Bárbara Maciel, fundador do Maciel Ateliê
Jornalista especializada em carreira, RH e negócios
Publicado em 5 de março de 2025 às 16h31.
O mercado brasileiro de joias está em expansão. Em 2024, movimentou US$ 3,59 bilhões e tem a perspectiva de alcançar US$ 5,34 bilhões até 2029, com um crescimento médio anual de 8,31%, de acordo com a consultoria Mordor Intelligence. O avanço é impulsionado, sobretudo, pela demanda por itens exclusivos e personalizados, o que fortalece marcas autorais.
É nesse cenário que o Maciel Ateliê, fundado por Bárbara Maciel durante a pandemia, vem se consolidando como referência em joalheria artesanal. Formada em Design de Interiores e com experiência no setor de Arquitetura, ela transformou sua paixão pela arte em um negócio voltado à criação de peças carregadas de simbolismo e desenvolvidas sob medida para atender às expectativas dos clientes.
A criatividade e a habilidade manual sempre estiveram presentes na vida da empreendedora, natural de Campinas (SP). Desde a infância, já demonstrava talento ao criar seus próprios brinquedos, como bonecas e pipas. Esse olhar para o feito à mão agora se reflete no trabalho do ateliê. Por lá, cada joia conta uma história com o intuito de materializar emoções.
Segundo ela, a proposta é resgatar o valor das joias como herança familiar. “Quando criamos uma peça, estamos ajudando nossos clientes a guardar momentos importantes e ter objetos que poderão ser passados de geração em geração”, explica.
Além de preservar o trabalho artesanal – da fundição do metal até o acabamento final –, um dos diferenciais da empresa é o atendimento inclusivo, especialmente voltado ao público LGBTQIAP+. Geralmente, as joalherias tradicionais limitam a venda de alianças a modelos padrões, como “masculino e feminino”, nos quais um é mais básico e o outro cheio de pedrarias – o que nunca fez sentido para Bárbara.
"Muitas vezes, entrei com minha namorada em joalherias e sentimos olhares estranhos. Sempre havia essa divisão e queria poder escolher as peças que usaria, e de atender exatamente da forma como eu gostaria de ser atendida”, diz.
Em 2024, registrou um faturamento de R$ 815 mil, com mais de 1000 clientes atendidos ao longo do ano. A meta agora é alcançar R$ 1 milhão este ano e ampliar a base de clientes para 1500. Para isso, entre as iniciativas, estão o investimento em estratégias de marketing e tráfego pago, e a inauguração de uma loja física em Campinas.
Antes de fundar o ateliê, ela trabalhava como designer de interiores em uma rede de lojas de materiais de construção e decoração, mas durante a graduação descobriu a joalheria artesanal, inicialmente por meio de vídeos no YouTube. Encantada com o processo, começou a estudar por conta própria. Até que chegou à atuação de Ricardo Prezotto que, posteriormente, se tornou seu professor.
Dividindo o tempo entre faculdade, trabalho e curso, enfrentou desafios financeiros para investir no aprendizado. Para custear os materiais necessários, passou a vender as peças que forjava. Em apenas 15 dias, conseguiu arrecadar metade do salário que recebia na época, o que a fez repensar sua trajetória profissional. “A pandemia já havia se espalhado pelo país e decidi me afastar da empresa. Vendi meu único bem, um Uno 1998, por R$ 5 mil e transformei a garagem de casa em um ateliê”.
A chegada da Covid-19 trouxe desafios, mas também oportunidades. Com o isolamento social, o desejo por presentes significativos cresceu, e as joias do Maciel Ateliê ganharam destaque. Como a artesã já vendia as peças pelo Instagram, a transição para o digital foi natural, e o alcance expandiu rapidamente. “Sempre amei ouvir as histórias dos clientes e muitos se tornaram grandes amigos. Acredito que isso também ajudou no crescimento. Não somos apenas uma joalheria, mas também um espaço de conversa, de parceria”.
Outro fator crucial para o sucesso foi a manutenção da qualidade e do respeito aos clientes. A marca trabalha com uma fila de espera de até três meses para entrega dos itens, e nunca abriu exceções para adiantar pedidos mediante pagamento adicional. “Recentemente recusei uma proposta de uma multinacional que gostaria de presentear uma dupla campeã olímpica com joias em ouro branco, pois não poderia me comprometer o prazo”.
Construir o negócio exigiu resiliência e muita dedicação. Sem referências na família para guiá-la, Bárbara precisou aprender tudo sozinha, desde as burocracias para abrir um CNPJ até a busca por fornecedores e embalagens.
Para ela, empreender é um ato de coragem e liberdade. “Se você é boa prestando serviço para os outros, será ainda melhor fazendo para você mesma”, afirma. Seus conselhos para mulheres que desejam começar são profissionalização, busca constante por aprendizado e dedicação. “Depender do seu sucesso dá medo, mas saber que tudo o que conquistou é fruto do seu esforço vale muito a pena”, finaliza.