Thiago Campos e Gilberto Derze, da Radix: a silvicultura mista permite que tenhamos mais rentabilização dos investidores (Radix/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 24 de julho de 2023 às 11h04.
Última atualização em 3 de agosto de 2023 às 16h53.
A greentech Radix começou a plantar árvores em 2016. Basicamente, a startup atua como uma empresa de reflorestamento, adquirindo áreas desmatadas e erguendo floresta onde antes havia desmatamento, pasto. Para sustentar o projeto, o negócio se apoia em crowdfunding, oferecendo cotas individuais a partir de R$ 450,00 para pequenos investidores e empresas.
A startup tem hoje uma área cultivada de 200 hectares, o equivalente a 200 campos de futebol, financiada por cerca de 950 cotistas. Desde o início, a empresa investiu no plantio do mogno africano, uma espécie nobre e com alto valor agregado - cada metro cúbico é cotado no mercado internacional em torno de R$ 4,6 mil reais.
Mas a Radix se prepara para entrar em uma nova fase e acaba de receber um aporte de R$ 1,3 milhão do Fundo Vale, criado pela gigante da mineração em 2009. O veículo de investimentos tem como uma das metas a recuperação 100 mil hectares de florestas do Brasil até 2030.
Os recursos vão apoiar na transição do negócio da Radix, com investimentos em mudas, adubos e suporte técnico. Do modelo de monocultura, com base no plantio do mogno africano, a empresa está migrando para a silvicultura mista.
Nos próximos meses e anos, a startup deve introduzir espécies exóticas e nativas em suas fazendas em Minas e, principalmente, em Roraima, onde fica a sua maior unidade. Entre elas, Teca, Castanha do Brasil, Paricá, Andiroba, Pau-rainha, Guanandi, Roxinho e Pau-de-balsa, e, em um segundo momento, Ipê, Maçaranduba, Cumarú, Angelim, Freijó e Cedro.
A diversificação de espécies contribui para a recuperação dos ecossistemas ambientais, com a deposição de nutrientes diversos. E ainda tem o potencial de equacionar o modelo de negócio da empresa: o mogno africano leva entre 18 e 20 anos para chegar ao ponto de corte e ser comercializado. Ou seja, para os investidores significa um título de longo prazo.
Apenas no começo deste ano, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) permitiu a negociação desses ativos no mercado secundário, a partir de um sandbox temporário, um projeto-piloto para criar no universo das startups um modelo parecido com o das companhias listadas em bolsas de valores.
Com as novas espécies, a startup passa a contar com opções que têm pontos de corte diferentes e mais curtos das árvores - o Pau-de-balsa e o Paricá ficam entre cinco e dez anos no sistema, respectivamente. Além disso, árvores como a castanha, cumarú e andiroba rendem outros dividendos, a partir da comercialização dos frutos e óleos.
“A silvicultura mista permite que tenhamos mais rentabilização dos investidores. Nós trabalhamos com expectativa de pagamentos recorrentes anuais a partir de 2033, por exemplo”, afirma Gilberto Derze, sócio-fundador da Radix ao lado de Thiago Campos.
A mudança também endereça outra questão: com o mogno africano, em algum ponto, a startup teria que fazer o corte raso - ou seja, derrubar a floresta. Na silvicultura, como as espécies têm diferentes pontos e idade de corte, isso não acontece. "Conforme vamos tirando árvores do sistema, nós vamos replantando essas árvores", diz Derze.
Além da captação com o Fundo Vale, a startup está com uma nova oferta de crowdfunding, a nona desde que entrou no mercado - a Radix foi uma das primeiras a trabalhar com essa modalidade de captação no país. O objetivo é captar R$ 1,3 milhão, valor que será usado para o manejo do sistema de silvicultura.