Pessoas entrando em um jato Lineage 1000E, da Embraer, durante uma feira de negócios (Carlos Barria/Reuters)
Da Redação
Publicado em 28 de maio de 2014 às 18h12.
São Paulo - Antes de viajar para o exterior, Cristina Monteiro, diretora-geral do JPMorgan Chase, verifica primeiro onde seus colegas se sentarão -- e então escolhe um assento do outro lado do avião.
“Eu não quero dormir com ninguém do trabalho”, disse Cristina, 53, sobre a perspectiva de ter um companheiro de trabalho do sexo masculino no assento ao lado em um voo noturno. “Sou bem direta quanto a isso. É estranho”.
Como mais mulheres viajam a negócios, empresas como hotéis e fabricantes de aviões estão tornando seus produtos mais amigáveis para elas.
Quando hóspedes executivas pedem uma refeição no quarto em horários avançados no Hyatt Hotels, a rede tenta assegurar que uma mulher faça a entrega.
A Embraer está dando ênfase à privacidade e à estética ao lançar seus jatos corporativos para mais executivas mulheres e a Boeing Co. está desenvolvendo seus aviões de forma a dar a todos os passageiros executivos um isolamento maior.
As mulheres foram o segmento de mais rápido crescimento entre os passageiros executivos nos EUA, segundo um relatório de 2011 da Faculdade de Administração de Hotéis da Universidade Cornell.
Em 2010, as mulheres representaram quase metade de todos os passageiros executivos, acima dos 43 por cento de 2003 e dos 25 por cento de 1991.
No total, companhias e indivíduos gastam US$ 1,1 trilhão por ano em viagens de negócios, segundo a Associação Global de Viagens de Negócios, com sede em Alexandria, Virgínia.
A Embraer, que tem sede em São José dos Campos, São Paulo, está tentando atrair o segmento feminino do mercado oferecendo mais opções de design para mulheres, disse Jay Beever, vice-presidente de imagem de marca e design de interior para jatos executivos.
Sensíveis aos detalhes
“As mulheres são mais sensíveis aos detalhes”, disse ele, em entrevista por telefone. “De uma forma geral, a presença da mulher em altos cargos como o de CEO aumentou ao longo das décadas -- uma tendência que todas as companhias estão experimentando”.
Muitas das mudanças são atraentes para todos os passageiros executivos e não apenas para mulheres, disse a presidente da Boeing para o Brasil, Donna Hrinak.
“Se você é um passageiro executivo, você nem sempre quer alguém ao seu lado -- essa é a onda do futuro”, disse Hrinak, 63, ontem, em São Paulo, paralelamente ao evento Women’s Forum 2014, uma conferência de líderes para discutir problemas globais.
“De forma geral, escutamos muito para descobrir o que os passageiros querem. E algumas dessas coisas nos ajudaram a mudar os nossos produtos de forma a torná-los atrativos para as mulheres”.
Hrinak citou os novos compartimentos superiores de bagagens do Boeing 787 Dreamliner, que tornam mais fácil recuperar sua bagagem, pois eles podem ser puxados mais para baixo. A Boeing tem sede em Chicago.
Hotel laboratório
“Se você é como eu, você nem sempre gosta de pedir ajuda”, disse Hrinak. “E como o avião é feito de compostos de fibra de carbono em vez de metais, podemos manter o nível de umidade mais alto, assim sua pele não fica tão seca durante o voo”.
O Hyatt começou a testar suas ideias para atrair as hóspedes mulheres em oito hotéis “laboratórios” há mais de um ano e lançou algumas das iniciativas em todo o mundo, disse Thierry Guillot, gerente-geral do Grand Hyatt São Paulo.
O hotel tem um bloco de quartos reservados para hóspedes do sexo feminino e reformulou seu cardápio para permitir que as mulheres escolhessem porções menores e opções do tipo “misture e combine”.
O estabelecimento também redesenhou seu bar para que ele seja mais aberto e atraente para as mulheres solteiras.
Embora seja encorajador que a indústria de viagens esteja mudando, ainda há um longo caminho a seguir, disse Cristina Monteiro, do JPMorgan.
“Às vezes você quer apenas sair após um longo dia de trabalho e na maioria das vezes os bares dos hotéis estão lotados de homens -- eu quero apenas relaxar, e não ser assediada”, disse ela. “Você aprende a não ir aos bares”.