O cancelamento do contrato dos Super Tucanos é um dos vários que a Embraer tem enfrentado envolvendo os Estados Unidos (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 1 de março de 2012 às 20h14.
Rio de Janeiro - Os Estados Unidos continuam interessados em adquirir uma aeronave militar da Embraer apesar do cancelamento de um contrato mais cedo nesta semana devido a problemas com documentos, disse um diplomata de alto escalão do país nesta quinta-feira.
A Força Aérea dos Estados Unidos cancelou abruptamente na terça-feira um contrato de 355 milhões de dólares de compra de 20 Super Tucanos e de eletrônicos e serviços relacionados da Embraer e da Sierra Nevada Corp, uma empresa de capital fechado sediada em Nevada.
Nesta quinta-feira o Ministério das Relações Exteriores divulgou nota em que afirma que recebeu a notícia do cancelamento com "surpresa".
"Em especial pela forma e pelo momento em que se deu. (O governo brasileiro) considera que esse desdobramento não contribui para o aprofundamento das relações entre os dois países em matéria de defesa", afirma a nota.
Os EUA comprariam o avião leve de ataques ao solo para fornecer suporte aéreo ao Exército Afegão no campo de batalha e como um turbo-propulsor para treinos de pilotos da Força Aérea Afegã. Incluindo encomendas futuras, acredita-se que o contrato poderia chegar em até 1 bilhão de dólares.
A Força Aérea dos Estados Unidos culpou "problemas na documentação" pelo cancelamento do contrato, que também está sendo contestado pela competidora da Embraer que não conseguiu a licitação, a Hawker Beechcraft.
"A Embraer é obviamente uma ótima empresa e o Super Tucano, uma ótima aeronave", disse o vice-secretário de Estado dos Estados Unidos, William J. Burns, num evento no Rio de Janeiro. "Os Estados Unidos estão agora em meio a processos internos mas continuamos interessados".
Nem a Força Aérea nem Burns deram detalhes sobre os problemas de documentação.
O cancelamento surge enquanto Burns e outros diplomatas norte-americanos buscam vender aeronaves do país ao Brasil. O F-18 Super Hornet, da Boeing, está competindo com o Rafale, da Dassault, e o Gripen, da Saab, por uma encomenda de 36 jatos para a Força Aérea Brasileira.
A Reuters informou em 12 de fevereiro, citando fontes do governo, que o Brasil "muito provavelmente" escolheria a Dassault. O cancelamento do acordo com a Embraer fez algumas figuras de alto escalão do governo da presidente Dilma Rousseff se perguntarem se a manobra é uma forma de retaliação em resposta ao fato de que a Boeing teria sido preterida, disseram autoridades à Reuters nesta semana.
Burns se apressou a negar estas preocupações. "São contratos separados", disse.
"Nós estamos convencidos de que o F-18 é a melhor das aeronaves disponíveis e um reflexo disso é que essa é a aeronave que os Estados Unidos usarão nos próximos 20 a 30 anos", disse Burns.
Como parte do acordo oferecido pela Boeing, a empresa forneceria a tecnologia para que o Brasil construa boa parte da aeronave por si só, um fator importante para políticos que buscam impulsionar a indústria aeronáutica e capacidade de defesa do Brasil.
"Nós estamos convencidos de que o pacote de transferência de tecnologia que oferecemos junto à aeronave (F-18) não tem precedentes em nossa relação (com o Brasil)", disse. "É exatamente o mesmo tipo de pacote que ofereceríamos a nossos parceiros mais próximos na Otan",
Países-membros da Otan incluem o Reino Unido, o Canadá, a França e a Alemanha.
O General Norton Schwartz, chefe da Força Aérea dos EUA, reconheceu mais nesta semana que o cancelamento do contrato com a Embraer era uma vergonha para a Força Aérea, que tem tido dificuldades com problemas de aquisição na última década. Schwartz disse que "alguém pagaria caro" se o problema de documentação não fosse um erro inocente.
Os Estados Unidos, que têm soldados no Afeganistão assim como outras nações da Otan, está lidando com o acordo para a Força Aérea afegã.
O cancelamento do contrato dos Super Tucanos é um dos vários que a Embraer tem enfrentado envolvendo os Estados Unidos ao longo dos últimos 20 anos. Nos anos 1990, o Super Tucano e a Embraer, em parceria com a empresa norte-americana Northrop Grumman, perderam a disputa para se tornarem as aeronaves de treinamento das tropas da Otan após forte pressão de rivais norte-americanos.
A Embraer vende cerca de dois terços de suas aeronaves, incluindo aviões de passageiros e executivos, nos Estados Unidos e adquire cerca de dois terços de seus motores e outros componentes de fornecedores norte-americanos, disse Burns.