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Essa startup prepara a volta dos aviões comerciais supersônicos – e está com 130 aeronaves no radar

Startup pretende construir avião que voará a cerca de 2.100 quilômetros por hora

Boom: investimentos ultrapassam 700 milhões de dólares e uma fábrica em construção na Carolina do Norte (Boom/Divulgação)

Boom: investimentos ultrapassam 700 milhões de dólares e uma fábrica em construção na Carolina do Norte (Boom/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 2 de fevereiro de 2025 às 09h01.

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Viajar de Nova York a Paris em apenas 3 horas e 30 minutos. Esse era o tempo de voo do Concorde, o lendário avião supersônico que cortava os céus até ser aposentado em 2003.

Agora, mais de 20 anos depois, uma startup quer trazer essa realidade de volta – e com um detalhe crucial: promete fazer isso de forma mais acessível e eficiente do que nunca.

A Boom Supersonic, fundada em 2014 e baseada em Denver, nos Estados Unidos, aposta na volta dos aviões comerciais supersônicos. A empresa deu um passo decisivo nessa missão na última semana, quando seu protótipo XB-1 rompeu a barreira do som pela primeira vez. Foi o primeiro jato civil desenvolvido de forma independente a atingir essa marca desde o Concorde.

O plano da Boom é ambicioso: construir o Overture, um avião comercial que voará a Mach 1.7 (cerca de 2.100 km/h), reduzindo drasticamente o tempo de viagens internacionais.

Grandes companhias já apostam na ideia. A United Airlines encomendou 15 aeronaves, com opção para mais 35. American Airlines e Japan Airlines também fecharam acordos, elevando as encomendas e intenções de compra para mais de 130 unidades.

"O sucesso do XB-1 mostra que estamos no caminho certo", afirmou Blake Scholl, CEO e fundador da Boom. "Mas agora é hora de escalar essa tecnologia para trazer o supersônico de volta à aviação comercial."

A meta da empresa é começar a fabricar o Overture em 2025 e realizar o primeiro voo em 2026. Se tudo correr como planejado, passageiros poderão embarcar em voos supersônicos comerciais já em 2029.

Como será o Overture?

O Overture será um avião com capacidade para 64 a 80 passageiros, pensado para rotas transoceânicas. A Boom projeta um alcance de 7.871 km, o suficiente para conectar cidades como Miami e Londres ou São Paulo e Lisboa em menos de cinco horas.

A estrutura do avião será feita com compósitos de fibra de carbono, garantindo leveza e aerodinâmica avançada. Diferente do Concorde, o Overture terá quatro motores Symphony – desenvolvidos pela própria Boom – e um design pensado para reduzir o impacto sonoro ao ultrapassar a barreira do som.

Outro diferencial é a eliminação do nariz móvel, presente no Concorde para facilitar a visibilidade dos pilotos. Em vez disso, o Overture adotará um sistema de visão aumentada para pouso e decolagem.

Desafios pelo caminho

Apesar dos avanços, o caminho até o retorno dos voos supersônicos comerciais ainda tem obstáculos. O principal é a regulamentação. Hoje, os Estados Unidos proíbem voos civis supersônicos sobre terra por causa do ruído. A Boom pretende contornar isso operando em velocidade subsônica sobre áreas habitadas e acelerando apenas sobre o oceano.

Outro desafio é o custo operacional. O Concorde teve sua carreira encerrada, entre outros motivos, pelos gastos elevados com combustível e manutenção. A Boom promete um modelo mais eficiente, utilizando combustíveis sustentáveis para reduzir custos e o impacto ambiental.

A questão técnica também pesa. O desenvolvimento de motores supersônicos é complexo e caro. Inicialmente, a Boom planejava trabalhar com fornecedores tradicionais, mas em 2022 decidiu desenvolver o motor Symphony internamente.

"As pessoas nos chamaram de loucos, mas percebemos que era a única maneira de termos controle total da tecnologia", disse Scholl.

O futuro da Boom e da aviação supersônica

Com investimentos que já ultrapassam 700 milhões de dólares e uma fábrica em construção na Carolina do Norte, a Boom Supersonic se posiciona como líder no renascimento da aviação supersônica comercial. A empresa enfrenta concorrência de startups como Spike Aerospace e Hermeus, além de projetos experimentais da NASA.

O sucesso dos testes do XB-1 colocou a Boom um passo à frente nessa corrida. Mas a aposta da empresa vai além da velocidade. "Não é só sobre voar rápido, é sobre conectar o mundo de forma mais eficiente", diz Scholl.

Se a startup cumprir suas promessas, o som do boom supersônico poderá voltar a ser parte do dia a dia da aviação comercial – desta vez, para ficar.

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