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Embraer, Airbus e Boeing têm falta de peças e de mão de obra

Para o presidente da Boeing, Dave Calhoun, o problema de falta de peças e de mão de obra não vai se resolver antes do fim do próximo ano

Workers set up at the Embraer booth prior to the opening of the National Business Aviation Association (NBAA) exhibition in Las Vegas, Nevada, U.S. October 21, 2019.  REUTERS/David Becker (David Becker/Reuters)

Workers set up at the Embraer booth prior to the opening of the National Business Aviation Association (NBAA) exhibition in Las Vegas, Nevada, U.S. October 21, 2019. REUTERS/David Becker (David Becker/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 24 de julho de 2022 às 12h58.

As interrupções das cadeias produtivas decorrentes da pandemia e a dificuldade enfrentada por empresas no exterior para contratar funcionários são hoje a maior preocupação das fabricantes de aviões.
Com a retomada do setor aéreo e as crescentes encomendas de aeronaves - também impulsionadas pela necessidade das companhias aéreas de terem jatos novos, que economizam combustível -, as fabricantes passaram a temer atrasos na entrega dos produtos.

No fim de junho, o presidente da Airbus, Guillaume Faury, afirmou que, em maio, a empresa chegou a ter 20 aviões prontos aguardando apenas os motores para serem entregues aos clientes.

Já o presidente da Boeing, Dave Calhoun, disse que o problema de falta de peças e de mão de obra não vai se resolver antes do fim do próximo ano.

Calhoun classificou a rede de fornecimento do setor como “muito grande, sofisticada e um tanto frágil”. Acrescentou que uma desaceleração da economia poderia ajudar a indústria, sobretudo se segmentos como os de desenvolvimento de softwares e de análise de dados reduzissem a demanda.

Isso, disse o executivo, permitiria que a fabricante de aviões conseguisse reter e recrutar funcionários mais facilmente para poder crescer.

Em conversa com o Estadão, o presidente da Airbus para a América Latina, Arturo Barreira, afirmou que a escassez de matéria-prima e de peças vai desde assentos para aeronaves até motores.

“Há momentos em que temos problemas com um determinado insumo. Depois com outro. O que acontece conosco está acontecendo com todas as indústrias. Se amanhã você quiser comprar uma TV, com certeza não terá o modelo que você quer, e a entrega vai demorar um mês a mais do que te dizem. Não somos diferentes dos outros segmentos da indústria.”

Barreira destacou, porém, que, diferentemente do que vem ocorrendo com o segmento automotivo, a indústria aeronáutica não sofre com a escassez de semicondutores. “Nossos semicondutores são muito diferentes, de altíssimo valor agregado. O produtor pode acabar protegendo esse fornecimento.”

Torre de observação

A Airbus criou o que chama de torre de observação para monitorar todos os seus provedores e entender quais são os problemas. Com essa ferramenta, percebeu que alguns dos fornecedores têm tido dificuldade de recrutar trabalhadores e, portanto, produzir as peças. “Eles reduziram o pessoal na pandemia, agora estão tentando contratar, mas não estão conseguindo.”

A Boeing também tem trabalhado com seus 11 mil fornecedores para tentar reduzir o problema, disse ao Estadão o presidente da empresa no Brasil, Landon Loomis.

O executivo admitiu que é difícil encontrar algumas matérias-primas, mas não detalhou quais. “O problema está afetando todos. Um avião tem 3 milhões de peças. Cada uma tem de estar na hora certa e no local certo para tudo funcionar.”

Landon afirmou que, além da dificuldade para contratar funcionários, os fornecedores têm sofrido para ter acesso a financiamentos. Para ele, esse cenário pode se refletir em atrasos na entrega de aeronaves e na redução da taxa de produção. “Parte da resposta para isso é um comprometimento de longo prazo. Estamos fazendo investimentos em inovação e redesenhando o processo de manufatura para torná-lo mais simples e resiliente.”

Gol ainda não sofreu atraso de entrega

Cliente da Boeing, a Gol ainda não recebeu aeronaves fora do prazo, apesar das dificuldades que a indústria vem encontrando. O presidente da empresa, Celso Ferrer, no entanto, destacou que os aviões que foram entregues neste ano já estavam prontos e só precisaram ser inspecionados.

Ele se refere ao fato que a Boeing havia produzido uma série de aeronaves 737 Max que ficaram esperando liberação do órgão americano de regulação do setor aéreo depois de dois acidentes com o modelo matarem 346 pessoas. “Pode ser que, daqui para frente, a gente encontre pequenos atrasos nas entregas”, ponderou Ferrer.

No Brasil, a Embraer tem relatado dificuldades com o fornecimento de aeronaves. Questionado sobre o maior desafio da empresa hoje, o presidente de aviação comercial da companhia, Arjan Meijer, destacou os entraves na cadeia de suprimentos e afirmou que eles já prejudicaram o total de entregas de aeronaves no primeiro trimestre do ano.

‘Desafio gigante'

Meijer lembrou que reduzir a produção rapidamente é mais fácil do que ampliá-la. “Para aumentar, todas as partes envolvidas na produção precisam estar alinhadas”, ressaltou. “Se falta algo, o avião não voa.”

Meijer salientou que hoje são obstáculos tanto a falta de material quanto a de trabalhadores. “Esse é um desafio gigante da indústria que precisamos superar nos próximos anos”, afirmou o presidente de aviação comercial da Embraer, sem arriscar um prazo para uma solução.

* A REPÓRTER VIAJOU A CONVITE DA ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE TRANSPORTES AÉREOS (IATA)

fonte: Estadão Conteudo

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