Engie: segundo presidente do conselho, faria sentido vender as usinas em conjunto, dado que uma delas já produz receitas, enquanto a outra exige investimentos (China Photos/Getty Images)
Reuters
Publicado em 6 de abril de 2017 às 20h50.
São Paulo - A Engie Brasil Energia recebeu manifestações de mais de dez empresas interessadas em avaliar termelétricas a carvão que a companhia pretende vender para focar os negócios em fontes renováveis, como usinas eólicas e solares, disse à Reuters nesta quinta-feira o presidente do Conselho de Administração da empresa, Maurício Bahr.
Controlada pela francesa Engie, ex-GDF Suez, a companhia anunciou em fevereiro a contratação do banco Morgan Stanley para assessorar um processo de sondagem do mercado para eventual venda do complexo termelétrico Jorge Lacerda, já em operação, e da termelétrica Pampa Sul, cujas obras devem ser concluídas até o final de 2018.
Os empreendimentos somam cerca de 1,2 gigawatts em capacidade instalada, de um total de aproximadamente 9,3 gigawatts que a Engie Brasil, uma das maiores geradoras do país, possui em usinas prontas ou em implementação.
"Começamos um processo, estamos recebendo cartas de intenção de interesse e acreditamos que em mais alguns meses a gente deva receber propostas não vinculantes... Está em dois dígitos o grupo de interesse, passa de 10 (empresas), então é bem interessante", disse Bahr, que também é o presidente da Engie para o Brasil.
Segundo ele, faria sentido vender as usinas em conjunto, dado que uma delas já produz receitas, enquanto a outra exige investimentos.
Bahr não estimou quanto a empresa poderia obter com tais desinvestimentos em carvão ou se o forte interesse pode ajudar a companhia a vender bem os ativos, mesmo em um momento em que muitas empresas estão mais focadas em geração renovável.
A decisão da Engie de sair da geração a carvão segue uma diretriz do grupo francês para seus negócios no mundo, focada em descarbonização, descentralização e digitalização dos negócios em energia.
"A gente vai continuar expandindo nas renováveis. Eólica, solar, hidráulica... biomassa também está no radar. Estamos olhando também na área de gás", afirmou Bahr.
Ele ressaltou que oportunidades em gás natural deverão aparecer à medida que a Petrobras avançar em seu plano de desinvestimentos e o setor for aberto a novos agentes.
Na geração solar, a Engie investirá tanto em usinas fotovoltaicas de grande porte quanto em pequenas instalações, como placas solares em telhados ou prédios comerciais.
As ações da companhia fecharam em baixa de 1,13 por cento, a 35,06 reais.
A Engie deverá ainda estrear em um novo segmento do setor elétrico brasileiro neste ano, a transmissão de eletricidade, reiterou o executivo.
A companhia tem se preparado para disputar um leilão que o governo promoverá no final de abril para oferecer a concessão para construção e operação de novas linhas de transmissão de energia.
Caso realmente vá à licitação, a Engie deverá buscar arrematar lotes de empreendimentos em regiões como o Nordeste, para possibilitar o escoamento da geração de usinas eólicas e solares.
"A transmissão é uma maneira de ajudar que haja desenvolvimento na área renovável, já que as capacidades de geração com energia renovável estão às vezes longe dos centros urbanos", disse Bahr.
Segundo o presidente da Engie no país, a companhia também analisará a possibilidade de participar de uma licitação em que o governo oferecerá concessões de hidrelétricas existentes, cujos contratos de exploração venceram.
"Estamos vendo tudo, não vamos deixar nada de fora, até como player importante e maior gerador privado. Vamos continuar olhando e se tiver oportunidade vamos participar", afirmou Bahr, ao ser questionado sobre o interesse no certame, que o governo programa para acontecer até o final de setembro.
A Engie fechou 2016 com lucro líquido de 1,55 bilhão de reais e tem investimentos previstos de 4,7 bilhões de reais até 2019, dos quais 2 bilhões de reais devem ser desembolsados neste ano.