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Esperava francamente que tivesse competição, diz presidente da Petrobras

Megaleilão da cessão onerosa do pré-sal renderá apenas 66% do previsto, cerca de R$ 69 bilhões, e foi considerado frustrante

Roberto Castello Branco: "Estamos construindo o futuro da Petrobras. Uma companhia de petróleo precisa de reservas e, para isso, é fundamental o investimento em exploração" (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Roberto Castello Branco: "Estamos construindo o futuro da Petrobras. Uma companhia de petróleo precisa de reservas e, para isso, é fundamental o investimento em exploração" (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 6 de novembro de 2019 às 14h16.

Última atualização em 6 de novembro de 2019 às 14h48.

São Paulo — O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, disse que a estatal esperava que houvesse maior competição no megaleilão do excedente da cessão onerosa, realizado nesta quarta-feira, 6, no Rio. A estatal foi a principal participante da concorrência, arrematando sozinha o campo de Itapu e em consórcio com companhias chinesas o campo de Búzios, área mais valiosa em disputa.

"Não cabe a mim explicar isso (a falta de disputa). Esperávamos francamente que houvesse competição. Nós gostamos da competição e estamos preparados para isso", afirmou o presidente da estatal.

Castello Branco minimizou o fato de a Petrobras ter entrado praticamente sozinha nessas áreas, o que significará um peso maior em termos de investimentos pela companhia.

Ele disse que a antecipação jogaria para frente a curva de produção da Petrobras, que teria que abrir espaço para as outras petroleiras produzirem. Isso implicaria em perda financeira que teria que ser restituída à Petrobras depois. "Tendo 90% do consórcio minimiza esse problema", disse em referência a Búzios.

A Petrobras teria 40 anos para produzir os 5 bilhões de boe da cessão onerosa. Como as petroleiras não investiriam num projeto que só começasse a dar retorno daqui a quatro décadas, o governo propôs que elas comprassem da estatal o direito de antecipar a produção. A previsão era que essa compensação fosse bilionária, ainda maior que o bônus de assinatura, mas na prática só as chinesas CNOOC e CNODC entraram com 5% cada ao lado da estatal em Búzios.

O executivo afirmou que a compensação por investimentos e antecipação é uma discussão privada e que ainda não foi definida junto às parceiras asiáticas.

Sobre as áreas de Sépia e Atapu, que não receberam ofertas no leilão, Castello Branco disse que elas não são tão interessantes para a estatal quanto Búzios e Itapu. "Vamos investir naqueles ativos em que podemos obter o máximo de retorno para a companhia."

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), avaliou que o frustrante resultado do leilão não deve impactar a análise das propostas enviadas pelo governo ao Congresso. Para ele, no entanto, a falta de interesse do setor privado foi muito ruim.

"É uma informação negativa. Nossa expectativa era de que o setor privado tivesse maior interesse", disse. O megaleilão funcionaria como um indicador das empresas que vieram para ficar no Brasil. O desempenho, porém, foi abaixo do esperado. O bônus total ficou em R$ 69,96 bilhões, sustentados principalmente pelas ofertas da Petrobrás.

Já o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e o diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Décio Oddone, classificaram o megaleilão como um "sucesso".

"O dia é marcante, simbólico e de muito sucesso. O valor arrecadado em leilão no ano já soma R$ 79 bilhões. O bônus pago até hoje corresponde a 40% do total pago no mundo. Estamos no caminho certo. Os leilões são motivo de orgulho", disse o ministro Bento Albuquerque.

Albuquerque destacou a complexidade regulatória do leilão e argumentou que o valor total pago em bônus, o maior já registrado no mundo, demonstra que o "governo está no caminho certo" e tomou as medidas corretas para viabilizar a licitação.

Maia avaliou que o sistema de partilha tende a atrapalhar um pouco o interesse do setor privado, mas destacou que este não deve ser o principal motivo para o resultado ter sido abaixo do esperado.

Ele lembrou também que os prefeitos e governadores devem sentir os efeitos da distribuição menor de recursos da cessão onerosa. "Eles tinham uma expectativa de receber até 28 de dezembro o porcentual na ordem dos 30% da parte do governo federal", disse.

Maia destacou ainda que essa distribuição só foi possível porque o Congresso aprovou em setembro a destinação de parte dos recursos para os entes federados.

Consolidação

Protagonista do megaleilão do excedente da cessão onerosa, com a aquisição dos campos de Búzios e Itapu, a Petrobras comemorou o resultado apesar da falta de concorrência. Castello Branco disse estar muito feliz e que a aquisição do campo de Búzios consolida a liderança global da Petrobras na exploração e produção de petróleo em águas ultraprofundas.

"Estamos construindo o futuro da Petrobras. Uma companhia de petróleo precisa de reservas e, para isso, é fundamental o investimento em exploração. Graças a anos sem leilões de blocos de petróleo e ao desmonte que a companhia sofreu no passado, ela foi obrigada a reduzir dramaticamente seus investimentos em exploração", disse ele.

Segundo Castello Branco, Búzios é um "ativo de classe mundial", com substanciais reservas, baixo custo de produção e baixo preço de equilíbrio (com alto retorno sobre o capital investido). A Petrobras já produz 600 mil barris diários de óleo equivalente (boe) na área. "É um ativo em que a Petrobras é o dono natural, capaz de extrair o maior retorno possível", afirmou.

Desalavancagem

O presidente da Petrobrás afirmou que o campo de Búzios exigirá um substancial volume de recursos, mas garantiu que a companhia está financeiramente preparada para arcar com esses investimentos. "Continuamos comprometidos com a meta de desalavancagem, de ao final de 2020 alcançarmos uma relação dívida líquida/Ebitda de 1,5 vezes", disse.

O comprometimento dessa meta era uma das preocupações do mercado em relação à participação da Petrobras na concorrência.

Castello Branco destacou que a Petrobras está fazendo uma gestão ativa de portfólio, se desfazendo de ativos considerados menos estratégicos e de menor retorno, com isso, realocando recursos em ativos que são seu carro-chefe e no abatimento da dívida. "Mesmo com esse investimento (em Búzios), a Petrobras não acabará o ano com elevação de dívida. Não haverá um dólar de aumento de dívida", disse, destacando a disciplina na alocação de capital como um de seus objetivos.

Queda das ações

Questionado sobre a queda das ações da Petrobras logo após o resultado do megaleilão da cessão onerosa, Castello Branco afirmou que é muito difícil explicar movimentos de mercado no curtíssimo prazo.

O megaleilão da cessão onerosa das áreas do pré-sal movimentou as ações da Petrobras no período da manhã. Após abrirem em alta superior a 2%, os papéis viraram para queda de 4%, em movimento de forte oscilação. "Provavelmente uns quiseram especular. O que importa é a tendência", comentou ele, na saída do leilão.

O executivo disse que a petroleira está trabalhando para entregar valor ao acionista, inclusive o Estado brasileiro, que é seu controlador. "Acreditamos ter feito a coisa certa nessa direção", destacou.

Ainda sobre a baixa participação de companhias estrangeiras no leilão, Castello Branco comentou que o Brasil tem muitas complexidades na questão da regulação da indústria do petróleo que devem ser discutidas. "O Brasil tem que ser mais simples. Menos instabilidade, mais desenvolvimento econômico", acrescentou.

 

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