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Esta empresa do interior de SP vai faturar R$ 250 milhões no setor em que o Brasil é líder global

Indústria química especializada em higienização industrial atende gigantes como JBS e Marfrig e mira expansão para Austrália e Europa

Augusto Milani, da Newdrop: ""Já atendemos setores além da carne, como a Cacau Show. Mas queremos ampliar isso" (Divulgação)

Augusto Milani, da Newdrop: ""Já atendemos setores além da carne, como a Cacau Show. Mas queremos ampliar isso" (Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 4 de fevereiro de 2025 às 08h12.

Última atualização em 4 de fevereiro de 2025 às 09h54.

Segurança alimentar é um dos pilares da indústria de alimentos. Sem processos rigorosos de higienização, o risco de contaminação pode levar a recalls milionários e danos à saúde pública.

No Brasil, um dos maiores exportadores de proteína animal do mundo, o controle sanitário é um dos mais rígidos do setor — e uma empresa nacional tem ganhado espaço global nessa área.

A Newdrop, indústria química especializada em higienização industrial, nasceu há mais de 25 anos dentro de um frigorífico em Lins, interior de São Paulo. O que começou como uma necessidade interna virou um negócio independente, comprado em 2012 pelos sócios Augusto Milani, Evandro Miessi e Rogério Camara.

Desde então, a empresa cresceu 700% e hoje atende gigantes como JBS, Marfrig, Minerva e Seara, além de atuar em setores como lácteos e bebidas. A meta para 2025 é faturar algo na casa dos 250 milhões de reais. 

A empresa fornece produtos químicos para a limpeza de indústrias, garantindo a segurança dos alimentos processados. Seu diferencial está no suporte técnico: além dos produtos, ensina clientes a aplicar corretamente as soluções, reduzindo riscos sanitários. "Nosso trabalho não termina na venda. Acompanhamos os clientes para garantir que os processos atendam aos padrões mais exigentes", afirma Milani.

Nos últimos anos, a Newdrop acelerou sua expansão internacional. Com fábricas no Brasil e nos EUA, já opera no México, Austrália e Reino Unido. Agora, quer quadruplicar o faturamento internacional até 2026 e aumentar a participação no setor global de proteína animal.

"Estamos onde a indústria de alimentos precisa de segurança sanitária. O próximo passo é consolidar essa presença e expandir para outros segmentos", diz Milani.

Qual é a história da Newdrop

A história da Newdrop poderia ter sido diferente. Até 2012, a empresa era apenas uma divisão de sanitização de um frigorífico de Lins. Tudo mudou quando o grupo controlador vendeu o frigorífico e decidiu repassar negócios paralelos. Milani, Miessi e Camara, então executivos desse grupo, viram uma oportunidade.

"Nós já conhecíamos o setor e entendíamos a importância da segurança alimentar", afirma. "Quando soubemos que a Newdrop estava à venda, decidimos assumir o desafio".

O trio negociou a compra e, com a aquisição fechada, deixou a vida de executivo para se tornar empreendedor.

Os primeiros anos foram focados em reestruturação. A empresa precisava se posicionar como independente e conquistar novos clientes. "Muitos ainda nos viam como um braço do antigo frigorífico. Nosso primeiro passo foi mostrar que podíamos atender todo o mercado", afirma o empresário.

Para acelerar esse processo, a Newdrop cresceu de duas formas: organicamente, conquistando novos clientes, e via aquisições. Em 2014, comprou uma empresa do setor químico. Em 2017, adquiriu um player forte em bebidas, ampliando sua atuação. Em 2020, fez uma nova compra no Brasil. "Cada aquisição foi estratégica para complementar nossa atuação e fortalecer nossa presença", afirma.

Hoje, 3 a 4 quilos de cada 10 quilos de carne processada no Brasil passam por higienização feita com produtos da Newdrop. Mas a ambição dos sócios sempre foi maior.

Como é a aposta na internacionalização

A expansão global começou de forma estratégica. Em 2019, os sócios perceberam que os clientes brasileiros estavam crescendo mais fora do Brasil do que dentro.

"Se nossos clientes estavam expandindo suas operações para o exterior, fazia sentido irmos junto", diz Milani.

O plano foi interrompido pela pandemia, mas retomado em 2021. Milani se mudou para os Estados Unidos para liderar a nova operação. O primeiro desafio foi entender o mercado americano, que operava de forma diferente: muitas empresas terceirizavam a aplicação dos produtos, enquanto no Brasil a higienização era feita internamente pelos frigoríficos.

A solução veio de um fator inesperado. Casos de trabalho infantil em empresas terceirizadas nos EUA levaram o setor a rever processos.

"O mercado percebeu que precisava mudar. A referência passou a ser o modelo brasileiro, em que a própria indústria faz a sanitização. Isso abriu espaço para nossa entrada", afirma Milani.

Hoje, a Newdrop tem uma fábrica nos EUA e já atende o mercado mexicano a partir da operação americana. Além disso, fechou parcerias na Austrália e está negociando uma joint venture na Europa.

"Nossa estratégia é estar presente nos principais mercados de proteína animal do mundo: Brasil, EUA, Austrália e Europa. Depois, pensamos na China", diz Milani.

Quais são os desafios e as oportunidades

A internacionalização trouxe desafios. Um dos principais é a regulação sanitária, que varia de país para país.

"No Brasil, respondemos à Anvisa. Nos EUA, à EPA. Cada mercado tem exigências diferentes e precisamos garantir que nossos produtos atendam todas elas", afirma o empresário.

Outro desafio é a concorrência. O setor global de sanitização industrial é dominado por duas gigantes multinacionais: Ecolab e Diversey.

"Competimos com elas no Brasil e agora nos mercados internacionais. Mas nossa vantagem é o conhecimento profundo da proteína animal, um setor onde o Brasil é referência", diz.

Além disso, crescer nesse setor exige investimento pesado. "Esse é um mercado com margens altas, mas com múltiplos de aquisição muito elevados. Precisamos equilibrar crescimento orgânico e oportunidades de M&A", diz Milani. O crescimento orgânico ainda representa cerca de 75% da expansão da empresa.

Quais são os próximos passos

Para os próximos anos, a Newdrop planeja manter o ritmo de crescimento de 20% ao ano e consolidar sua presença global. O faturamento estimado para 2025 é de 250 a 260 milhões de reais.

Além da expansão internacional, a empresa quer entrar com mais força em lácteos, suco de laranja e chocolates. "Já atendemos setores além da carne, como a Cacau Show. Mas queremos ampliar isso, replicando nosso modelo em novas indústrias", diz Milani.

Outro foco é a sustentabilidade. A Newdrop investe em resinas recicladas, tratamento de resíduos e parcerias ambientais. "Nosso setor exige inovação contínua. Estamos sempre buscando novas formas de reduzir impacto ambiental sem comprometer a eficiência", finaliza.

Com um crescimento acelerado, presença global e estratégia bem definida, a Newdrop se consolida como um dos principais nomes brasileiros na sanitização industrial. O plano agora é seguir expandindo — sem perder a eficiência que trouxe a empresa até aqui.

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