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Em recuperação judicial, Itapemirim quer ter empresa aérea

Empresa de transporte rodoviário afirmou que irá receber aporte de US$ 500 milhões em dez anos

Itapemirim: empresa pode enfrentar dificuldades para comprovar sua regularidade fiscal (Rafael Delazari/Flickr)

Itapemirim: empresa pode enfrentar dificuldades para comprovar sua regularidade fiscal (Rafael Delazari/Flickr)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 21 de fevereiro de 2020 às 08h15.

Em recuperação judicial desde 2016, o grupo de transporte rodoviário Itapemirim quer entrar no setor aéreo e anunciou que, para desenvolver o projeto, vai receber um aporte de US$ 500 milhões - com possibilidade de mais US$ 500 milhões em dez anos - do fundo privado do xeque Mohammed bin Rashid Al Maktoum, primeiro-ministro e vice-presidente dos Emirados Árabes Unidos.

A intenção da Itapemirim é ter uma companhia aérea de baixo custo (low cost) que opere voos regionais a partir de 2021 ou 2022, modelo de negócios inédito no mundo. Tradicionalmente, as low cost operam em rotas de grande densidade, como Rio de Janeiro-São Paulo.

"Não conheço nenhuma operação do tipo feita com jato regional", disse o especialista em setor aéreo André Castellini, sócio da consultoria Bain & Company. O desafio, explicou ele, ocorre porque os aviões de voos regionais são menores, o que impede que o custo de um voo seja diluído por um grande número de passageiros.

O presidente da Itapemirim, Sidnei Piva, diz que a companhia começará com 35 aeronaves de dois modelos - A220 (da Airbus, com capacidade para 135 passageiros) e Q900 (da Bombardier, para 90 passageiros). Piva, porém, não revela a estratégia para que a nova aérea ofereça preços mais baixos do que os das empresas tradicionais. "Se respondesse essa pergunta divulgaria meu plano de ação empresarial, meu segredo."

Segundo o empresário, a integração entre os modais rodoviário e aéreo e também o transporte de carga devem ajudar a empresa a ser mais eficiente. "Vou integrar os modais. Assim, consigo diminuir os custos de operação e tornar a companhia mais atraente e rentável. Foi isso que despertou o interesse dos investidores. Eles viram uma proposta que não existe na Europa, na Ásia ou na América do Sul."

Piva ainda não assinou os contratos com o fundo. Segundo o executivo, isso deverá ocorrer em março, quando voltará a Dubai para acertar detalhes. Piva esteve nos Emirados Árabes na semana passada, em uma missão empresarial promovida pelo governo do Estado de São Paulo, liderada pelo governador João Doria (PSDB).

Ainda segundo Piva, o fato de a Itapemirim estar em recuperação judicial não prejudicou a conversa com os investidores. "O endividamento, em relação ao volume do projeto, é insignificante." As dívidas incluídas na recuperação do grupo são de R$ 300 milhões.

Empecilho

A recuperação judicial não impede a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) de conceder autorização para a Itapemirim operar no País, mas o órgão regulador afirmou, em nota, que "empresas nessas condições podem apresentar dificuldades em obter as certidões que comprovem sua regularidade fiscal, previdenciária e trabalhista, exigidas para aprovação".

Piva, entretanto, disse não ver dificuldades com a Anac. "De maneira alguma vamos levar para a Anac algo inconsistente. Já temos um planejamento de pagamento tributário. Vamos com uma empresa sólida e com muito investimento."

Questionado sobre o ceticismo do mercado no projeto, dado o ineditismo de uma aérea regional de baixo custo, o executivo afirmou que, com o investimento que deve receber dos árabes, poderia comprar outra empresa. "Nem preciso montar uma. (Comprar) também está no planejamento", disse, acrescentando ter apresentado aos árabes um projeto maior, com possibilidade de investimento em aeroportos e rodovias.

A Itapemirim havia tentado entrar na aviação em 2017, quando anunciou um acordo para ficar com a Passaredo. Dois meses após a divulgação do negócio, a Passaredo informou que a compra havia sido desfeita porque a Itapemirim não cumprira condições estabelecidas em contrato. Piva diz que o acordo não foi concretizado porque o plano de recuperação judicial da Itapemirim não havia sido aprovado por credores.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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