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“Estamos empolgados com blockchain no país”, diz fundo investidor em startups que captaram US$ 7 bi

Com mais de 120 startups no portfólio, a Valor Capital investiu em negócios como Gympass, Gupy, Sami, Principia, Conta Simples, Arado e a Caju

Michael Nicklas, da Valor Capital: "Nós estamos vendo a tendência de adoção dessas ferramentas globais acontecendo e o Brasil sendo um dos laboratórios" (Paulo Vitale/Divulgação)

Michael Nicklas, da Valor Capital: "Nós estamos vendo a tendência de adoção dessas ferramentas globais acontecendo e o Brasil sendo um dos laboratórios" (Paulo Vitale/Divulgação)

Marcos Bonfim
Marcos Bonfim

Repórter de Negócios

Publicado em 24 de janeiro de 2024 às 12h01.

Última atualização em 25 de janeiro de 2024 às 16h53.

Com um histórico de investir em startups na América Latina e nos Estados Unidos que já captaram mais 7 bilhões de dólares, a Valor Capital está acompanhando de perto as mudanças impulsionadas pelo Banco Central brasileiro. A ideia da gestora é encontrar startups que exploram as oportunidades criadas a partir das finanças descentralizadas, como o Real Digital, e o próprio Pix.  

“Nós entraremos em uma fase muito interessante. Basicamente, vai ter um momento nos próximos anos de troca, de upgrade da infraestrutura do mercado financeiro”, afirma Michael Nicklas, sócio da Valor Capital. 

“Você vai ter tokenização de ativos, uso de blockchain e smart contracts (contratos inteligentes) para fazer transações. Veremos muitos ganhos de eficiência para o sistema financeiro brasileiro. Estamos muito empolgados com essa questão de blockchain aqui no Brasil”.

Radicado no Brasil há quase 20 anos, o americano se juntou a Cliff Sobel, ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil, e ao filho Scott Sobel, em 2013. Pai e filho tinham criado a Valor Capital como um family office em 2011, logo após Cliff deixar o posto de comando na embaixada. Três anos mais tarde, e já com o novo sócio, o negócio caminhou para a estrutura de gestora de venture capital. 

A gestora tem um modelo de investimento transfronteiriço, aportando na América Latina e Estados Unidos - ou em startups que procuram avançar por estes mercados. A tese é direcionada a empresas com a oferta de produtos para clientes corporativos - o B2B, ou, no máximo, um B2B2C.  

Neste período de quase 10 anos, a empresa captou quatro fundos para investimentos em startups em estágios iniciais e dois de crescimento, para negócios mais avançados. Os valores levantados não são revelados.

O que impulsiona a tese da Valor Capital

Na região, o Brasil é o destino de cerca de 80% dos recursos. No portfólio com mais de 120 startups investidas no total, o país responde por metade com nomes como o unicórnio Gympass e ainda Gupy, Sami, Principia, Conta Simples, Arado e a Caju.

Nicklas conta que a tese de blockchain é global e recebe investimentos desde 2014 da gestora. Nos Estados Unidos, carteira é dominada por negócios com um pé - ou dois - em finanças descentralizadas. A Valor investiu na Coinbase, por exemplo, uma casa de câmbio digital que abriu o capital no início de 2021. Mas a América Latina tem as suas peculariedades. 

"Nós estamos vendo a tendência de adoção dessas ferramentas globais acontecendo aqui e o Brasil sendo um dos laboratórios”, afirma o executivo. 

Segundo ele, essa movimentação deve fazer com que os conceitos das finanças descentralizadas, conhecidas como DeFi (Descentralized Finance), entrem para o universo tradicional do mercado financeiro. Hoje, empréstimos de criptoativos como criptomoedas e NFTs rodam por soluções de blockchain sem a necessidade de instituições intermediárias, como bancos, meios de pagamento e bolsas. 

À medida que o Banco Central abraça essas tecnologias e elas são incorporadas aos ambientes regulatórios, surgem novas oportunidades no universo das startups. Historicamente, a Valor investiu 40% dos recursos captados em fintechs, caso dos unicórnios Stone e CloudWalk.

“Agora, com o blockchain, nós achamos que grande parte do futuro das fintechs vai ser em cima dessas novas tecnologias”, afirma. 

Não por acaso, a gestora contratou há alguns meses Bruno Batavia, executivo com mais de treze anos de Banco Central e que ocupou postos-chave em discussões sobre Real Digital e outros grupos de trabalhos relacionados a ativos digitais. Na Valor, ele assumiu a posição de direção de tecnologias emergentes. 

“É uma tese forte nossa”, afirma Nicklas. No ano passado, a empresa investiu em startups como a corretora de cripto Nonco e a americana Caliza, que oferece contas digitais em dólar e pagamentos internacionais via USDC (criptomoeda indexada ao dólar).

No novo ciclo, a gestora também está observando oportunidades em startups de clima e em setores que sempre estiveram em seu radar, como educação, logística e mobilidade. Não fica de fora o mercado queridinho do momento, Inteligência Artificial Generativa. 

Como a Valor tem como tese investir em negócios asset light (com poucos ativos) e sem alta demanda de capital intensivo, os recursos são direcionados a startups que usam a tecnologia para gerar ganhos operacionais. 

Como está o caixa da gestora

O dinheiro para os investimentos atuais tem origem nos fundos 4, para as startups em estágios iniciais (de seed a série A), e no fundo 2, dedicado a startups de growth (crescimento). No primeiro caso, os cheques podem chegar a US$ 7,5 milhões e, no segundo, a US$ 15 milhões.

No ano passado, a Valor fez oito novos investimentos e 12 follow-ons. Historicamente, esse número fica entre 20 e 30 por ano, segundo números internos.Segundo o sócio, a gestora recuou os investimentos ainda em 2021, quando começou a perceber a subida desenfreada dos valuations.

Desde o segundo semestre de 22, tem feito o movimento contrário.“Nós começamos a retomar e estamos vendo bons negócios. Estamos animados com o mercado”.

Perguntado sobre o tamanho do caixa para o ciclo, ele afirma, sem revelar o montante, que a gestora tem “o suficiente para atender o mercado agora”. 

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