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Este negócio começou como uma lojinha em São Paulo. Hoje, fatura R$ 1,2 bi com materiais elétricos

Expansão agressiva e um estoque sempre cheio ajudaram a Andra a se tornar um dos maiores nomes do setor. Agora, a empresa quer se consolidar com aquisições

Andra: o fundador Sr. Carlos ao lado do diretor financeiro Sandro Melo da Silva (Andra/Divulgação)

Andra: o fundador Sr. Carlos ao lado do diretor financeiro Sandro Melo da Silva (Andra/Divulgação)

Isabela Rovaroto
Isabela Rovaroto

Repórter de Negócios

Publicado em 18 de fevereiro de 2025 às 15h00.

Última atualização em 19 de fevereiro de 2025 às 14h31.

Nos anos 1970, a Andra era apenas uma pequena loja na Santa Ifigênia, bairro na capital paulita famoso pela venda de materiais elétricos. O fundador, Carlos Ferreira Rodrigues, conhecido como Sr. Carlos, começou como gerente de uma loja do setor. Depois de alguns anos, decidiu tentar a sorte por conta própria e abriu um negócio focado em eletricistas e pequenos comerciantes da região.

O boca a boca ajudou a Andra crescer. Quando um concorrente não tinha um produto, a resposta padrão era: “Vai na Andra que lá tem”. O bordão pegou e virou o slogan oficial. Hoje a companhia bilionária conta com 200 fornecedores ativos e 45 mil produtos com variações de cores e tamanhos, conhecidos como SKUs, na sigla em inglês. Com uma política agressiva de estoque e variedade, a empresa cresceu e o apelido do Sr. Carlos veio naturalmente: Rei dos Cabos.

Primeira loja da Andra na Santa Efigênia, em São Paulo

Primeira loja da Andra na Santa Efigênia, em São Paulo (Andra/Divulgação)

A Andra faturou 1,2 bilhão de reais no último ano, alta de 15%, e opera 12 lojas em São Paulo, além de unidades em cidades como Curitiba, Joinville e Campinas. Nos últimos anos, a empresa tem expandindo sua atuação para o mercado industrial, investiu 130 milhões de reais em novos centros de distribuição e projeta crescer 25% em 2025.

"Nosso diferencial sempre foi a alta disponibilidade de produtos. O cliente quer encontrar o que precisa na hora, e a Andra tem essa cultura de manter um estoque sempre abastecido", diz o diretor financeiro Sandro Melo da Silva.

Aquisições

A Andra acelerou seu crescimento nos últimos anos, apostando em aquisições. Em 2024, comprou duas empresas: a Eletro Maringá, para reforçar sua operação de varejo, e a Fecva, voltada para o setor industrial.

A segunda aquisição representa um novo desafio para a empresa. A Fecva atua no segmento de automação industrial, um mercado mais técnico, que exige engenheiros especializados e atendimento personalizado. “Estamos ampliando nosso mix de produtos e serviços para crescer de forma sustentável. A Fecva foi uma aquisição estratégica para entrarmos nesse segmento com mais força”, diz o diretor financeiro da Andra.

Não foi a primeira vez que a Andra seguiu esse caminho. Em 2017, a empresa comprou a Eletrosol, de Sorocaba, um negócio sem sucessão familiar. O faturamento triplicou em um ano. Agora, a estratégia é a mesma: absorver operações menores, melhorar eficiência e ganhar mercado.

Investimento em logística

A Andra também apostou na expansão da infraestrutura. Em 2024, inaugurou um novo centro de distribuição (CD) em Cajamar, com 22 mil metros quadrados e pé-direito de 14 metros. A estrutura substituiu o antigo CD de Guarulhos e aumentou em cinco vezes a capacidade de armazenamento.

O investimento total na logística, somando um novo CD em Joinville, foi de 130 milhões de reais. O impacto já é sentido. “Com o CD de Cajamar, aumentamos nossa capacidade de armazenamento e melhoramos a eficiência. Pela primeira vez, nossa estrutura logística está à frente da demanda, o que nos permite crescer ainda mais rápido”, diz Sandro.

Para 2025, a empresa planeja abrir novas lojas em Joinville e Guarulhos, além de outras três unidades que ainda não foram anunciadas. A meta é crescer 25% no ano.

O rei dos cabos elétricos

Os cabos elétricos seguem como o carro-chefe da Andra. O segmento representa metade do faturamento da empresa e exige uma operação focada em alta disponibilidade e pronta entrega. Para garantir essa oferta, a Andra mantém grandes volumes em estoque, algo que nem todos os concorrentes conseguem fazer.

"Compramos em grandes volumes para garantir preços competitivos e oferecer variedade. É por isso que ele ficou conhecido como o rei dos cabos", diz o executivo. Esse modelo ajudou a empresa a se consolidar como uma das principais fornecedoras do setor.

Além dos cabos, a Andra importa produtos e trabalha com uma marca própria de iluminação, a Ayla. A entrada no setor industrial com a Fecva reforça essa ampliação de portfólio, garantindo novos mercados e oportunidades de crescimento.

O setor de materiais elétricos é fragmentado e competitivo. No varejo, a Andra disputa espaço com empresas regionais. No setor industrial, enfrenta concorrentes internacionais, como o grupo francês Sonepar, que tem feito aquisições no Brasil para expandir sua presença.

"O mercado acompanha a construção civil. Se há muitas obras, vendemos mais. Se a indústria desacelera, o varejo compensa. Essa diversificação nos protege das oscilações", afirma Sandro.

Nos últimos anos, a Andra tem se posicionado para fortalecer sua presença em ambos os segmentos. O investimento em logística foi um passo para garantir escala e eficiência, enquanto a entrada no setor industrial busca ampliar o alcance da empresa em um mercado mais técnico e de margens maiores.

A estrutura de governança da Andra

A Andra ainda é uma empresa familiar, mas começou a dar passos para uma governança mais estruturada. Em 2021, virou sociedade anônima (S.A.), preparando-se para uma possível abertura de capital. Em 2023, criou um conselho consultivo, ainda em fase de estruturação.

Mesmo com essas mudanças, o controle segue firme dentro da família. A gestão é participativa, mas as decisões estratégicas ainda passam diretamente pelo fundador e sua equipe de confiança.

Por enquanto, o crescimento segue com capital próprio. "Os bancos querem nos emprestar dinheiro, mas o custo do capital no Brasil ainda é alto. Preferimos crescer com gestão eficiente e reinvestindo os lucros", diz Sandro.

Com 1.600 funcionários, lojas espalhadas pelo país e um forte investimento em logística, a Andra se posiciona para um novo ciclo de crescimento. A estrutura está montada para expandir, e a empresa quer aproveitar essa vantagem.

"Estamos em um momento crucial. Nossa estrutura logística está preparada para impulsionar o crescimento, e vamos aproveitar essa oportunidade", diz Sandro.

Se a aposta vai dar certo, o mercado dirá. Mas uma coisa é certa: a Andra continua comprando, investindo e dobrando a aposta.

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