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Empresa de Israel compra startup paulista de R$ 150 milhões para fazer pessoas passearem de ônibus

Empresa brasileira foi fundada por dois irmãos que queriam viajar mais, mas tinham dificuldade em comprar passagens

Breno Moraes e Mariana Malveira, da DeÔnibus: fusão atenderá plano dos irmãos de atuar globalmente

Breno Moraes e Mariana Malveira, da DeÔnibus: fusão atenderá plano dos irmãos de atuar globalmente

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 10 de maio de 2024 às 07h02.

Última atualização em 10 de maio de 2024 às 08h27.

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O Brasil é, sem sombra de dúvidas, um país rodoviário.

É o nosso país que tem a maior concentração rodoviária de transporte de cargas e passageiros entre as principais economias mundiais. Por aqui, 58% do transporte é feito por rodovias, contra 53% da Austrália, 50% da China e 43% da Rússia.

Assim como muitas rodovias, o Brasil também tem muito espaço. Por isso, uma viagem entre Estados pode levar não horas, mas dias. O modal, porém, pode ser uma alternativa para quem quer economizar quando o preço das passagens aéreas está lá nas alturas (com perdão do trocadilho).

Depois de um período conturbado na pandemia, com algumas empresas do setor quebrando e outras reduzindo suas frotas, o setor de transporte rodoviário de pessoas voltou a crescer, apoiado, principalmente, numa demanda reprimida.

Quem cresceu também foram as empresas que fazem parte desse ecossistema. Uma delas é a DeÔnibus, um marketplace de passagens rodoviárias criado em 2012. A empresa faturou 150 milhões de reais em 2023, um crescimento de cerca de 50% em relação ao ano anterior.

Com os bons números, a empresa dará agora um passo para sua expansão internacional. Ela acaba de ser adquirida pela israelense Travelier, líder global em tecnologia de viagem para transporte terrestre e marítimo. O valor da negociação não foi informado, mas a operação continuará independente, inclusive mantendo a equipe que trouxe os bons resultados até aqui.

Qual é a história da DeÔnibus

Fundada em 2012, inicialmente como BrasilbyBus, a DeÔnibus foi criada por dois irmãos paulistas: Mariana Malveira e Breno Moraes. Ambos tinham vontades em comum: viajar o mundo e empreender.

A jornada empreendedora da dupla começou em 2011, após perceber as dificuldades na compra de passagens de ônibus no Brasil, contrastando com a facilidade encontrada em países como a Índia.

“Foi nosso primeiro negócio”, diz Moraes. “Eu tinha alguma experiência em empresas de tecnologia. Fui trainee na Microsoft. E minha irmã era formada em design, tinha estagiado fora do país, e quando voltou, nos juntamos para criar o projeto. Tínhamos um sonho. Precisávamos fazer acontecer”.

Isso levou à criação da BrasilByBus, com o objetivo de facilitar o acesso a viagens de ônibus tanto para brasileiros quanto para estrangeiros, uma necessidade pouco atendida na época.

À época, o ecossistema de startups começava a dar as caras no Brasil, mas tudo era ainda muito incipiente. Tanto é que Breno e Mariana tentaram alguns aportes para dar um gás para o negócio, mas o primeiro dinheiro entrou mesmo dos clientes, durante a Copa do Mundo de 2014.

Como a Copa do Mundo ajudou a empresa

Quando saíram os lugares dos jogos da Copa do Mundo do Brasil, em 2014, milhares de estrangeiros começaram a pesquisar na internet como se deslocar entre um e outro Estado. Até tinha a opção de ir com avião, mas para quem queria economizar, a saída foi mesmo pegar a estrada -- e um ônibus.

Na época, porém, ainda havia poucas plataformas que permitissem a compra das passagens pela internet. Uma delas era a BrasilByBus, agora DeÔnibus.

“Vendemos muito”, lembra Moraes. “Costumo dizer que esse foi nosso primeiro grande cheque para impulsionar nossa operação”.

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Dali para a frente, a empresa cresceu, não sem alguns percalços no caminho.

Um dos mais tensos foi em 2016, quando o país passava por um surto de fraudes nos cartões de crédito. Para a DeÔnibus, foi um prejuízo danado. Quando a pessoa descobria que tinha seu cartão furtado, conseguia estornar a compra. Mas a DeÔnibus não deixava de pagar o valor para as companhias rodoviárias. O resultado: uma perda de cerca de 3 milhões de reais naquele ano.

Outra crise foi, claro, a da pandemia de coronavírus, que impactou em cheio o setor rodoviário, principalmente de transporte entre pessoas. A empresa, porém, segurou as pontas, conseguiu atravessar a crise e só não cresceu de tamanho em 2020.

No ano passado, faturou 150 milhões de reais, e segue numa média de crescimento anual na casa dos 50%. Após crescer no bootstrap (sem aporte de investidores) ao longo dos primeiros anos, fez rodadas de investimento em seus momentos de crise, amparada pela ACE Ventures, GV Angels e outros investidores-anjo.

Com uma rede de 300 operadoras de ônibus e milhares de rotas, a empresa cobre mais de 80% do território brasileiro, servindo 30 milhões de viajantes por ano.

Quais são as apostas com a aquisição

O processo de aquisição começou com um desejo da DeÔnibus de ser maior do que apenas uma plataforma brasileira.

“Quando criamos a plataforma, queríamos dominar o Brasil no primeiro ano, a América Latina no segundo e o mundo no terceiro”, diz. “Mas a realidade é outra, há muitos percalços no caminho, e percebemos que não ia rolar. Seguramos o sonho internacional num segundo plano”.

Por volta de 2019, porém, o desejo voltou a reacender. Na época, os empreendedores começaram a estudar qual seria o melhor caminho para essa expansão. Um deles seria receber um aporte grande de alguma gestora de capital internacional, mas perceberam que essas grandes investidoras já tinham escolhido suas startups de mobilidade rodoviária. Foi o caso da Buser, por exemplo, que recebeu dinheiro da gigante de venture capital SoftBank.

“Começamos então a olhar para players que estavam com uma perspectiva de montar uma plataforma global, e que poderiam se juntar a nós para que, juntos, todos crescessemos”.

Foi o movimento que os aproximou da Travelier, uma startup de Israel que permite aos clientes comprar instantaneamente passagens intermunicipais para ferries, ônibus e trens em mercados locais. A empresa está, desde sua fundação, há cerca de sete anos, trabalhando numa estratégia de globalização por meio de aquisições.

“Ao longo dessa jornada, já tinham comprado seis empresas, sendo duas na Argentina”, diz Moraes. “No modelo deles, cada plataforma continua operando de forma independente, com sua marca e seu time de gestão. E a gente aproveita a sinergia para ter mais dados e informações sobre nossos clientes e com isso, alavancar as receitas”.

A ideia é seguir crescendo numa base de 50% ao ano pelos próximos tempos. Caso se concretize neste ano, a empresa já deve passar de 200 milhões de reais em faturamento no Brasil.

Essas expectativas são apoiadas por pesquisas que apontam um potencial inexplorado do mercado brasileiro de passagens de ônibus. Atualmente, apenas 30% das passagens de ônibus são vendidas pela internet.

"O mercado de viagens de ônibus no Brasil vem passando por mudanças nos últimos anos, influenciado pelos novos hábitos de compra dos viajantes, pela digitalização e modernização do setor e pelas mudanças regulatórias”, afirma Moraes. “Com isso, diversas oportunidades se abrem para a ampliação de nossos serviços e crescimento do negócio”.

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