Repórter
Publicado em 25 de julho de 2024 às 13h19.
Nos corredores do mundo corporativo, a trajetória profissional muitas vezes segue um roteiro já delineado: ascensão gradual, conquista de cargos de liderança e a constante busca por sucesso financeiro. É difícil imaginar aqueles que desafiam essa narrativa, optando por trilhar caminhos em busca, também e sobretudo, da realização pessoal.
Este, no entanto, acabou sendo a trajetória percorrida por José Antonio Curti, ex-executivo do banco Safra que decidiu se afastar do ambiente da Faria Lima para mergulhar de cabeça no pujante mercado de transplante capilar.
Segundo censo da International Society of Hair Restoration Surgery (ISHRS), a busca mundial pelo procedimento cresceu 152% entre 2010 e 2021. O Relatório da Global Market Insights aponta que o mercado de transplante capilar foi avaliado em US$ 5 bilhões em 2022 e deve apresentar uma taxa de crescimento anual composto de 21% até 2032, com um tamanho estimado de mercado de US$ 37,5 bilhões em 10 anos.
A princípio, o destino cogitado quando se pensava em implante capilar era a Turquia. O país se tornou um dos líderes mundiais nessa modalidade de cirurgia estética. Em 2016, cerca de 65.000 estrangeiros foram a clínicas em Istambul para deixar a calvície para trás. Hoje, não é mais preciso atravessar o oceano para recolocar cabelo na cabeça – e Curti é prova disso. Com a pandemia da Covid-19, a queda dos fios, um dos sintomas da doença, começou a ser muito falada. "Foi quando o procedimento, que antes era encarado como algo meramente estético, foi entendido como uma questão de saúde", afirma.
Desde a infância, Curti sempre teve seu talento voltado para o mundo dos números. Metódico, seus pensamentos funcionavam como cálculos em uma tabela do Excel. Por isso, dificilmente se via longe do eixo entre o mundo das finanças e mundo da engenharia, curso no qual ele é formado pela USP (Universidade de São Paulo).
“Saí da engenharia por não ver tanto futuro na área que eu almejava, com os desafios que eu queria, aqui no Brasil. E, logo que saí da faculdade, já entrei para o mercado financeiro, onde eu pretendia fazer carreira”, afirma.
De analista junior, Curti foi parar na superintendência do Safra. Ele, inclusive, viu de perto as mudanças na sucessão familiar do banco e ficou cada vez mais treinado em diversas áreas. “Depois de muito tempo foi quando comecei a pensar que, treinado com uma rigidez empresarial grande, eu poderia tentar um negócio próprio”, afirma.
Assim como não tinha pensado em largar o mercado financeiro, Curti também até então não tinha pensado em empreender. No Safra, um banco conservador em termos de risco, o engenheiro aprendeu que quanto menor risco, melhor.
Por lá, aplicou melhorias no controle de fraudes de garantias de duplicatas e criou novos modelos de crédito de concessão de pessoas jurídicas baseados no faturamento futuro de cartão – chamado de "crédito fumaça em cartão". Com a crise de subprime no mercado americano em 2008, desenvolveu um novo modelo de gestão de crédito, preço e revisão do cheque especial.
“Meu perfil profissional me afastava daquilo que fosse perigoso. Meu papel era evitar o risco, que é algo inerente ao empreendedorismo no Brasil. Empreender é perigoso”, afirma.
Ao conhecer sua atual esposa, Luciana Passoni, especialista em ciências capilares no Brasil, ele começou a conhecer um mundo novo na medicina.
"Sem ter o que me ligasse à área, eu não conseguia enxergar as oportunidades que o setor oferecia em termos empresariais. Vendo de longe, achava que o setor aqui já era muito desenvolvido e maturado. Mas, depois de alguns anos casado com a Luciana, comecei a enxergar que o setor empresarial, em termos de clínicas especializadas, tinha uma falta de rigor administrativo", diz Curti.
Essa falta de rigor administrativo chocou o ex-executivo, que não entendia por que a ciência não tinha frentes de administração claras assim como era no ambiente financeiro. Foi aí que ele se sentiu desafiado. "Quem me mostrou que eu podia exercitar todo o aprendizado que tive na época do banco neste setor foi minha esposa", explica.
Luciana trabalhava como dermatologista para uma outra clínica quando desejou abrir seu próprio espaço. Na visão de Curti, esse passo era arriscado e desafiador, mas não impossível. "Sempre trabalhei em uma área de risco, não de lucro. Nessa guinada na carreira pensei muito mais no que podia dar errado do que no quanto que eu lucraria", explica.
As únicas duas coisas que ele levava em consideração era, em primeiro: tomar cuidado com uma mudança abrupta de carreira e seus riscos. E, em segundo: ser desafiado.
"Eu já tinha os fundamentos que aprendi em uma empresa familiar rígida em termos administrativos [o banco Safra] e poderia tirar proveito disso para encarar novos desafios e evirar riscos".
Hoje, Curti está à frente, junto com sua esposa, da Passoni Clinic, clínica especializada em ciências capilares que faturou R$ 14 milhões no seu primeiro ano, completo em maio de 2024. A expectativa é crescer 50% nos próximos 12 meses.
Os preços dos implantes por lá podem variar de R$ 50 mil até R$ 100 mil, se feito pelas mãos da própria doutora Luciana.
Além da Passoni Clinic, Curti também está à frente da Capitech, uma plataforma de ensino digital, a primeira do Brasil dedicada às ciências capilares, com lançamento em 18 de janeiro de 2024. Desde então, o faturamento desse projeto é de R$ 2 milhões de reais. O percentual de crescimento para o segundo semestre de 2024 é de R$ 3 milhões de reais, chegando a R$ 5 milhões de reais só no primeiro ano.
Hoje, são quatro 4 produtos. O principal é o Capiflix, com novas aulas semanais e acompanhamento digital de professores para um ensino continuado, custando 12 vezes de R$390,00.
Os demais conteúdos são cursos gravados nos congressos da Passoni Clinic, divididos entre as temporadas de 2021, 2022 e 2023. Todos custando 12x de R$99,00. Além disso, há cursos presenciais, como o Fellowship, o Hands On e o workshop de gestão com Luciana Passoni. Para estes, os valores vão desde 12 vezes de R$ 490, até 12 vezes de R$ 8.000.