Negócios

Eles estudaram juntos e começaram o negócio com R$ 700. Agora faturam R$ 12 milhões

Primeiro grande projeto foi desenvolvido fora do país; hoje em dia, estúdio tem na sua lista de clientes Nike, Netflix e Pepsi

Fábio Couto, Vanessa Queiroz, Marcelo Roncatti e David Bergamasco, da Colletivo: os quatro colegas que viraram quatro sócios e hoje são quase quatro irmãos (Colletivo/Divulgação)

Fábio Couto, Vanessa Queiroz, Marcelo Roncatti e David Bergamasco, da Colletivo: os quatro colegas que viraram quatro sócios e hoje são quase quatro irmãos (Colletivo/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 31 de maio de 2024 às 09h11.

Vanessa Queiroz, Fábio Couto, David Bergamasco e Marcelo Roncatti eram colegas de faculdade. Os quatro chegaram aos anos 2000 estudando juntos numa universidade de design em São Paulo. Além disso, vinham de realidades muito semelhantes e acabaram se conectando durante as aulas.

“Todos pagavam para estudar, não tínhamos muito tempo para fazer farra, porque no final do mês precisávamos ter dinheiro para pagar nossas contas”, diz Vanessa. “Fomos nos aproximando, fizemos o TCC juntos e viramos amigos”.

Quando a faculdade acabou, a amizade virou negócio. 

Cada um estava trabalhando como autônomo com clientes e projetos pontuais. Resolveram juntar tudo isso num único estúdio de design. O investimento inicial? Setecentos reais, para comprar a tinta e pagar o primeiro mês de aluguel no depósito de um prédio na região da Vila Olímpia, em São Paulo.

“Fizemos uma faxina, pintamos a sala e começamos a trabalhar”, afirma Vanessa. 

Foi assim que nasceu o estúdio Colletivo Design. Vinte anos depois, a realidade da empresa é bem outra. O negócio fechou 2023 faturando 12 milhões de reais, com clientes no Brasil e fora dele, e com uma estratégia de ser um hub de design completo para as empresas — “não apenas ilustradores de projetos de agências de publicidade”, como diz o sócio Fábio Couto.

Como a Colletivo cresceu

A nota 10 no Trabalho de Conclusão de Curso deu aos recém-sócios a impressão de que o início do negócio seria fácil. Ledo engano.

“Achamos que quando fossemos abrir, iríamos arrasar”, diz Vanessa. “Mas a realidade foi outra. Era pôster de cover da Sandy e Júnior de um lado, anúncio de pula-pula do outro”. 

Por um tempo, o principal projeto dos sócios era uma revista de festas para crianças, uma conta que Vanessa conseguiu porque já tinha trabalhado com buffet infantil.

“Éramos muito bons, e queríamos mostrar para o mercado como éramos”, afirma. 

A alternativa foi criar um site experimental para mostrar potenciais projetos. Eram designs que não tinham sido vendidos, mas que ajudavam o estúdio a mostrar para os clientes o que eram capazes de fazer. Com isso, começaram a trabalhar com empresas de moda. 

O trabalho chamou atenção de um designer brasileiro que morava em Nova York. 

“Ele pediu para ver nossos trabalhos e em três dias pediu para fazermos uma proposta para um projeto com a Pepsi. O problema: a gente não sabia como cobrar”, afirma.

Ficaram horas pensando se cobravam 200 ou 300 dólares para o projeto. Mas o orçamento era bem maior. Receberam pelo projeto 5.000 dólares e começaram a aparecer para o mercado internacional, antes mesmo do que para clientes nacionais. 

Nos meses e anos seguintes, outras grandes contas começaram a aparecer por causa disso. A empresa começou a abraçar projetos de marcas como Nickelodeon, Nike e MTV.

Como foi no Brasil 

No Brasil, o mercado ainda era dominado por agências de publicidade, que contratavam empresas de design para fazer parte do projeto, mas não o projeto como um todo.

A Colletivo atuou um pouco nessa estratégia, mas nos últimos anos, começou a se posicionar como uma plataforma completa de serviços: ou seja, fazendo os projetos diretamente com a empresa final, e não passando por agências. Sendo, de certa forma, sua própria agência. 

“De certa forma, aprendemos com a publicidade como cobrar direito de uso, entendemos que tínhamos que ter uma equipe estruturada para não trabalhar 24 horas por dia, e fomos nos organizando”, diz Couto. 

Hoje, a empresa trabalha diretamente com as empresas em desenvolvimento de projetos que vão desde a estratégia (identidade visual, mapping, embalagens, posicionamento), design gráfico (marca e identidade visual, impresso e materiais gráficos, sinalização, tipografia), digital (fase de pesquisa e imersão, experiência do usuário, desenvolvimento de landing pages) e ilustração (posters, adesivos, identidade visual, cartazes, campanhas).

Com esse trabalho, a empresa faturou 12 milhões de reais ano passado. Atualmente, o negócio conta com 40 funcionários e um escritório em São Paulo que recebe os trabalhadores num modelo de trabalho híbrido.

Quem são os clientes da Colletivo

Entre os clientes da agência de design estão:

  • Nike
  • Pepsi
  • Netflix
  • Spotify
  • Nespresso
  • Jaguar
  • Colorado
  • Original

Quais são os desafios e o futuro da Colletivo

Completando 20 anos agora, a marca passa por uma reformulação, com uma nova identidade visual e mirando crescimento na carteira de clientes e de faturamento. 

“Dizemos que somos uma empresa familiar. Somos quatro amigos que são praticamente irmãos”, diz Couto. “Ao longo dos anos, decidimos aceitar o que somos, um caldeirão criativo, com erros, mas também muitos acertos”. 

A meta para o futuro é ajudar a construir no Brasil um entendimento do modelo de negócio da Colletivo. 

“Há um desconhecimento sobre o que é design, e muitas pessoas têm vergonha de perguntar”, diz. “O design não é o Word, não é o que é feito no Canva. Precisa ser algo mais, precisa ter estratégia, é sobre isso”.

"Ao longo dos anos, nossa abordagem diferenciada colocou o design como peça central de nossa criatividade. Isso se reflete não apenas em nossos projetos, mas também em nossas palestras e parcerias com entidades do setor. Para nós, o design não é apenas o resultado final, mas sim a essência de nossa constante evolução criativa. É a força motriz por trás do lançamento de nossa nova marca, reafirmando nossa busca incessante por originalidade e relevância no mercado brasileiro", finaliza Fábio Couto, sócio-fundador do Colletivo.

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