AES Eletropaulo: expectativa de retomada dos ganhos anteriores ainda é incerta (Germano Lüders/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 2 de dezembro de 2013 às 15h38.
São Paulo - Há um ano e meio, a AES Eletropaulo passa por um inferno astral. A turbulência começou em julho do ano passado, quando a distribuidora de energia teve uma redução tarifária de 9,3%, e foi acentuada em setembro do mesmo ano, com a Medida Provisória 579, que reviu os modelos de concessões no país e reduziu tarifas do setor. Desde então, as ações da companhia derreteram.
Para conter a sangria, a companhia tem intensificado seu programa de redução de custos e focado em eficiência de serviço. O estrago, no entanto, já está feito. As ações preferenciais (maior liquidez) da distribuidora acumulam neste ano forte desvalorização de 43,5%. Em 2 de julho do ano passado, quando estavam no auge, os papéis estavam cotados a R$ 24,88. Na sexta-feira, 29, fecharam a R$ 9,49.
Os dividendos, que chegaram a 100% do lucro nos últimos anos, deverão ser reduzidos a seu teto mínimo, de 25%. A expectativa de retomada dos ganhos anteriores ainda é incerta. A companhia, que atende a 17 milhões de habitantes da capital paulista e 23 municípios da Grande São Paulo, é a maior distribuidora de energia da América Latina em faturamento.
A Eletropaulo, assim como a Petrobras, por exemplo, deixou de ser uma das estrelas da bolsa. Antes, os investidores conservadores buscavam um porto seguro em ações das companhias elétricas, com baixo risco. Agora, se tornou alvo de especuladores. A MP 579, embora não afete diretamente a Eletropaulo, criou uma turbulência no mercado para todas as empresas de energia, diz Adriano Pires, diretor da Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Cortes
Britaldo Soares, presidente da AES Brasil, controladora da AES Eletropaulo, AES Tietê, AES Sul e AES Uruguaiana, sabe o peso de sua responsabilidade e continua em busca da confiança do mercado, com medidas duras, porém, necessárias.
Com a centralização da sede da companhia em Barueri (Grande São Paulo), imóveis do grupo foram colocados à venda. De um total de ativos avaliados em cerca de R$ 250 milhões, R$ 180 milhões já foram vendidos e o restante está em andamento.
Esse capital (dos imóveis) foi liberado para a operação das companhias, não só da Eletropaulo, afirma Soares. Segundo o executivo, a companhia já está conseguindo ganhos no processo de eficiência. Acho que a Eletropaulo, considerando seus custos operacionais, está cada vez mais eficiente, diz Soares.
A empresa tem em curso um processo administrativo contra a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), questionando última a revisão tarifária. A agência contestou investimentos feitos pela companhia, como a instalação de 246 mil metros de cabo de luz. A discussão para a revisão do quarto ciclo tarifário, que ainda está no começo, é esperada como uma tábua de salvação para a companhia, que terá novo reajuste a partir de 2015.
Para Soares, a percepção para a quarto revisão tarifária é de que o setor de distribuição precisa de um ciclo mais consistente, que observe o fluxo de caixa das indústrias e as necessidades de investimentos desse setor. São vários fatores - mudanças regulatórias nos últimos 12 meses e de risco. Isso se reflete em taxa de remuneração do setor, das necessidades de investimentos, dos critérios de reconhecimento desses aportes.
Entre 2005 e 2008, as empresas do grupo AES passaram por uma reestruturação, com refinanciamento da dívidas e redução dos custos financeiros importante. Isso abriu espaço para crescimento de investimento grande, diz Soares. O novo ciclo de investimentos da Eletropaulo - de 2013 a 2017 - prevê R$ 3,2 bilhões, um aporte média de R$ 600 milhões por ano. O ciclo anterior foi de quase R$ 3 bilhões de investimentos.
Na Eletropaulo, o enfoque foi no aporte de tecnologia para a rede elétrica. Do ponto de vista logístico, a operação é complexa. A gente atende São Paulo e municípios ao redor. O mercado acompanha atento todo o movimento de reestruturação das empresas da AES. O grupo está fazendo sua lição de casa, mas a Eletropaulo vai sangrar até o próximo ciclo, diz um especialista do setor.
Para Soares, não são ações one shot (um tiro só) que resolvem o problema. São questões estruturais que vão trazendo resultado ao longo do tempo para as empresas. Na AES Tietê, a companhia aguarda o equacionamento em relação ao fornecimento do gás para que possa participar em condições competitivas dos leilões. São dois projetos de usinas - a de São Paulo e Araraquara, com capacidade de 550 MW e 580 MW, respectivamente, com investimento total de R$ 1 bilhão cada.
Analistas de mercado acreditam que a empresa esteja fazendo o dever de casa, mas apontam alguns pontos sensíveis, como o elevado endividamento e a atual revisão do ciclo tarifário, que deixa a empresa vulnerável. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.