Helen Moraes: empresária faz regularização fundiária e moradias populares (Leandro Fonseca)
Repórter de Negócios
Publicado em 17 de novembro de 2023 às 11h25.
Última atualização em 17 de novembro de 2023 às 16h15.
“Eu sou o meu próprio case de sucesso”. É assim que a empresária Helen Moraes resume sua trajetória. Há quase 10 anos, a advogada nascida em São Paulo mantém uma empresa de regularização fundiária. Há quase quatro anos, abriu também uma construtora de habitação popular, cujos primeiros projetos estão por serem aprovados e devem começar a sair do papel no ano que vem, com um valor geral de vendas de 600 milhões de reais.
O desejo de Helen em trabalhar com pessoas de baixa renda e em situação vulnerável começou na Bahia. A advogada morou por alguns anos no Estado, e lá atuou em secretarias municipais de assistência social. Foi quando estudou mais sobre regularização fundiária e começou a trabalhar na área, com a legitimação dos territórios quilombolas. Em 2014, abriu o escritório Habita Reurb.
“O Brasil tem mais de 50% dos seus imóveis irregulares”, diz Helen. “São pessoas que, às vezes, só tem um contratinho de gaveta e olhe lá. A lei dá hoje chance delas se regularem”.
De lá para cá, já foram mais de 10.000 moradias reguladas. Outras 3.000 estão em andamento em Monte Mor, na região metropolitana de Campinas. Só com o braço de regularização fundiária, faturou cerca de 8 milhões de reais em 2022, valor que deve se manter em 2023.
“Mas eu quis ir além, não quero só dar um documento, quero proporcionar moradia digna para as pessoas”, afirma.
Foi assim que, em 2020, lançou a HB Brasil, uma construtora e incorporadora focada em habitação popular. A ideia, com a empresa, é entregar uma solução completa de moradia para as pessoas. Ela faz, por exemplo, loteamento e saneamento básico. “Tinha quem se regularizava, mas morava num terreno sem esgoto, sem nada”, diz. “Com a incorporadora, queremos também dar dignidade para as pessoas”.
Além de fazer a infraestrutura, a HB Brasil também está com projetos para construção de moradias em cidades como Campinas, em São Paulo, e Alagoinhas e Itanagra, na Bahia. Nos últimos anos, foram desenvolvendo os projetos e conseguindo as aprovações. Agora, as primeiras obras estão previstas para começar em março em Jabaquara e Guarulhos.
Contando a frente de construção, que só de projetos sendo desenvolvidos já tem 600 milhões de reais em valor geral de venda, Helen espera garantir um faturamento líquido de 20 milhões de reais no ano que vem.
“A regularização fundiária está no meu DNA, sou diretora social da Comissão de Regularização Fundiária”, afirma. “E o social me fascina, eu gosto de atuar em comunidades e favelas e ajudar as pessoas”.
O cargo de diretora social da CRF, que Helen assumiu a convite do presidente Enrico Madia, também deu à executiva notoriedade para continuar seu trabalho.
Helen nasceu num ambiente onde o estudo era prioridade. Filha de um advogado e de uma cozinheira, sempre recebeu incentivo da mãe para estudar “e fazer diferença no mundo”. Aos 26 anos, se formou em direito em São Paulo e montou o primeiro escritório. Trabalhou uma época como criminalista até se mudar para a Bahia, onde dedicou boa parte da sua atuação na assistência social.
A paixão pela construção também está atrelada a sua história. “Sempre estudei em colégio particular, mas sempre moramos de aluguel”, afirma. “E teve uma época de nossa vida que fomos praticamente despejados, e fomos morar na casa dos nossos avôs, toda família. Eu falava que queria sair dessa condição e fazer casa, mas não queria ser engenheira”.
Ela juntou a experiência com o desejo quando voltou a São Paulo e abriu a Habita Reurb e, alguns anos depois, a HB Brasil. Para frente, também elabora a estruturação de duas outras empresas: a HB Bank, para financiar os imóveis populares, e outra de administração de condomínios, que fará com seu namorado e amigos de Brasília.
Nessa trajetória de 10 anos de regularização fundiária e de quase quatro na construção civil, Helen viu de perto os preconceitos de raça e de gênero. Recentemente, ao ir estudar um terreno para comprar, viu o proprietário da área simplesmente a ignorar e falar apenas com um colega que a acompanhava. Quando ela disse que era a dona da empresa, ele se surpreendeu. “A sociedade não gosta que eu sou mulher preta, plus size, e que estou num espaço de poder”, diz. “Mas eu me coloco nesse lugar. Eu entro na Dolce & Gabbana e deixo todo mundo olhando pra minha cara. Eu sou dona de uma construtora. Eu mexo com o agrimensor. Estou no front, sou protagonista”.
É assim que Helen vai construindo e trabalhando no seu negócio - e no seu próprio case de sucesso.