Grandes volumes que poderiam representar ganhos têm significado perdas este ano, considerando multas contratuais por atrasos nos embarques de grãos nos portos brasileiros (Germano Lüders/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 17 de maio de 2013 às 17h47.
São Paulo - O agronegócio do Brasil exportará em 2013 volumes recordes do seu principal produto, a soja, mas o setor exportador de grãos amargará gastos extras de mais de 1 bilhão de dólares, por conta dos problemas de logística e infraestrutura do país.
A avaliação é da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), que reúne as principais tradings do setor, num ano em que as exportações de soja deverão atingir uma máxima histórica de mais de 38 milhões de toneladas, aumento de quase 20 % ante a temporada anterior.
Grandes volumes que poderiam representar ganhos, para um setor que lucra com a escala das movimentações, entretanto, têm significado perdas em muitos casos este ano, considerando multas contratuais por atrasos nos embarques de grãos (demurrage) nos portos brasileiros e também custos maiores que os estimados no transporte rodoviário.
"É o pior dos anos em função da demurrage (valor pago pelo exportador pela sobre-estadia do navio) e de perdas nos transportes terrestres", disse à Reuters o diretor-geral da Anec, Sérgio Mendes.
"Apesar das exportações todas, nunca se perdeu tanto dinheiro." Além disso, segundo ele, a despesa das tradings com o frete de caminhões --principal meio de transporte de grãos até os portos-- excedeu "em muito" o que se previa quando o exportador fechou os contratos com o agricultor.
"Isso, somando as perdas de frete com mais a demurrage, a gente acredita que deve ultrapassar 1 bilhão de dólares no ano." O valor estimado para as perdas representa mais de 4 % da receita com as exportações do Brasil de soja e milho no ano passado, que somaram 22,8 bilhões de dólares, segundo dados do governo brasileiro.
Em alguns casos, o custo da demurrage, que varia entre 15 a 20 mil dólares por dia, acaba saindo em cerca de 600 mil dólares por embarcação, considerando o custo de todos os dias que a carga levou para ser embarcada, além do planejado.
A situação atual de atrasos é pior, atualmente, no porto de Paranaguá (PR), uma referência de embarques agrícolas do Brasil, onde os navios levam cerca de 60 dias para atracar, disse o diretor da Anec.
Os atrasos ocorrem em função da fila de embarcações num ano de safra recorde do Brasil e demanda extremamente concentrada pela soja brasileira, após a quebra de safra nos Estados Unidos, tradicionalmente os maiores exportadores globais. Clique no "link" e veja a programação dos navios nos portos brasileiros.
No caso dos portos, o diretor da Anec diz que a atual infraestrutura de Paranaguá não é "capaz de vencer" o atraso.
Ele citou ainda problemas como a falta de equipamentos adequados para agilizar as exportações. Nos portos brasileiros, não há, por exemplo, cobertura de porões dos navios nos berços de atracação, o que impede o procedimento de embarques quando chove.
Além disso, disse Mendes, outros fatores que colaboram para o atraso, como a demora para a retomada das atividades de embarque toda vez que se troca um turno de trabalhadores.
Esses fatores, destacou o executivo, são questões práticas e paralelas às discussões da MP dos Portos, aprovada nesta semana no Congresso, que poderiam ser resolvidas independentemente de um novo marco regulatório que visa modernizar o setor.
No caso do transporte rodoviário, a nova lei dos motoristas colaborou para elevar o frete ainda mais, num ano de safra recorde, uma vez que reduziu o número de horas que cada profissional pode trabalhar sem descanso.
"A lei do motorista aumentou o frete, todo mundo quer o descanso do motorista, só que eu quero alternativa para transportar", comentou.