Wall Street reagiu bem à inflação (Shutterstock/Shutterstock)
Marina Filippe
Publicado em 3 de novembro de 2020 às 13h37.
Gigantes do setor financeiro acumularam mais de US$ 4 bilhões em penalidades nos EUA em acordos realizados nas semanas anteriores à eleição presidencial. Isso diz muito sobre um setor que prometeu se comportar após a crise financeira de 2008 e sobre os riscos regulatórios que enxerga no futuro.
O Goldman Sachs Group recentemente se sujeitou a uma punição recorde por suborno no exterior dentro de um pacote de aproximadamente US$ 3 bilhões referente a seu papel no escândalo do fundo de investimento 1MDB, da Malásia. O JPMorgan Chase resolveu uma investigação relativa a manipulação de mercado por mais de US$ 920 milhões. O Citigroup foi multado em US$ 400 milhões por não manter controles de risco adequados.
Essa onda de acordos (além de outros) remove a ameaça de multas mais severas se o presidente Donald Trump for derrotado e o desafiante Joe Biden nomear autoridades reguladoras de perfil mais agressivo para assumir inquéritos ativos.
As penalidades também ressaltam a persistência do mau comportamento dos profissionais de finanças. Investigadores observam que os esquemas no Goldman e no JPMorgan começaram antes que a crise de 2008 tivesse terminado. Essa mancha salta à vista em má hora, quando os bancos se preparam para a possível chegada de novos xerifes.
“Na medida em que algumas das lições da crise financeira parecem não ser aprendidas, acho que isso é um problema”, disse Christopher Wolfe, responsável pela cobertura de bancos da América do Norte da Fitch Ratings. “Era de se esperar que, a esta altura, todo mundo saiba que vai ser pego — essas coisas sempre são descobertas e sempre haverá consequências para isso, mas as pessoas ainda têm esse comportamento.”
A má conduta recorrente não apenas antagoniza os reguladores. Multas podem indicar falhas de governança capazes de pesar sobre as classificações de crédito dos bancos, especialmente em um cenário econômico mais difícil, escreveu Wolfe em relatório divulgado na semana passada. Os investidores também estão cada vez mais se concentrando em questões ambientais, sociais e de governança, que podem se tornar um problema maior para os bancos independentemente de quem vencer a eleição, acrescentou Wolfe.
Mais acordos
Não foram apenas os três gigantes dos EUA que andaram fazendo acordos para se livrar de acusações. Desde o início de agosto, Deutsche Bank, Capital One Financial, Bank of Nova Scotia e Toronto-Dominion Bank também resolveram investigações com penalidades que somaram centenas de milhões de dólares.
Se Trump perder, mais bancos podem se apressar para encerrar casos antes que Biden tome posse.
“Há um punhado de instituições financeiras que podem tentar se acertar com representantes do governo Trump que estão de saída, em vez de enfrentar o que poderia ser um regime mais agressivo de aplicação das regras por Biden”, disse Elliott Stein, analista sênior de litígios da Bloomberg Intelligence. “Se Trump vencer, acho que os casos em andamento continuarão se movendo rapidamente.”
É fato que encerrar uma investigação não se resume a assinar um cheque. Acordos geralmente incluem compromissos de revisar sistemas ou controles. Em alguns casos, este é o foco principal, como o limite que o banco central americano impôs aos ativos do Wells Fargo, essencialmente restringindo seu crescimento.