Negócios

Elas criaram startup que conecta pequenos produtores a grandes indústrias

ManejeBem, de Florianópolis, também disponibiliza capacitação e assistência às comunidades rurais, com um olhar atento à sustentabilidade – mais de 1 milhão de pessoas já foram impactadas

A agrônoma Caroline Luiz Pimenta e a bióloga Juliane Lemos Blainski, fundadoras da ManejeBem: tecnologia e dados transformando a agricultura no Brasil.

A agrônoma Caroline Luiz Pimenta e a bióloga Juliane Lemos Blainski, fundadoras da ManejeBem: tecnologia e dados transformando a agricultura no Brasil.

Caroline Marino
Caroline Marino

Jornalista especializada em carreira, RH e negócios

Publicado em 4 de dezembro de 2024 às 14h31.

Última atualização em 4 de dezembro de 2024 às 16h58.

Um propósito claro e entendimento amplo do mercado foram os alicerces para a criação da ManejeBem, uma startup de inovação no campo, em Florianópolis (SC). Apesar de o Brasil ter em torno de 5 milhões de produtores rurais, segundo o último Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), boa parte deles não tem estrutura adequada para captar dados e melhorar a produção, e o contato com as grandes indústrias é tímido. A agrônoma Caroline Luiz Pimenta e a bióloga Juliane Lemos Blainski, fundadoras da empresa, costumam dizer que realizam a leitura e inteligência de dados da ‘sombra’ análogica no Brasil, dos locais esquecidos. “Esses produtores são responsáveis por 5% do PIB do país e podem trazer muitos benefícios econômicos e sociais. Por isso, atuamos para desenvolvê-los a partir de conhecimento, análise de dados e visibilidade, e fazendo a ponte com as companhias”, explica Caroline.

Atualmente, atua em mais de 240 municípios e tem 19 projetos em execução, impactando cerca de 400 mil produtores, direta e indiretamente, por meio de consultoria e treinamentos voltados à transformação digital e soluções para medir, monitorar e rastrear impactos sociais, econômicos, ambientais e agronômicos. Além disso, já fez diferença na vida de 1 milhão de pessoas, incluindo técnicos, agrônomos e estudantes por meio das capacitações e materiais disponibilizados.

Com clientes como Ambev, Vale e MSD Saúde Animal, a empresa atingiu um faturamento de R$ 3,5 milhões em 2023. Agora o plano é disponibilizar a metodologia e a tecnologia para o mercado, sem o serviço embutido, para chegar aos 5 milhões de produtores rurais.

Da ideia à formatação do negócio

Caroline e Juliane se conheceram na universidade e desde então estão envolvidas em projetos sociais e agricultura sustentável, com pesquisas na área e artigos publicados. Quando decidiram deixar para trás o sonho da magistratura, apenas um caminho era possível: promover o desenvolvimento social, ambiental e econômico sustentável de comunidades rurais vulneráveis. O primeiro passo foi entender a fundo a realidade dos produtores. “Antes de desenvolver aplicativos sofisticados, como drones, fizemos um trabalho de escuta e comunicação para identificar as necessidades e o nível de transformação digital de cada um”, explica Caroline. Além de visitas presenciais, elas criaram um grupo no Whatssap para a coleta de dados. “Não podíamos recomendar uma tecnologia ou processo, sem saber se o produtor tinha boas condições de alimentar os animais e a si mesmo, por exemplo, qual era situação do solo e dos recursos como água e luz, e o nível de capacitação”, reforça Caroline.

Essa análise foi a parte principal do trabalho de desenvolvimento da empresa. “Tudo foi baseado em um olhar muito empático para os pequenos produtores. Nos colocamos à disposição para ouvi-los e pensar nas melhores soluções de maneira colaborativa”, diz Juliane, que conquistou o 3º lugar no Prêmio Sebrae Mulher de Negócios 2024, na categoria Ciência e Tecnologia.

Ponte com a indústria para escalar o negócio

Para viabilizar a startup, as empreendedoras iniciaram um experimento para entender se as grandes indústrias precisavam dessas informações e entraram em um processo de aceleração na Ambev, onde validaram a ideia. No total, foram oito projetos realizados e que aproximaram a fabricante de bebidas dos produtores. Um deles abordou a produção sustentável do guaraná, base para o Guaraná Antarctica. Foram atendidas 13 comunidades em Maués e Amazonas, entre 2021 e 2023, com resultados significativos: 70% dos agricultores adotaram tecnologias sustentáveis para controle de pragas e doenças. Fora isso, antes do projeto, menos de 20% dos agricultores utilizavam tecnologia, porcentagem que chegou a 100%.

Entre as soluções, há uma escala que avalia o nível de sustentabilidade de unidades de produção familiar ou comunidades rurais; e um pacote tecnológico com facilidades como o ManejeChat, que conta com avatares especializados que estreitam a relação entre o produtor rural e a assistência técnica da empresa, além de ferramentas de capacitação para ajudar na adoção de práticas modernas e mais eficazes. Essas soluções contribuem para o aumento da renda familiar dos produtores em até 300%, e promovem práticas agrícolas sustentáveis, com ganho de 27% em média.

Alicerces do crescimento

Além da participação em programas e capacitações no Sebrae, como voltados à análise de dados, negócios de impacto, capital empreendedor e gestão financeira, a dupla associa o sucesso da empresa a três pilares. O primeiro é o alinhamento entre propósito e visão de futuro, sempre levando esse entendimento a toda a equipe. O segundo é a gestão financeira, ou seja, saber quando e como investir, e identificar os momentos que exigem mais cautela. Nesse sentido, Juliane destaca a importância de ter em mente que a empresa atua com projetos que têm começo, meio e fim, e fechar algo grande não garante que o retorno está garantido. Tão importante quanto esses pontos, é ser focado no problema e em trazer soluções, sem se apegar às criações. “Nunca deixamos de investir em tecnologia, mas sempre com um olhar desprendido. Há algum tempo, desenvolvemos um aplicativo que não surtiu os efeitos desejados e, rapidamente, partimos para outra ferramenta”, exemplifica Juliane.

No que se refere à sociedade, é essencial contar – desde o início – com um contrato de cotista, documento que estabelece regras para a organização e funcionamento de uma empresa, e trabalhar de forma realmente colaborativa, sem vaidade ou inflexibilidade. “É um relacionamento que exige envolvimento das duas partes. Estamos no mesmo barco e precisamos remar juntas”, diz Juliane.

Tudo isso, sem se deixar abalar por situações de machismo ao longo do caminho. Elas já ouviram, por exemplo, que a empresa só estava dando certo por ser dirigida por mulheres bonitas, e foram questionadas se o produtor aceitava ser atendido por mulher. “São situações difíceis, mas nossos resultados mostram nossa capacidade. Temos uma base de 60 mil produtores e 400 mil pessoas impactadas de forma direta e indireta nos nossos projetos”, finaliza Juliane.

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