Portugal: dados apresentados pela administração da "Yupido" não convenceram auditor (Mario Proenca/Bloomberg)
EFE
Publicado em 17 de setembro de 2017 às 10h38.
Última atualização em 17 de setembro de 2017 às 10h39.
Lisboa - Uma empresa que diz desenvolver tecnologias inovadoras e cujo valor estimado equivale a 15% do PIB de Portugal tornou-se um mistério para jornalistas e economistas portugueses, que tentam investigar suas atividades e descobrir como ela passou despercebida apesar de sua magnitude.
Segundo a imprensa de Portugal, a história da empresa, chamada "Yupido", conta com os ingredientes de um "thriller econômico": descoberta por um professor universitário que prefere não revelar sua identidade, foi criada em 2015 com um capital social de 243 milhões de euros; agora vale 29 bilhões, 15% do PIB português.
O altíssimo valor e outros detalhes, como o fato de a empresa ter como sede alguns escritórios em Lisboa nos quais ninguém parece trabalhar, chamaram a atenção inclusive da Polícia Judiciária (PJ) portuguesa.
Enquanto a PJ observa tudo o que gira em torno desse mistério, que ganha cada vez mais destaque na imprensa, as perguntas só aumentaram após a renúncia do auditor oficial de contas José Rito, que investigava o caso.
Segundo o jornal "Diário de Notícias", Rito deixou o cargo porque não se considera "satisfeito" com a análise anterior de um auditor independente que, com décadas de experiência, aprovou o espetacular aumento de valor da empresa.
Tampouco o convencem os dados apresentados pela administração da "Yupido", sobre a qual expressou sem reservas seu descontentamento.
"(A administração) Não me deu nenhuma informação objetiva que justifique o seu valor", afirmou taxativamente o auditor.
A saída de Rito é o último capítulo de um caso estranho sobre o qual foi levantado todo o tipo de especulação na imprensa, perplexa pelo desconhecimento de uma companhia cujo valor supera o de gigantes do país, como a de energia elétrica EDP e a petrolífera Galp.
As explicações parciais oferecidas recentemente pelo porta-voz da empresa, Francisco Mendes, pouco esclareceram o caso, algo que ele mesmo justificou com a necessidade de proteger a ideia "inovadora" na qual trabalham há meses.
"Esta não é uma empresa fantasma. Nunca foi. Existimos, somos pessoas, trabalhamos diariamente de forma árdua e não queremos ver o nosso trabalho assim", disse Mendes ao jornal digital "ECO".
O porta-voz afirma que a "Yupido" está disponível para esclarecer qualquer assunto à PJ porque suas atividades estiveram sempre dentro da legalidade.
"Apareceram coisas grotescas (na imprensa), como lavagem de dinheiro", lamenta Mendes, afirmando que no momento a empresa não pode divulgar muitas informações sobre seus projetos porque "outros competidores verão o que está sendo feito".
Segundo sua versão, a companhia portuguesa trabalha atualmente em "42 patentes" de tecnologias inovadoras sobre as quais se recusa a dar mais detalhes.
"Não posso descrever algoritmos na imprensa, porque isso põe em risco o nosso trabalho", acrescentou o porta-voz para justificar o mistério em torno da companhia.
No entanto, Mendes esclarece que existe uma força de trabalho e que a valorização multimilionária da "Yupido" não corresponde a dinheiro em espécie, mas a ativos intangíveis, que impulsionaram de forma espetacular o valor da empresa.
Com uma envergadura colossal, a "Yupido" esclareceu que, "no momento adequado", divulgará seus projetos "revolucionários", como considera a imprensa portuguesa, dado o seu valor e o caráter secreto com que continua trabalhando neles. EFE