Aldo Garcia, da Betha Sistemas: "Eu me orgulho das equipes que formei e dos processos que ajudei a estruturar. A empresa me deu tudo. Meu papel agora é garantir que ela esteja pronta para os próximos 40 anos" (Divulgação/Divulgação)
Editor de Negócios e Carreira
Publicado em 23 de abril de 2025 às 06h02.
Última atualização em 24 de abril de 2025 às 15h01.
A gestão pública brasileira, especialmente no nível municipal, enfrenta um desafio recorrente: como modernizar seus processos em meio a limitações técnicas, orçamentárias e operacionais.
Em um país com mais de 5.500 municípios, cada um com autonomia para contratar e gerenciar seus próprios sistemas, a complexidade se multiplica. Nesse cenário, uma empresa catarinense tem se destacado.
Fundada em 1984, em Criciúma, município de 215.000 habitantes no sul de Santa Catarina, a Betha Sistemas nasceu ainda na era do computador “do tamanho de um carro”.
Quase quatro décadas depois, a companhia se posiciona como a maior fornecedora de software para gestão pública municipal no Brasil, com presença em cerca de 800 cidades.
A razão para contar essa história agora é o crescimento acelerado da Betha.
Em 2023, a Betha Sistemas teve receita líquida de 130,5 milhões de reais em 2023 e crescimento de 11,36% em relação ao ano anterior. O resultado colocou a empresa na 87ª posição do ranking EXAME Negócios em Expansão 2024, na categoria de 30 a 150 milhões de reais.No ano passado, a empresa teve uma receita de 252 milhões de reais e projeta crescer 25% em 2025.
Mais do que números, o salto vem na esteira de uma transformação tecnológica.
Nos últimos anos, a empresa migrou praticamente toda a sua carteira de clientes para um sistema em nuvem — um movimento raro e arriscado no setor público, que gigantes tentaram, mas não conseguiram executar completamente.
"Arriscamos muito. Mas sabíamos que, sem isso, não estaríamos prontos para o que vem pela frente", afirma Aldo Garcia, CEO da Betha. Ex-motorista da própria empresa, Garcia começou a carreira em 1996 e percorreu todas as áreas do negócio até chegar ao comando, em 2019.
Hoje, o foco da empresa é manter o ritmo de expansão, conquistar cidades maiores e avançar em governos estaduais. A Betha também prepara soluções com inteligência artificial (IA) e aposta na integração total dos sistemas municipais para sustentar o crescimento.
A Betha nasceu do encontro entre Cláudio Balsini, engenheiro de uma indústria carbonífera local, e César Smielevski, programador recém-formado.
A primeira versão da empresa desenvolvia softwares para o setor privado. Em 1990, ao começar a alugar computadores para prefeituras, identificou uma nova oportunidade: os prefeitos queriam também os sistemas para usar essas máquinas.
Vieram então os quatro sistemas centrais da empresa, voltados para gestão contábil, folha de pagamento, arrecadação tributária e compras.
O foco no setor público se consolidou no fim da década de 1990, quando a divisão que atendia empresas privadas se separou, dando origem à Dominio Sistemas, vendida em 2014 para a Thomson Reuters.
Desde os anos 1990, a Betha opera sob um modelo de receita recorrente. No início, era o aluguel de hardware. Depois, a entrega passou a ser feita por software — hoje são mais de 60 soluções que cobrem da contabilidade à saúde e à educação.
A venda é feita por meio de licitações, mas o relacionamento com o cliente é direto. “Temos consultores que visitam regularmente as prefeituras e mantêm contato com os tomadores de decisão”, explica Garcia.
Esse acompanhamento é vital em um mercado marcado por mudanças políticas frequentes e rotatividade de pessoal.
Os contratos são de longo prazo. Com a nova legislação, podem durar até 10 anos, o que garante estabilidade para a empresa e seus clientes. “Temos prefeituras com mais de 30 anos de relacionamento com a Betha”, diz o CEO.
Apesar do DNA familiar, a Betha opera com práticas de governança típicas de grandes corporações. A empresa é auditada por uma das quatro principais empresas do ramo no mundo e tem balanços públicos.
Garcia, o CEO, é um exemplo de mobilidade interna. Contratado como motorista, ele passou por vendas, tecnologia e estratégia de produto até assumir o comando."Eu me orgulho das equipes que formei e dos processos que ajudei a estruturar. A empresa me deu tudo. Meu papel agora é garantir que ela esteja pronta para os próximos 40 anos", afirma.
Hoje, a Betha está presente em prefeituras de todos os portes — de cidades pequenas como Atibaia a médias como Juiz de Fora e grandes como Florianópolis.
Para municípios acima de 800 mil habitantes, a empresa adota uma abordagem “artesanal”, customizando a entrada e ajustando a operação às exigências locais.
A empresa investe cerca de 50 milhões de reais por ano em segurança, qualidade e evolução dos sistemas. “A maioria das prefeituras jamais conseguiria investir esse valor sozinha. Nossa escala nos permite diluir custos e oferecer uma tecnologia superior”, diz Garcia.
Essa escala também permite algo raro no setor público: integração total dos sistemas.
A Betha desenvolveu uma camada de APIs que conecta suas soluções entre si, algo essencial para o uso de novas tecnologias, como IA e reconhecimento facial — já presentes, por exemplo, no sistema educacional da empresa, que monitora engajamento de alunos e detecta uso indevido de celulares.
Apesar da liderança no setor municipal, a entrada em capitais e estados ainda é limitada. Em São Paulo, por exemplo, a empresa investiu 700 mil reais apenas para realizar uma prova de conceito.
Além do custo elevado para vender ao governo, a empresa enfrenta a concorrência indireta de estatais de tecnologia.
Em 2025, a meta é alcançar os 300 milhões de reais em receita e aumentar a presença em estados e cidades com mais de 1 milhão de habitantes.Para isso, a empresa quer manter o ritmo de inovação e continuar posicionando-se como uma provedora de tecnologia e não apenas como fornecedora de sistemas.
O ranking EXAME Negócios em Expansão é uma iniciativa da EXAME e do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME). O objetivo é encontrar as empresas emergentes brasileiras com as maiores taxas de crescimento de receita operacional líquida ao longo de 12 meses.
Em 2024, a pesquisa avaliou as empresas que mais conseguiram expandir receitas ao longo de 2023. A análise considerou negócios com faturamento anual entre 2 milhões e 600 milhões de reais.
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