GoWork: empresa deve investir R$ 20 milhões no Brasil em 2020 (GoWork/Divulgação)
Karina Souza
Publicado em 20 de março de 2021 às 09h30.
Última atualização em 12 de abril de 2021 às 16h04.
A pandemia de covid-19 fez com que 46% das empresas adotassem o home office em 2020. Em meio à nova realidade de escritórios vazios, uma nova necessidade surgiu para as empresas: repensar o espaço de trabalho. Para cumprir essa tarefa, muitas recorreram aos coworkings e, com esse movimento, fizeram com que as empresas desse setor tivessem resultados excelentes no último ano.
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Na avaliação da GoWork, líder em soluções para escritórios corporativos no Brasil, foi possível, para o setor, “crescer dez anos em doze meses”, nas palavras de Fernando Bottura, fundador e CEO da empresa.
“Não só as empresas de tecnologia, que já eram o nosso nicho, como grandes empresas em mercados variados começaram a buscar o coworking como a solução para o modelo híbrido de trabalho, em que o valor dos espaços colaborativos cresce consideravelmente”, afirma.
Esse novo modelo, entretanto, não traduz a demanda por espaços de convivência com outras companhias. Em tempos de Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), a maior parte da demanda da GoWork está relacionada ao formato Built-to-go, que consiste em locar andares inteiros para uma única empresa. Hoje, mais de 90% dos contratos fechados pela empresa fazem parte desse modelo.
A principal vantagem para quem opta por esse tipo de locação está em custos e prazos. “Conseguimos isso porque negociamos com proprietários de edifícios ao mesmo tempo em que conversamos com arquitetos e com fornecedores de TI. Geralmente, empresas fazem essa negociação de forma separada, o que gera mais custos e prazos mais longos”, diz.
Um caso recente e de destaque dentro da empresa é o contrato firmado com o escritório LBCA Advogados, que tem cerca de 700 colaboradores. De acordo com a GoWork, a empresa conseguiu economizar custos em 40% ao migrar para o coworking.
O prazo médio de locação neste formato é de três a cinco anos. E, caso uma corporação desista dele, a adaptação para rentabilizá-lo é relativamente fácil: basta customizar o espaço e vendê-lo para “o varejo” (empresas que locam de 4 a 20 estações de trabalho). Para ter uma ideia, hoje, a demanda desse perfil de empresas supera em quatro vezes a oferta da empresa.
Como resultado, a ambição é grande: dobrar de tamanho após o período em que a pandemia diminuir no país e a Fase Verde -- que permite o pleno funcionamento de atividades -- ser decretada em São Paulo, onde a empresa atua. Para isso, a empresa de tecnologia para propriedades deve investir R$ 20 milhões no Brasil, ampliando a operação em 25 mil metros quadrados na capital paulista.
O IWG, grupo britânico dono das empresas Regus e Spaces (ambas de coworking) conta com mais de 3.500 unidades pelo mundo e, é claro, também está de olho no crescimento que o Brasil pode proporcionar. No último ano, a companhia assumiu um prédio da WeWork em Ipanema, depois que a primeira locadora encerrou a operação em maio de 2020.
“Foi uma das melhores inaugurações da nossa história. As empresas estão ‘picotando' o escritório central, preferindo ter 10 escritórios com 50 estações de trabalho do que um prédio com capacidade para 500 pessoas. O modelo híbrido, de fato, veio para ficar”, explica Tiago Alves, CEO do IWG no Brasil. Nacionalmente, a demanda da empresa cresceu 30% no último ano.
O executivo destaca uma mudança significativa no perfil de empresas que buscam por coworkings. Até 2019, metade das empresas que procuravam por essa solução era formada por grandes empresas, 30% por pequenas e médias e 20% por profissionais autônomos. Em 2020, as grandes empresas somaram 60% da demanda total, por causa da ênfase no modelo híbrido de trabalho.
Diante desse cenário, crescer é uma oportunidade e tanto. Para aproveitá-la, a companhia deve investir em franquias durante o ano de 2021. A estimativa é fechar com 100 unidades (próprias e franqueadas, somadas). Hoje, a empresa tem 32 mil clientes ativos, distribuídos em 70 unidades pelo país.
Para isso, o IWG se vale da relação com proprietários de prédios que ficaram “órfãos” de seus inquilinos de grande porte. O principal objetivo é preencher esses espaços com estações de trabalho flexíveis e capturar a demanda que migrou para esse formato de trabalho. Atualmente, 150 edifícios estão sendo avaliados pela empresa.
Para Tiago, o cenário é possível porque o trabalho, no Brasil, está distribuído para além das capitais. “Mesmo nas cidades menores, sentimos o aumento pela demanda de espaços como os que oferecemos e estamos de olho neles. Em São Paulo, Campinas é um exemplo disso. É um comportamento totalmente diferente do de outros países da América Latina, em que o trabalho está mais concentrado em um único local”, afirma.
A tendência de olhar além dos bairros comerciais também faz parte dos planos da WeWork, uma das principais companhias a atuar no segmento. No ano passado, a companhia afirmou que tem interesse tanto na Grande São Paulo (em cidades como Osasco e Santo André) quanto em bairros residenciais na capital paulista, a exemplo da Vila Madalena.
"Achamos essas localidades muito interessantes, porque muita gente prefere voltar do escritório andando", disse Lucas Mendes, diretor geral do WeWork Brasil, em entrevista à EXAME. Ao todo, a WeWork tem 32 prédios no Brasil, em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre -- no mundo são 859 locais em 151 cidades.
Do lado da empresa, além de investimentos para crescer nesses locais, há também iniciativas em teste para que os colaboradores possam acessar prédios da WeWork em qualquer lugar do mundo, usando apenas um cartão. A iniciativa começou a ser testada em São Paulo, no último ano.
“O mercado imobiliário comercial sofreu com esse momento e vai continuar a sofrer. Algumas mudanças vão ter efeito mais duradouro e nós estamos bem posicionados porque somos flexíveis. A crise provou a validade dessa flexibilidade”, afirmou Lucas Mendes, diretor geral do WeWork Brasil, em entrevista concedida à EXAME no último ano.
Mais do que algo a ser observado no Brasil, trata-se de uma tendência global. Um relatório produzido pela JLL, companhia norte-americana de coworkings, mostra que 30% dos espaços de trabalho serão flexíveis até 2030.