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Ele trocou o doutorado no Brasil por aulas de inglês. Hoje, é CEO de um negócio de R$ 150 milhões

GRI Group começou como empresa de conferências para o mercado imobiliário e hoje está criando um ecossistema de companhias com atuação no setor

Gustavo Favaron, do GRI Group: vamos buscar novas empresas para aquisições ou criar novas desta área para aumentar o nosso portfolio (GRI/Divulgação)

Gustavo Favaron, do GRI Group: vamos buscar novas empresas para aquisições ou criar novas desta área para aumentar o nosso portfolio (GRI/Divulgação)

Muitas vezes vale a pena abrir mão de um sonho para estar aberto às oportunidades que aparecem pelo caminho. A história de Gustavo Favaron, que era garçom e virou CEO, é um exemplo dessa transformação.

O sonho dele quando deixou o Brasil em 2007 era aprender inglês para poder se candidatar a vagas em entidades como ONU (Organização das Nações Unidas) e Cruz Vermelha. Doutorando em ciências políticas pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), o jovem queria fazer algo que contribuísse e ajudasse as pessoas.

Na capital inglesa, sem o domínio do idioma, seguiu o caminho de muitos outros imigrantes. Estudava inglês durante o dia e trabalhava como garçom e “glass colector”, profissional que pega os copos de vidros deixados pelos clientes de bares e baladas. À medida que o inglês se desenvolvia, começou a aplicar para outras vagas entre entidades e empresas privadas.

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Na nova fase, o primeiro emprego foi como organizador de conferência para uma empresa com atuação na Ásia e Europa. Era o responsável por desenvolver o conteúdo e agenda dos eventos e de palestrantes.

Como veio a mudança na vida

A mudança de vida ocorreu quando entrou para a GRI, abreviação de Global Real Estate Institute (em tradução livre, Instituto Global Imobiliário), empresa responsável por organizar e conectar membros da indústria de imobiliária ao redor do mundo a partir de conferências.

Chegou em 2010 como o 19º funcionário e anos mais tarde se tornaria o CEO da empresa. Fez isso, ressignificando o sonho antigo. Por dois anos, continuou aplicar para vagas em organismos internacionais e não era chamado nem para entrevista.

A última tentativa foi uma posição como especialista em política externa brasileira. “Se não for chamado nem para conversar, vou tentar outras coisas e gastar energia em construir um algo em que eu possa, de alguma maneira, criar ambiente de meritocracia em que as pessoas possam ser felizes”, disse à época. E, mais uma vez, nada de resposta.

A recusa destravou o caminho para o profissional empreender dentro da própria empresa. Aceitou a promoção a managing diretor, que recusara em outras ocasiões, e propôs a transformação do modelo de negócio, baseado em uma conferência por ano em cada país.

Qual o impacto da ideia na transformação do negócio

A ideia era criar um clube que reunisse líderes globais do mercado imobiliário e tivesse um calendário perene de atividades ao longo do ano, com acesso a partir do pagamento de anuidades. “Ele me paga uma anuidade e eu cuido do relacionamento de 12 meses, online, offline, apresentações e conectando de forma 360”, afirma.

O teste começou pelo Brasil entre os anos de 2013 e 2014 e ganhou escala globalmente. Seleto, o GRI Club tem profissionais que ocupam posições como CEOs, CFOs e CIOs em construtoras, incorporadoras, fundos soberanos, investidoras, fundos e bancos. Conta com 11 mil pessoas distribuídas por mais de 100 países.

Além do mercado imobiliário, avançou pelo setor de infraestrutura e, mais recentemente, adicionou o agronegócio para o mercado brasileiro, respondendo à demanda crescente com a aprovação do Fiagro (Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais). O potencial de negócios do novo mecanismo de investimento fez com que empresários do setor cobrassem a abertura de uma célula para fomentar a relação.

Mal comparando, o Club é uma espécie de Lide, só que restrito a poucas cadeias produtivas. Tem desde reuniões online e presenciais a conferências nacionais e encontros como o Chairman Retreat, ocasião que os executivos viajam em família para a Suiça e participam de discussões uma semana antes do Fórum Econômico Mundial. Como objetivo, incentivar troca de ideias, informações sobre o mercado e, claro, gerar negócios.

O modelo significou a pivotagem do negócio e levou Gustavo Favaron a posição de CEO da empresa. Em 2020, ele adquiriu o controle da GRI e detém 41% de participação. Ocupa, com o fundador da companhia, o posto de sócio majoritário.

Em 2022, o GRI Club deve movimentar cerca de R$ 100 milhões, com projeção de crescer 30% em 2023.  À grosso modo, mercados como América Latina e Índia respondem por aproximadamente 60% e os outros 40% vêm da Europa, de países como Inglaterra, França, Alemanha e Polônia.

Como nasce o GRI Group

O crescimento do novo formato de negócio colocou a GRI em uma posição singular, com conhecimento de mercado e proximidade com quem toma as decisões. Ocasião perfeita, observaram os sócios, para iniciar um processo de verticalização com a criação do GRI Group, em 2018.

Começaram a aquisição de parte da Brain, uma empresa de pesquisa de mercado para a indústria de imobiliária, e, em 2019, lançaram a Global Talents no Brasil, focada no mesmo segmento. Ela nasceu para lidar com uma dor percebida no mercado, a dificuldade de recrutar talentos. “É entidade separada, nasceu no Brasil e no ano que vem começa na Europa”, afirma Favaron.

Recentemente, o grupo anunciou um acordo de media for equity (ação por exposição em mídia) com a Terracotta Ventures, empresa de venture capital para proptechs e construtechs, com o objetivo de captar R$ 300 milhões até 2025.

“Nós vamos de fato nos aprofundar em tecnologia e mercado imobiliário. Vamos buscar novas empresas para aquisições ou criar novas desta área para aumentar o nosso portfólio. O nosso apetite está mais ávido por novas entrantes”, afirma o executivo.

O único negócio fora deste universo é a iDog, uma empresa de banho e tosa de cachorros a domicílio, lançada em maio. “Era uma oportunidade de negócios muito boa”.

O portfolio complementar — ou quase todo — adiciona em torno de outros R$ 50 milhões aos negócios liderados por Favaron, hoje um “big fish”, como prometeu à esposa quando deixou um sonho de lado para perseguir outro, de empreender.

O retorno à sociedade agora é percebido de uma outra forma pelo executivo, que desde 2020 voltou, oficialmente, ao Brasil e trabalha a partir de Campinas, interior de São Paulo. “Criar um ambiente para as pessoas serem felizes, trabalharem bem, terem de fato meritocracia e em que possam ser a melhor versão delas. Acho que é um pouco da missão e isso me dá um pouco da alegria e dialoga com aquela necessidade minha antiga”, afirma.

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