Festa de premiação Melhores e Maiores: executivos estão com receio das consequências da fala do presidente (Flavio Santana/Exame)
André Jankavski
Publicado em 26 de agosto de 2019 às 22h17.
Última atualização em 27 de agosto de 2019 às 08h24.
São Paulo – A verborragia do presidente Jair Bolsonaro está deixando alguns empresários preocupados. O temor é maior entre as empresas que possuem fatias maiores de suas receitas vinculadas às exportações. As empresas que dependem mais do mercado interno estão confiantes, mas cobram a redução do desemprego pelo governo.
Essa foi a opinião dominante por empresários ouvidos por EXAME durante o evento de premiação de Melhores e Maiores, realizado na noite desta segunda-feira em São Paulo.
Uma guerra comercial, com o Brasil escolhendo um lado, pode trazer complicações para as exportações. Segundo o presidente da siderúrgica Arcelor Mittal, Benjamin Baptista Filho, isso poderia afetar especialmente a indústria de transformação, que ainda precisa se recuperar dos anos de crise.
O setor de commodities é outro que aguarda com apreensão o futuro das discussões comerciais. Em especial, está bem atento às possíveis sanções comerciais que os países europeus poderiam aderir com o desmatamento da Amazônia.
O presidente de uma das maiores exportadoras de commodities do Brasil, por exemplo, tem 80% de suas receitas originadas da venda de produtos ao continente europeu. Ele acompanhou com alívio a fala da chanceler alemã Angela Merkel, que distanciou sanções ao Brasil por ora. Mas o sinal de alerta está ligado.
“Fechamos um contrato recentemente com alemães e um bloqueio poderia colocar em xeque as nossas vendas do ano que vem”, diz esse executivo.
Ao mesmo tempo, empresários que dependem do interno mostram otimismo com uma retomada. É o caso da empresa de laticínios Bela Vista. Desde o ano passado, a companhia vem apostando em produtos de valor agregado, como iogurtes proteicos e bebidas veganas.
Mesmo sendo mais caros, a aposta deu resultado – o lucro da empresa dobrou para 38 milhões de dólares no ano passado. E o otimismo continua. “Claro que precisamos de uma queda no desemprego, mas vemos espaço no mercado. O ano de 2019 deve ser o de maior investimento de nossa história”, diz Luiz Claudio Lorenzo, diretor comercial da empresa.
É o mesmo caso da empresa catarinense de eletrônicos Intelbras. Para esse ano, a empresa reservou 100 milhões de reais para investimentos. Nos últimos dez anos ela foi uma compradora em série: adquiriu sete companhias e está no aguardo de anunciar outras três aquisições.
“Estamos no aguardo das reformas, mas estamos muito otimistas com a retomada econômica”, diz Altair Silvestri, presidente da Intelbras. Segundo diversos empresários ouvidos por EXAME, há vários investimentos represados esperando uma previsibilidade maior para os próximos anos. A questão, agora, é o governo ajudar.