Douglas Ludwig, da Ludfor: “Ou nos reinventávamos, ou estávamos fadados ao fracasso”. (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de Negócios
Publicado em 12 de agosto de 2024 às 12h03.
Às vezes, é preciso um chacoalhão para fazer um negócio decolar.
Foi bem isso que aconteceu com a Ludfor, uma empresa de gestão de energia elétrica criada em 1995 em Bento Gonçalves, cidade da serra gaúcha a 120 quilômetros de Porto Alegre.
Na primeira metade dos anos 2000, o negócio ficou a um triz de fechar. Houve um momento em que a energia foi cortada por falta de pagamento.
O chacoalhão veio com uma nova oportunidade de negócio: o mercado livre de energia. Nesta modalidade, o contrato de fornecimento acontece diretamente entre a geradora e o cliente final, sem passar por uma concessionária.
Por volta de 2006, a Tramontina, metalúrgica com faturamento bilionário da Serra, procurava por um novo prestador de serviço para trabalhar no mercado livre de energia. A Ludfor se prontificou. Foi atrás, aprendeu sobre o assunto e mudou seu modelo de negócio.
Hoje, são mais de 1.800 clientes e 4.000 unidades consumidoras. No ano passado, o negócio faturou 307,5 milhões de reais, um crescimento de 70% em relação ao ano anterior. A busca maior das empresas pelo mercado livre influenciou nos números, afirma o CEO da empresa, Douglas Ludwig.
Com os bons resultados, a Ludfor virou um Negócio em Expansão, selo atestado pela EXAME às empresas que estão crescendo em receita de um ano para outro. A gaúcha ficou em quarto lugar na categoria de empresas que faturam entre 300 e 600 milhões de reais. O ranking é feito em parceria com o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME).
A história da Ludfor vem de duas famílias diretamente ligadas à eletricidade, os Ludwig e os Foresti (daí o nome Ludfor, as três primeiras letras de cada sobrenome).
Por parte de pai, a família de Douglas está há três gerações trabalhando com energia. O seu avô e seu pai eram funcionários da distribuidora CEEE, hoje controlada pela Equatorial. Por parte de mãe, a família é uma das pioneiras na construção de pequenas usinas elétricas do Rio Grande do Sul.
Quando o pai de Douglas decidiu criar a Ludfor em 1995, a grana era curta. A primeira sede da empresa foi no porão da casa do sogro, avô de Douglas.
“De 1995 até 2006, o trabalho foi muito na parte de assessoria e consultoria para projetos elétricos”, diz Ludwig. “Quando entrei na empresa em 2005, éramos quatro pessoas”.
À época, a situação não estava fácil para a Ludfor. “Nós vendíamos o almoço para pagar o jantar”, afirma Douglas. A empresa chegou a ter a energia elétrica cortada por falta de pagamento.
“Ou nos reinventávamos, ou estávamos fadados ao fracasso”.
A reinvenção veio com uma mãozinha de uma gigante da serra gaúcha, a Tramontina. Em 2006, a metalúrgica procurava um novo prestador de serviço para ajudá-la a entrar no mercado livre de energia. Nesta modalidade, os contratos de uso de energia são feitos diretamente entre o cliente e a geradora, sem passar por uma concessionária.
“Eles nos procuraram, falamos que não fazíamos, mas que estávamos dispostos a fazer”, diz Douglas. “A Tramontina bancou o dinheiro para irmos aprender sobre o assunto, apostou em nós, e aprendemos como é que faz”.
A partir daí, a empresa foi crescendo, ainda em um ritmo lento. As coisas começaram a mudar, para melhor, a partir de 2015, quando o mercado livre de energia começou a ganhar mais escala nas agendas dos empresários brasileiros. Dos quatro funcionários que tinham em 2005, a empresa tem 215 agora.
Hoje, a Ludfor fatura em três frentes:
Hoje, a Ludfor atende 1.850 empresas, com cerca de 4.400 unidades consumidoras. Em 2024, deve crescer algo em torno de 25% em relação a 2023. Cerca de 60% dos clientes são gaúchos, e o desastre climático que acometeu o Estado no primeiro semestre pode ter algum impacto - apesar de todas empresas demandarem energia.
Aliás, durante o momento mais grave das enchentes, a Ludfor ligou para todos os clientes para saber como poderia ajudar. Também se prontificou a reajustar contratos de clientes atingidos pelas cheias.
O crescimento nos próximos anos também está apoiado na construção de novas usinas – 23 ao total, espalhadas pelo Brasil, principalmente do Sul ao Centro-Oeste. Todo dinheiro do lucro da empresa é revertido para novas usinas.
“Algumas já estão em andamento, outras estão esperando para começar a serem construídas”, diz Douglas. “Para começar um projeto, analisamos a taxa interna de retorno, aguardamos o licenciamento ambiental e a capacidade financeira para poder fazer”.
Atualmente, o maior faturamento vem da mesa de comercialização, mas em questão de margem, a gestora sai na frente. No futuro, com as novas usinas, a geradora de energia também deve aumentar sua fatia na receita do grupo.
Douglas atribui boa parte do crescimento, que colocou a empresa na quarta posição do ranking EXAME Negócios em Expansão 2024 na categoria de 300 a 600 milhões de reais, a uma cultura azeitada, com processos bem definidos e uma equipe bem engajada.
“No ano passado, entraram 550 novos clientes, e perdemos apenas cinco clientes, e nossa equipe foi atrás para entender os motivos desses cinco negócios saírem da Ludfor”, diz Douglas. “Trabalhamos muito para cativar o cliente, escutá-lo e surpreendê-lo positivamente, e para isso precisa ter uma equipe muito boa”.
Se os planos seguirem assim, a Ludfor estará novamente no ranking em 2025. Novas filiais devem ser abertas pelo país ao longo do ano. Aquisições também estão no radar. Das 23 usinas futuras, 11 já estão em construção. E contratações de profissionais do mercado também estão fortalecendo a área de trade.
Além dos três pilares já trabalhados, a empresa também vai atuar em novas frentes. Ela acaba de lançar um segmento para comercializar energia feita no sistema de geração distribuída. “Destinamos o capital inicial de 10 milhões de reais para ela começar a trabalhar com as suas próprias pernas. E aí ela vai trabalhar no segmento de geração distribuída, buscando usinas, consumidores e fazendo financiamento para as usinas”.
O ranking EXAME Negócios em Expansão é uma iniciativa da EXAME e do BTG Pactual. O objetivo é encontrar as empresas emergentes brasileiras com as maiores taxas de crescimento de receita operacional líquida ao longo de 12 meses. Em 2024, a pesquisa avaliou as empresas brasileiras que mais conseguiram expandir receitas ao longo de 2023.
A análise considerou os negócios com faturamento anual entre R$ 2 milhões e R$ 600 milhões. Após uma análise detalhada das demonstrações contábeis das empresas inscritas, a edição de 2024 do ranking foi lançada no dia 24 de julho.
São 371 empresas de 23 estados brasileiros que criam produtos e soluções inovadoras, conquistam mercados e empregam milhares de brasileiros. Conheça o hub do projeto, com os resultados completos do ranking e, também, a cobertura total do evento de lançamento da edição 2024.