Henrique Maderite (à direita) e Júnior, CEO Grupo QUALY (Leandro Fonseca/Exame)
Lucas Amorim
Publicado em 26 de agosto de 2022 às 17h35.
Última atualização em 28 de agosto de 2022 às 09h48.
O Brasil é referência global na reciclagem de alguns produtos. Em 2021, por exemplo, reaproveitou 98% das latinhas de alumínio, ou 33 bilhões de unidades. O país reaproveitou também 85% dos papéis de embalagem. O reaproveitamento do vidro é menor, mas ainda assim fica perto dos 45%. Neste contexto, a reciclagem de sucatas é um calcanhar de Aquiles nacional: o Brasil reaproveita, segundo diferentes fontes, apenas entre 1,5% e 4% de carros, geladeiras, fogões velhos.
Para o empresário mineiro Carlos Tobias de Paiva Júnior, o Júnior, esses números são uma enorme oportunidade de mercado. De olho no potencial do mercado de sucatas o engenheiro civil de formação, com passagens por empresas como MRV, Tenda e Modelo fundou, em 2008, o Grupo Qualy, especializado em recolher sucatas para a produção de aço. Junior comanda a companhia com seu sócio Jamisson Jader Moraes Pereira eEdson Júnior de Paiva Melo, e depois de faturar R$ 376 milhões em 2021 prevê faturar R$ 460 milhões em 2022.
Reaproveitamento de sucata é um mercado com grande potencial, e de grande impacto social, ESG por excelência — mas que costuma ficar longe dos holofotes. Nos últimos meses o Grupo Qualy passou a aparecer nas redes sociais após uma parceria com o influenciador Henrique Maderite, famoso pelo bordão "Sexta-feira mei dia!". O acordo pode parecer inusitado, mas funcionou para que o grupo Qualy amplie sua penetração popular. "Depois de crescer, precisávemos de uma identidade", diz Júnior. "E com a divulgação aumentamos a visibilidade com sucateiros e começamos a ser procurados por quem quer vender sucata".
A empresa foca sua comunicação no uso do Pix, permitindo que uma legião de carroceiros recebam seus pagamentos à vista — uma exceção num mercado marcado pela informalidade. A companhia recicla cerca de 15 mil toneladas de sucata por mês, além de 5 mil toneladas de papelão. Em breve a Qualy vai entrar também no mercado de plásticos e abrir novas unidades focadas em ferro.
Para captar e escoar matéria-prima, a Qualy tem unidades perto de grandes centros fornecedores, mas também com facilidade de saída para portos. Começou a operação em Uberlândia e foi expandindo para Rondônia, Tocantins, Bahia, Espírito Santo, São Paulo. "O maior desafio é consolidar a marca num setor pulverizado", diz Júnior.
O mercado de produção de aço a partir de sucata tem, numa ponta, fornecedores muito pulverizados. Na outra, produtores gigantes, como Gerdau ou ArcelorMittal. Além de fornecer para essas companhias, seus maiores clientes, a Qualy mira também o mercado global. Vende sucata ferrosa para países como Índia, Vietnã e Paquistão. A China, maior mercado siderúrgico do mundo, compra basicamente ferro gusa direto das mineradoras, o que faz com que empresas como a Qualy mirem outros mercados compradores.
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