Luís Klöppel, sócio-fundador da Regen: “Existe uma complexidade no reflorestamento no Brasil. O mercado enfrentava altos índices de mortalidade das mudas e constantes replantios, tornando o processo caro e ineficaz” (Felipe Martins/Divulgação)
Repórter
Publicado em 13 de setembro de 2024 às 14h05.
Última atualização em 16 de setembro de 2024 às 10h43.
Em agosto deste ano o Brasil registrou 5,65 milhões de hectares queimados, o que responde por quase metade (49%) da área queimada no país desde janeiro. Os dados são do MapBiomas, instituição que monitora as transformações na cobertura e no uso da terra no Brasil, divulgados nesta quinta-feira, 12. O estado de São Paulo foi um dos destaques do período: 86% da área queimada no estado entre janeiro e agosto deste ano ocorreu no mês passado, afetando principalmente os municípios de Ribeirão Preto, Sertãozinho e Pitangueiras. Como resultado, a população do estado paulista sofre com "chuva de fuligem" e redemoinho de fumaça como nunca se viu antes.
Como uma solução para minimizar os impactos das queimadas, existe um processo ambiental chamado de reflorestamento. Esse é o trabalho da empresa Regen, criada por Luís Klöppel, em Valinhos, interior de São Paulo, de regenerar ecossistemas degradados por meio da formação de florestas.
"Trabalho há anos envolvido e estudando o meio ambiente e nunca vi algo parecido como essa fumaça que está tomando cidades de São Paulo. Hoje vi o tornado em Ribeirão Preto. É assustador!", afirma o sócio-fundador da Regen que busca por meio do seu negócio oferecer uma solução para as terras afetadas pelas queimadas.
Como arquiteto e urbanista de formação, Klöppel começou no mercado de trabalho prestando serviço em uma empresa de paisagismo. Foi durante essa experiência que conheceu o seu sócio Alexandre Satlher, engenheiro agrônomo, que comentou sobre a dificuldade do mercado brasileiro com o reflorestamento.
“Existe uma complexidade no reflorestamento no Brasil. O mercado enfrentava altos índices de mortalidade das mudas e constantes replantios, tornando o processo caro e ineficaz.”
Não demorou muito para Klöppel e Satlher criar a Regen, que começou seus testes em 2014, mas só fechou o primeiro contrato em 2017, após três anos de modelagem e pesquisa de campo. O foco da companhia, no entanto, não se restringiu apenas em recuperar áreas degradadas, mas também trabalhar com projetos voltados para a neutralização de pegada de carbono, algo que virou meta para muitas empresas.
“Tivemos a ideia de criar um negócio que fosse um mediador, conectando uma companhia que precisa realizar o reflorestamento com o proprietário da terra que tem o interesse em recuperar suas áreas, mas que muitas vezes não possui os recursos financeiros para isso”, afirma Klöppel.As particularidades da terra fizeram com que Klöppel buscasse mais estudos para trazer soluções inovadoras ao negócio e reduzir a mortalidade das mudas que é um grande problema no Brasil.
Um dos principais desafios, segundo o CEO, é o controle da vegetação concorrente, como a braquiária, uma gramínea invasora que sufoca as raízes das árvores jovens. A solução encontrada pela Regen foi trabalhar na raiz do problema, focando no controle rigoroso dessa vegetação, além de utilizar uma embalagem de papel, uma tecnologia dinamarquesa, que permite um crescimento mais rápido e saudável das raízes das árvores, descartando o plástico neste processo. Além da inovação técnica, a empresa aposta na sustentabilidade com esse investimento.
"Nossas mudas vêm em embalagens de papel, que não geram resíduos e facilitam o enraizamento das plantas. Isso nos permite plantar cerca de mil árvores por dia com a nossa equipe", afirma Klöppel.
A empresa também implementa um sistema de rastreabilidade para monitorar o desenvolvimento das florestas, utilizando drones e aplicativos georreferenciados para fornecer relatórios detalhados aos clientes, que entre eles estão grandes empresas como Pirelli, Alphaville Urbanismo e a agência de publicidade Almap BBDO.
A Regen atua principalmente nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio de Janeiro, e Minas Gerais, trabalhando nos biomas da Mata Atlântica e do Cerrado. A opção de pagamento dos serviços, segundo Kloppel, foge do tradicional. “Não cobramos do cliente por tempo determinado, mas sim pela entrega da floresta formada. Oferecemos um preço fechado pela floresta pronta, independentemente do tempo que levar para se formar", diz. "Dessa forma, a empresa tem uma previsibilidade no orçamento até o final do projeto”, afirma o executivo que reforça que uma floresta pode ficar pronta de 3 a 4 anos.
Entre uma das metas de Klöppel para a Regen, está a expansão das operações para empresas. Atualmente, negocia com uma empresa alemã, que tem sede no Brasil, para plantar 2,8 milhões de árvores, além de projetos que visam a recuperação de áreas afetadas por queimadas.
"Nosso principal desafio hoje é convencer os proprietários rurais a disponibilizarem suas áreas degradadas para reflorestamento, sem custo para eles", afirma Klöppel.
O modelo de negócio da Regen tem chamado atenção no exterior também. "Embora a maior parte dos nossos clientes seja nacional, temos recebido propostas de empresas estrangeiras interessadas em investir na recuperação de áreas no Brasil, tanto para gerar créditos de carbono quanto para neutralizar suas próprias emissões", diz o CEO.
Com uma equipe de 15 funcionários diretos, desde 2017 a Regen já restaurou mais de 320 hectares e já plantou mais de 540 mil árvores. Com faturamento de R$ 2,5 milhões em 2023, a expectativa de Kloppel é de faturar R$ 3,25 milhões este ano.