Estaleiro Rio Grande: junto com o Atlântico Sul e Enseada, estaleiros somam R$ 8 bilhões em dívidas (WTorre/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 10 de agosto de 2016 às 08h42.
São Paulo - A derrocada da Sete Brasil, criada para gerenciar as sondas do pré-sal para a Petrobras, as denúncias de corrupção e a escassez da demanda internacional por navios de exploração de petróleo deterioraram a situação financeira e operacional dos três estaleiros nacionais ligados a empreiteiras e que eram, até pouco tempo, símbolos da arrancada da indústria naval no País.
Juntos, Enseada, Atlântico Sul e Rio Grande estão em processo de reestruturação e renegociam dívidas com bancos e fornecedores da ordem de R$ 8 bilhões.
Para alguns especialistas em renegociação, s situações mais crítica é a do estaleiro Enseada Indústria Naval, que pertence a Odebrecht, UTC, OAS e aos japoneses da Kawasaki Heavy Industries.
A empresa construiu um estaleiro na Bahia exclusivamente para atender os contratos para fornecimento de sete navios sondas para a Sete. Desde início do ano passado, a Sete não paga os contratos, e a Petrobras não define se vai manter os contratos.
O resultado é que a Enseada terminou o ano com passivo de curto prazo a descoberto de R$ 2 bilhões. Em outubro, ainda terá pela frente os primeiros vencimentos do empréstimo de R$ 1,1 bilhão que tem com os bancos do Brasil e Caixa, que repassaram recursos do Fundo de Marinha Mercante.
A empresa tenta renegociar prazos e ganhar tempo para encontrar uma solução que gere receita. O fluxo de caixa novo passará por essa renegociação e pela manutenção dos contratos com a Petrobras no âmbito da Sete. A empresa estuda buscar receitas com produção de torres e geradores eólicos.
Projeto ambicioso criado para revigorar a indústria naval brasileira, a Sete Brasil - envolta em denúncias de corrupção, que também atingiram os estaleiros - entrou em recuperação judicial neste ano. Desde o ano passado, a companhia vinha tentando um empréstimo de longo prazo que pudesse financiar pelo menos parte das sondas que estavam na sua carteira.
A empresa chegou a tentar reduzir de 28 para 19 o total de sondas contratadas pela Petrobras para manter parcialmente a encomenda, mas não teve sucesso. Sem dinheiro, a estatal parou de pagar os estaleiros, que paralisaram as construções. O último balanço da Sete mostra que o calote com os cinco estaleiros com os quais tinha contratos (EAS, Enseada, ERG Jurong e Brasfels) foi de R$ 6 bilhões.
Para os bancos, que já tiveram de baixar a prejuízo os empréstimos que fizeram diretamente à Sete Brasil, a situação dos estaleiros também se mostra preocupante.
Só com a Ecovix, empresa dona do Estaleiro Rio Grande, os bancos estão renegociando dívidas de R$ 4,5 bilhões, sob a liderança do escritório Felsberg e do banco Brasil Plural.
Os empréstimos não estão sendo cobrados, mas a empresa tem até o fim do ano para apresentar uma solução, que deve passar pela venda a um investidor estrangeiro.
Os principais sócios da Ecovix, da empreiteira Engevix, estão hoje presos e alguns já foram condenados por corrupção em contratos com a Petrobras. Todos foram afastados do estaleiro, hoje administrado pelo Banco Plural.
A avaliação é que o fato de o estaleiro manter outros contratos diretos com a Petrobras, e não apenas os que tinha com a Sete, poderá ser um ponto positivo nas negociações.
O mesmo acontece com o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), que pertence a Camargo Corrêa e Queiroz Galvão, e já tinha contratos diretamente com a Petrobras.
O estaleiro informou que conseguiu manter cinco encomendas da Transpetro e está negociando outros sete navios, que também seriam para a Transpetro, com outros clientes. O EAS recebeu capitalização de R$ 400 milhões dos sócios neste ano, em parte para manter os contratos de financiamento. A empresa tem uma dívida de cerca de R$ 1,2 bilhão com o BNDES.
Apesar do otimismo em retomar receita, seu prejuízo foi de R$ 349 milhões em 2015, que se somaram a perdas de R$ 329 milhões do ano anterior. A empresa também tinha contratos com a Sete Brasil e foi a única a encerrar unilateralmente o contrato ao deixar de receber. Ainda existe uma disputa em torno da questão, mas, de qualquer forma, a empresa ainda precisa renegociar cerca de R$ 500 milhões com fornecedores.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.