Negócios

Escândalo testa capacidade de JBS e BRF lançarem IPOs no exterior

Na última sexta-feira, a PF citou como envolvidas na operação Carne Fraca unidades de JBS e da BRF

Carne: 4 pessoas diretamente envolvidas em ambas as operações de JBS e BRF disseram que as empresas iriam avançar com os IPOs (Thinkstock/Thinkstock)

Carne: 4 pessoas diretamente envolvidas em ambas as operações de JBS e BRF disseram que as empresas iriam avançar com os IPOs (Thinkstock/Thinkstock)

R

Reuters

Publicado em 22 de março de 2017 às 17h39.

São Paulo - As duas maiores processadoras de alimentos do Brasil estão se esforçando para restaurar a confiança na qualidade de seus controles internos, enquanto seguem com planos de listar unidades no exterior apesar do escândalo sobre suposta propina a fiscais sanitários, que levou à suspensão de exportações de carnes do país para vários mercados.

Na última sexta-feira, a Polícia Federal citou como envolvidas na operação unidades de JBS, maior processadora de carne bovina do mundo, e da BRF, maior exportadora mundial de carne de frango.

O escândalo veio à tona poucas semanas antes de JBS e BRF lançarem ofertas públicas iniciais de suas unidades com sede no exterior JBS Foods International e One Foods Holdings.

As ofertas, que podem movimentar conjuntamente até 2,5 bilhões de dólares, miram acelerar os planos de expansão global das empresas.

Embora JBS e BRF tenham negado as acusações, a imagem da indústria brasileira de carne sofreu um duro golpe. As exportações de carne do país caíram de 63 milhões de dólares em média por dia antes do escândalo para 74 mil na terça-feira.

A China, maior consumidor da carne brasileira, suspendeu todos os embarques de carne do país no fim de semana, com Hong Kong seguindo o movimento na terça-feira e a União Europeia suspendendo as compras de quatro instalações no Brasil.

O Japão suspendeu importações de frango das fábricas citadas.

No Brasil, as três principais redes de supermercados do país, GPA, Carrefour e Walmart, anunciaram medidas que incluem retirada de produtos de suas lojas e bloqueio de novas compras.

Quatro pessoas diretamente envolvidas em ambas as operações de JBS e BRF disseram que as empresas iriam avançar com os IPOs, enquanto buscavam reforçar a confiança dos investidores com uma campanha argumentando que a "Operação Carne Fraca" descreveu fatos equivocados sobre seus padrões de segurança.

A JBS não tem nenhuma intenção adiar o IPO de pelo menos 1 bilhão de dólares da JBS Foods em Nova York, que espera finalizar em maio ou junho, disse uma das fontes.

A BRF continua a analisar se a venda de uma participação na One Foods será através de um IPO em Londres ou para um grupo de investidores em uma colocação privada, na qual espera levantar 1,5 bilhão de dólares, disse outra fonte.

Nenhuma das empresas sentiu ainda alguma repercussão negativa dos potenciais investidores, disseram as fontes. Representantes da JBS e da BRF não comentaram o assunto.

Buscando clareza

O escândalo reduziu em 2,2 bilhões de dólares o valor e mercado de JBS e BRF desde sexta-feira, segundo dados da Thomson Reuters.

De acordo com dois gestores de recursos em Nova York e três gestores em Londres, investidores devem buscar mais esclarecimento sobre os fatos em torno da operação Carne Fraca.

"As perspectivas futuras para um negócio como este, em qualquer lugar, não serão claras até que as partes envolvidas removam a pressão existente na questão, seja suspensões ou supervisão mais rigorosa", disse Nick Field, que ajuda a administrar 26 bilhões de dólares em mercados emergentes para a Schroeder Investment Management em Londres.

Field, como os outros gestores de fundos, não quis dizer se sua empresa estava pensando em participar dos IPOs.

As duas empresas e os grupos lançaram ações de relações públicas para reparar a imagem do setor. A BRF tem negado as alegações da Polícia Federal de que misturou papelão em seus produtos e disse que não há evidências de que vendeu carne estragada.

A JBS disse que todas as unidades exportadoras no Brasil seguem rigorosos procedimentos internacionais.

A mensagem de que o Brasil é sério sobre a segurança de alimentos também será transmitida aos investidores.

Executivos da JBS planejam reuniões com os bancos que trabalham no IPO da JBS Foods esta semana, permitindo-lhes verificar as informações sobre as investigações com terceiros, disse uma das fontes.

Revés

Embora BRF seja mais exposta entre as duas gigantes de alimentos ao mercado brasileiro - que representa 55 por cento das vendas da companhia e com a maior parte dos embarques de aves da empresa saindo do país -, nenhuma das fábricas de processamento de alimentos halal com sede no Brasil foi suspensa como consequência da operação Carne Fraca, disse uma das fontes.

No entanto, alguns investidores e analistas como Ronaldo Kasinsky, do Santander Investment Securities, permanecem cautelosos e dizem que a investigação em andamento pode representar um verdadeiro retrocesso para ambas as ofertas.

Além de um escrutínio regulatório mais rigoroso, os investidores poderiam se preocupar quanto ao valor da operação, exigir uma análise mais aprofundada das normas de segurança ou ampliar os procedimentos de due diligence.

Outros, como Carlos Laboy, do HSBC Securities, estão confiantes que as operações vão avançar.

O IPO da JBS Foods, que vende produtos para 350 mil clientes no mundo, poderia ajudar sua controladora JBS a se transformar em um participante global do setor de alimentos de alto valor.

Para a BRF, o negócio One Foods deve impulsionar a expansão do grupo nas nações asiáticas muçulmanas. A One Foods já controla 45 por cento dos mercado das aves in natura halal na Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kuweit, Qatar e Omã.

Acompanhe tudo sobre:BRFIPOsJBSOperação Carne Fraca

Mais de Negócios

A voz está prestes a virar o novo ‘reconhecimento facial’. Conheça a startup brasileira por trás

Após perder 52 quilos, ele criou uma empresa de alimento saudável que hoje fatura R$ 500 milhões

Esta empresária catarinense faz R$ 100 milhões com uma farmácia de manipulação para pets

Companhia aérea do Líbano mantém voos e é considerada a 'mais corajosa do mundo'