Rula Raim, da Klara.AI: o Brasil é um oceano vermelho para fintechs. Se conseguirmos prosperar aqui, poderemos em qualquer lugar do mundo (Klara.AI/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 29 de maio de 2024 às 08h30.
Última atualização em 29 de maio de 2024 às 14h10.
As relações comerciais entre Brasil e Cazaquistão são tímidas. Em 2022, as transações não passaram de US$ 200 milhões, volume sustentado por aquisições brasileiras de enxofre e urânio do país asiático e vizinho da Rússia - a última república, inclusive, a sair do domínio soviético em 1991. Para muitos brasileiros, a imagem do país ainda atrelada ao personagem Borat, do filme homônimo estrelado pelo britânico Sacha Baron Cohen.
Mas uma startup recém-lançada no país quer trazer uma nova perspectiva para a relação entre os dois países. Em operação há 8 meses, a Klara.AI é uma fintech para o público feminino e tem uma base de 3.000 usuárias. No pouco tempo de vida, emprestou mais de US$ 5 milhões e alcançou uma receita recorrente de US$ 30 mil por mês.
O principal produto da startup hoje é a oferta de empréstimos e ainda uma assistente de inteligência artificial, que ajuda pequenas empreendedoras a organizar os negócios e a gerir o relacionamento com os clientes. Pelo suporte, cuja proposta é substituir o atendimento humano, a startup cobra 99 dólares.
No foco da Klara IA, também estão as usuárias finais, partindo da premissa de que no empreendedorismo feminino as duas personas, muitas vezes, se confundem.
“Quando você analisa os dados dos gastos femininos, não há uma fronteira clara entre os gastos individuais e os de negócios. É sempre uma mistura. Às vezes, usam o dinheiro pessoal para propósitos de negócios e, em outras, a receita para fins pessoais”, afirma Rula Raim, cofundador da startup. “Por isso, nós criamos a interface customizável, em que as usuárias podem administrar e colocar as contas de todos os bancos em um mesmo lugar”.
Empreendedor serial, Raim tinha começado a estudar, a pedido de um banco comercial local, como criar novas estratégias de negócio. Enquanto se debruçava sobre a geração Z, ele encontrou, por acidente, um relatório que o impressionou sobre o potencial da economia feminina.
De acordo com a ONU, as mulheres ainda têm menos probabilidades do que os homens de ter acesso a instituições financeiras ou de ter uma conta bancária. Por outro lado, fechar as lacunas de disparidade entre os gêneros poderia dar à economia global um impulso de 7 bilhões de dólares.
Do projeto, ele criou a Klara.AI, em sociedade com Zhansaya Nugusbayeva, engenheira de software e CTO, e Darina Kurganbekova, diretora de RH e Operações. No modelo de negócio, a startup se conecta a um banco local para oferecer os serviços, como acesso a crédito, cartões e investimentos. A cada empréstimo, por exemplo, a Klara recebe 2% pela transação diretamente da instituição parceira.
“Nós acreditamos que não podemos competir apenas no nível de produtos financeiros, mas sim no nível de experiência do usuário. Essa é a diferença e, por isso, criamos a interface customizável”, diz Raim.
Para chegar até aqui, a fintech captou US$ 600 mil dólares em rodada pré-seed e tem garantido o valor de R$ 1 milhão em uma bridge com investidores da Ásia Central.
No médio prazo, a ideia é ser um ecossistema de negócio, fomentando o comércio entre mulheres. Para chegar lá, aposta em um programa de opções de ações para as clientes, em que elas podem adquirir participação no negócio a partir das recomendações de outras mulheres.´
De acordo com o fundador, como a plataforma é escalável, os montantes devem ser suficientes até a captação de uma rodada seed, para a qual pretende atrair investidores locais, tanto aqui quanto na Europa, os dois próximos destinos da startup.
A chegada da Klara.AI ao Brasil acontece pelas mãos da Mubius WomenTech Ventures, plataforma que apoia empreendedorismo direcionado ao universo feminino, e da Bridge Brazil, braço do FCJ Venture com foco em trazer negócios estrangeiros para o solo brasileiro.
Juntos, os dois ecossistemas estão ajudando a startup a encontrar os profissionais para a operação local, estimada em 15 pessoas, e fazendo pontes para acelerar o desembarque. A previsão é de que os serviços entrem em operação em até quatro meses. Atualmente, a startup está em conversas com bancos para a parceria.
Mesmo sem nunca ter vindo ao Brasil, a expectativa do cazaquistanês é elevada: em 24 meses, tem a ambição de faturar US$ 18 milhões. A estimativa vem, em parte, de um acordo com a Mastercard, que abre caminho para conexões com potenciais clientes. O acordo está em funcionamento no Cazaquistão e na Europa - por aqui, ainda estão em conversas.
A escolha do Brasil como um dos primeiros mercados também reforça o ímpeto do empreendedor, que vê o país como o mais competitivo do mundo para a indústria de fintechs. “É realmente um oceano vermelho para as fintechs. E eu pensei que se conseguirmos fazer isso no Brasil, podemos fazer em qualquer lugar do mundo”, diz.
Além disso, está de olho no tamanho do mercado local, com uma população feminina superior a 100 milhões, de acordo com o Censo de 2022. Para comparação, no país de origem da Klara.AI, o número total de habitantes é inferior a 20 milhões.