Ele viu o seu patrimônio decrescer algumas centenas de milhões de dólares após a acusação de manipular lucros e cometer fraudes contábeis (Techtronic Industries/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 25 de fevereiro de 2023 às 08h05.
Após a derrocada do grupo do bilionário indiano Gautam Adani diante de acusação de fraude contábil feita pela Hindenburg, empresa americana de especializada em pesquisa financeira e vendas a descoberto, um novo bilionário entrou no radar nesta semana.
Horst Julius Pudwill, cofundador e presidente da Techtronic Industries, empresa do mercado de ferramentas elétricas e dona de marcas como Milwaukee, Hoover, Empire e Imperial Blades.
Ele viu o seu patrimônio decrescer algumas centenas de milhões de dólares após a acusação de manipular lucros e cometer fraudes contábeis no comando da companhia. Em dois dias, perdeu cerca de US$ 670 milhões, ou 3,5 bilhões de reais, na cotação atual.
Em um relatório de 60 páginas publicado na última quarta-feira, 22, a Jehoshaphat Research questionou o aumento recorrente da margem bruta registrado pela Techtronic (TTI, como é conhecida) nos últimos 10 anos - algo único para as companhias abertas com mais de 1 bilhão de dólares em receita, segundo a consultoria.
“Como resultado desse ataque frontal à realidade econômica, o balanço da TTI tornou-se um vasto e tóxico cemitério onde os corpos de contabilidade são enterrados”, afirmou.
No documento, declarou que opera vendida os papéis da empresa, negociadas na Bolsa de Hong Kong, projetando queda entre 60 e 80% no valor.
À sombra do que aconteceu com as empresas de Adani, as ações caíram e as negociações chegaram a ser paralisadas. Após fecharem o dia 21 cotadas em 99,15 dólares de Hong Kong, a moeda local, chegaram a bater 74,95 no fim das negociações do dia 23, queda superior a 24%.
A Techtronic Industries publicou um comunicado no dia 23 em que nega todas as acusações e se reserva o direito de tomar ações legais contra com a consultoria.
“A empresa nega veementemente todas as alegações feitas no Relatório (as “Alegações”), pois contém várias declarações difamatórias, tendenciosas, seletivas, imprecisas e incompletas”, afirma.
No texto, também recomendou que os acionistas também “cuidados extremos” com informações que podem ter o caráter de tentar minar a confiança na empresa e prejudicar a sua reputação.
Além do posicionamento institucional, também contribuiu para a estabilização das ações da companhia a entrada de agentes do mercado.
Em um relatório respondendo a alegação sobre margem de lucro, o JP Morgan defendeu que os investimentos lá atrás em produtos sem fio e com bateria se mostraram acertados e sustentam o retorno atual.
Daiwa Capital Markets, empresa financeira com abrangência global, disse que a Techtronic continua como a preferida no setor e que as acusações são infundadas.
Nesta sexta, 24, os papéis subiram 4,40% e terminaram o dia negociados a 78,25 dólares de Hong Kong.
A alta representou o equivalente a US$ 165 milhões - 860 milhões de reais - de ganho no patrimônio do bilionário. Atualmente, a fortuna dele é avaliada em US$ 4,5 bilhões (R$ 23,5 bilhões de reais) pelo índice em tempo real da Forbes.
No caso de Adani, os impactos foram bem maiores. No ano, o indiano já acumula queda de 79 bilhões de dólares. E, juntas, as suas companhias perderam mais de 120 bilhões de dólares em valor na bolsa.
Pudwill criou a empresa com o honconguês Roy Chi Ping Chung em 1985. Engenheiro, ele tinha deixado a Alemanha, a sua terra natal, para comandar a operação da Volkswagen em Hong Kong na metade dos anos 70.
A empresa cresceu rápido oferecendo ferramentas elétricas sem fio e dois anos depois já contava com grandes distribuidores nos Estados Unidos. Em 1990, abriu o capital na Bolsa de Hong Kong.
Além de ter uma trajetória marcada por inovação, o crescimento inorgânico faz parte DNA da companhia. Ao longo dos anos, adquiriu diversas empresas como Hoover, Milwaukee, Homelite, Royal e Dirt Devil.
Ao longo dos quase 40 anos desde a fundação, Pudwill sempre ocupou a posição de presidente. Até 2008, também respondia como CEO.