Negócios

Engenheira fatura R$ 300 mil com sítio agroecológico e chocolate sustentável

Luciana Athayde produz hortifrutigranjeiros e seu trabalho já rendeu convite para participar de reality show de empreendedorismo

Luciana Athayde, fundadora do Sítio Agroecológico Tolú: “Queremos mostrar a cada vez mais pessoas o poder transformador da agroecologia e da autonomia no campo”.

Luciana Athayde, fundadora do Sítio Agroecológico Tolú: “Queremos mostrar a cada vez mais pessoas o poder transformador da agroecologia e da autonomia no campo”.

Caroline Marino
Caroline Marino

Jornalista especializada em carreira, RH e negócios

Publicado em 4 de fevereiro de 2025 às 14h00.

Última atualização em 4 de fevereiro de 2025 às 15h37.

Por ano, o Brasil produz em torno de 800 milhões de toneladas de resíduos e menos de 2% desse volume é destinado corretamente, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Isso quer dizer que 780 milhões de toneladas de resíduos vão parar em aterros sanitários ou até em lixões a céu aberto, contaminando o meio ambiente.

Diante desse cenário, expandir os debates e práticas da agroecologia é fundamental para a construção de um futuro mais equilibrado e saudável. É justamente isso que a baiana Luciana Athayde está fazendo à frente do Sítio Agroecológico Tolú, localizado em Igarapé-Açu (Pará), que há 15 anos produz, de maneira orgânica, hortifrutigranjeiros, como hortaliças, frutas e ovos – cerca de 35 toneladas anualmente. No segundo semestre de 2024 diversificou a produção com um chocolate sem glúten nem leite, e projeta alcançar um faturamento de R$ 600 mil, o dobro do registrado no ano passado.

Engenheira Agrônoma com mestrado em Agricultura Orgânica e especialização em Cidades Inteligentes e Sustentáveis, Luciana não apenas trabalhou para preservar o solo, mas transformou desafios em oportunidades. Como reflexo, vem acumulando premiações e conquistas.

Recentemente, foi selecionada para participar da Casa das Empreendedoras, reality show da Rede Record que será gravado este ano na Suíça. Também conquistou o primeiro lugar na categoria Produtora Rural do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios 2023 e o Tolú ficou entre as cinco propriedades mais sustentáveis do Brasil na 8ª edição do Prêmio Fazenda Sustentável da Globo Rural.

À Exame, ela conta o caminho que percorreu até aqui e o que está por trás da atuação da propriedade que, atualmente, vende para feiras locais e regiões, e para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do Governo federal.

Gestão holística e colaborativa

Um dos pontos de destaque da empresa é a independência de insumos industrializados. Desde o início, Luciana, ao lado do marido Tomires Athayde, estabeleceu parcerias com comerciantes locais para coletar mensalmente 15 toneladas de resíduos orgânicos, convertidos em adubo por meio da compostagem laminar, técnica que consiste em depositar esses resíduos em camadas sobre o solo, criando um ambiente propício para a degradação da matéria orgânica.

“Nada se perde; tudo se transforma para fortalecer o ciclo natural”, explica. Segundo ela, o sítio é autossuficiente em adubação orgânica, sem a necessidade de adquirir nenhum insumo agrícola.

Por lá, a gestão é baseada na visão holística, na qual nada acontece de forma isolada. A produtora rural explica que tudo é importante dentro de um ecossistema – até pragas como lesmas e formigas. “Muitos vizinhos nos procuram para perguntar o que fazemos com elas. A resposta é simples: nada, já que não interferem de forma negativa na produção e são parte do sistema”.

Com esse trabalho, o Sítio Tolú também atua como unidade de educação ambiental. Em parceria com escolas, universidades e instituições, recebe estudantes de todos os níveis para ensinar sobre agroecologia e sustentabilidade. “Queremos mostrar a cada vez mais pessoas o poder transformador da agroecologia e da autonomia no campo”. 

Superação e resiliência marcam a trajetória da empreendedora

O caminho até aqui, no entanto, não foi simples. A falta de crédito para a área e a resistência inicial de parceiros foram grandes desafios. Durante a pandemia de covid-19, as vendas – que eram feitas em Belém, há 110 quilômetros do sítio, paralisaram. “Tivemos de vender o carro que usávamos para as entregas e descobri um problema sério no pulmão.

Quando a situação começou a se normalizar, estávamos quebrados”, conta. Mas desistir nunca foi uma opção. Naquele momento Luciana desengavetou um sonho antigo: adicionar à produção o cultivo de cacau para chocolate. Ela cresceu em um cenário marcado pelo cultivo da fruta no sul da Bahia durante os anos 1980. "Toda vez que consumia amêndoa de cacau, guardava as sementes e dizia para minha mãe: um dia vou produzir meu próprio chocolate", lembra.

Para ela, isso mostra que nunca devemos abdicar de nossos sonhos, por mais difíceis que pareçam. “Demorei quase duas décadas para realizar um desejo de infância. Por isso, sempre digo às mulheres que se mantenham firmes e nunca desistam do que acreditam. Não há idade, tempo ou preconceito que possa atrapalhar. A palavra impossível não existe e nunca existirá no meu dicionário”, finaliza.

Veia empreendedora desde cedo

Determinação, aliás, nunca faltou à Luciana, que ainda criança já demonstrava habilidade para transformar desafios em realizações. Aos sete anos, coletava alumínio descartado para revender e, aos 20 e poucos anos, diante das dificuldades financeiras provocadas pela perda da visão de seu pai, começou a vender bombons no cursinho à noite para ajudar no sustento da família.

Anos depois, em 2009, adquiriu um terreno degradado de 26 hectares tomado apenas por pasto e capim. “Trabalhamos por alguns anos e o transformamos em uma em uma agrofloresta; hoje somos referência na região em produção orgânica e compostagem. É possível unir sustentabilidade, inovação e negócios para criar um futuro melhor para todos”, finaliza.

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