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Enquanto a Vale cresce, desastre de Brumadinho completa 2 anos sem acordo

A mineradora vem apresentando desempenho excepcional, mas ainda há incertezas sobre a conclusão das negociações finais para reparos e indenizações da tragédia

Rompimento da barragem causou destruição em Brumadinho (Germano Lüders/Exame)

Rompimento da barragem causou destruição em Brumadinho (Germano Lüders/Exame)

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Juliana Estigarribia

Publicado em 25 de janeiro de 2021 às 08h00.

Última atualização em 25 de janeiro de 2021 às 10h25.

Enquanto a Vale segue em franca recuperação, com os preços do minério de ferro nas alturas e a sua produção avançando, a companhia ainda não conseguiu um desfecho para o caso de Brumadinho, Minas Gerais. A tragédia, que matou 259 pessoas e deixou 11 desaparecidas, completa dois anos nesta segunda-feira, 25, sem muitas respostas e um acordo definitivo de reparação e indenização com parentes das vítimas.

Não foi por falta de tentativas. Na última quinta-feira, 21, a Vale se reuniu mais uma vez com o governo de Minas para tentar fechar um acordo, mas sem sucesso. A reunião encerrou discussões que tiveram participação do Ministério Público mineiro (MPMG), do governador Romeu Zema (Novo), do Ministério Público Federal e das Defensorias Públicas de Minas e da União.

Segundo o MPMG, não houve consenso em relação aos valores que deveriam ser pagos pela Vale. "Foi dado à empresa o prazo até o próximo dia 29 de janeiro para que uma nova proposta seja efetivada", disse o órgão. Caso isso não ocorra, o Tribunal de Justiça remeterá, no dia 1º de fevereiro, as Ações Civis Públicas referentes ao caso para que sejam julgadas em primeira instância.

O valor pedido pelo governo de Minas era de cerca de 54 bilhões de reais por danos morais e econômicos causados pela tragédia, mas a companhia não aceitou.

Em comunicado ao mercado, a Vale informou reconhecer "sua responsabilidade pela reparação integral dos danos causados" e que a companhia "tem prestado assistência às famílias e regiões impactadas, buscando restaurar a dignidade e meios de subsistência, seja através de ações diretas nas regiões, seja através de acordos individuais com famílias das vítimas e atingidos."

A mineradora acrescenta que, até o momento, foram pagas cerca de 8.700 indenizações individuais. "A Vale considera fundamental reparar os danos causados de maneira justa e ágil e tem priorizado iniciativas e recursos para este fim." Afirmou ainda ter destinado cerca de 10 bilhões de reais para estes fins.

Ciclo de expansão

Desde o desastre de Brumadinho, a Vale vem se recuperando de forma consistente. Em 2020, as ações da companhia na bolsa brasileira, a B3, acumularam alta de 64%, em meio à retomada das operações e à escalada dos preços do minério de ferro no mercado internacional.

Neste cenário, a companhia vem apresentando um resultado excepcional, principalmente com a expectativa altamente positiva de demanda por minério de ferro, impulsionada pela China.

Segundo analistas de mercado, o preço das ações da companhia ainda está abaixo do potencial justamente pelas incertezas que rondam o acordo sobre Brumadinho. Mas, no geral, a avaliação de especialistas sobre a empresa é positiva.

Agentes do mercado também enxergam, de forma positiva, as medidas adotadas pela companhia no sentido da sustentabilidade, como por exemplo, atrelar a remuneração variável dos executivos a metas ambientais e sociais.

Mas enquanto o acordo global para reparações e indenizações com o poder público, em suas várias instâncias, não ocorrer, o futuro da companhia é incerto. Para o Ministério Público de Minas, há uma "diferença grande" entre o valor oferecido pela Vale e o pretendido pelas instituições e pelo governo. "Embora os pleitos sejam consistentes e os termos acordados, o montante proposto é insuficiente", disse o órgão.

De janeiro a setembro de 2020, último balanço divulgado pela companhia, a Vale informou que 470 milhões de dólares tinham sido destinados a reparos ambientais, adicionais aos 80 milhões de dólares do mesmo período de 2019. Indenizações individuais somaram 570 milhões de dólares até setembro de 2020, adicionais aos 420 milhões do mesmo período de 2019.

Enquanto a companhia e o governo tentam chegar definitivamente a um consenso, parentes de vítimas e os pequenos municípios envolvidos na tragédia seguem com dúvidas sobre o desfecho dessa triste história.

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