais de vendas, o número de empresas saltou de 300 para 12.000, com a base de membros crescendo de 10 mil em janeiro de 2023 para 42 mil em janeiro de 2025. Segundo Florence, esse desempenho prova que o modelo da empresa funciona. “A gente nasceu porque o modelo tradicional de saúde é insustentável. Criamos uma solução que evita desperdícios e melhora a saúde das pessoas”, afirma. Nos últimos três anos, a Alice aplicou aumentos médios de 12%, abaixo da média do mercado.
Para 2025, a meta é atingir 70 mil membros, aumentar a receita para R$ 600 milhões e manter a sinistralidade em 68%. O foco é atrair empresas com 500 a 1.000 funcionários. Para isso, a Alice pretende ampliar a força de venda e fazer campanhas de marketing direcionadas a esse público. “Nosso maior cliente há um ano tinha 100 funcionários. Hoje, temos empresas com mais de 1.000 funcionários”, diz o CEO.
A healthtech foi fundada por André Florence, Matheus Moraes e Guilherme Azevedo, todos com ampla experiência no ecossistema de startups e inovação. A ideia era transformar o setor privado de saúde no Brasil, oferecendo um modelo inovador baseado na gestão proativa da saúde e na prevenção, em vez do foco tradicional no tratamento de doenças.
Desde 2023, a operadora saltou de 300 para mais de 12 mil clientes corporativos. No último ano, as vendas para empresas cresceram 450%. O salto se deve a ajustes no modelo de negócio, incluindo um novo portfólio e mudanças na estratégia comercial.
Empresas menores, com até 30 funcionários, são atendidas por mais de 3.000 corretores parceiros. Já as empresas maiores contam com acompanhamento direto do time de vendas interno, composto por 50 funcionários -- e que deve crescer no próximo ano.
Além disso, o portfólio foi ampliado, conectando mais laboratórios, hospitais e médicos especialistas à tecnologia da Alice. Hoje, a operadora tem parceria com mais de 1.000 hospitais, 4.000 laboratórios e 10.000 especialistas e clínicas. No aplicativo, os usuários podem fazer consultas online, agendar exames e acompanhar seus resultados.
“A empresa não quer apenas um plano de saúde. Ela quer uma solução que evite reajustes imprevisíveis e mantenha seus funcionários saudáveis. Esse é o nosso compromisso”, afirma Florence.
O modelo da Alice se diferencia ao investir em atenção primária estruturada, coordenação de cuidado e tecnologia. Hoje, os usuários contam com um time em crescimento, composto por quase 50 médicos de família e mais de 15 pediatras parceiros. 70% dos membros preferem iniciar o atendimento pela equipe da Alice, o que reduz atendimentos desnecessários e melhora os desfechos clínicos.
O impacto direto desse modelo é uma redução de 30% no uso de pronto-socorro em comparação à média do mercado e a resolução de 80% dos atendimentos de forma digital, sem necessidade de deslocamento.
“Nosso trabalho não é barrar procedimentos, e sim garantir que as pessoas tenham o cuidado correto na hora certa. Quando isso acontece, o custo cai naturalmente”, explica Florence.
Outro diferencial da Alice é a previsibilidade nos reajustes. Nos últimos três anos, a empresa aplicou os menores aumentos do mercado. “O mercado pratica reajustes imprevisíveis, mas nós conseguimos entregar um serviço melhor com reajustes abaixo da média”, diz o CEO.
Além disso, a empresa conquistou um feito incomum: 100% de renovação dos contratos com mais de 30 vidas.
O novo investimento será direcionado para acelerar o crescimento da base de clientes, com foco em empresas de 500 a 1.000 funcionários, com sede em São Paulo.
Sobre novas rodadas de investimento, Florence afirma que, por enquanto, não há necessidade. “Nossa operação, junto com o caixa que temos, já é mais que suficiente para continuarmos crescendo pelos próximos anos. Essa rodada veio apenas para reforçar essa solidez”, diz.
A Alice também não pretende mudar seu modelo de atuação. Apesar de, a longo prazo, enxergar potencial nos planos individuais, a empresa seguirá focada no mercado corporativo nos próximos dois a cinco anos. “Acreditamos que o caminho para ampliar o acesso à saúde privada passa pelos planos individuais. Mas ainda não é o momento para isso”, afirma o CEO.