Marina Ulhôa, dona do espaço Fusilli, em Belo Horizonte: empreendedora, ela transformou sua dor e a de outras mulheres em negócio. (Fusilli/Divulgação)
Repórter
Publicado em 23 de outubro de 2024 às 15h21.
Assim como muitas mulheres com cabelos crespos e cacheados, Marina Ulhôa, dona do espaço Fusilli, em Belo Horizonte, levou anos para aceitar o próprio cabelo. Filha de um casal interracial, ela se incomodava com as madeixas volumosas, e aderiu ao alisamento quando tinha apenas oito anos de idade.
“Lembro de chorar e perguntar por que só eu tinha o cabelo daquele jeito”, recorda. Desde então, a busca por aceitação passou por vários processos químicos e emocionais. Foram mais de 20 anos alisando o cabelo, passando por queimaduras e quedas por corte químico.
Após uma temporada na Itália acompanhando o seu marido – e atual sócio – em um pós-doutorado, Marina começou a repensar na sua relação com o cabelo e iniciou sua transição capilar. “Passei mais de 20 anos acreditando que só havia uma forma de me sentir bonita, e essa forma era ter o cabelo liso. Nunca me vi de outra maneira”, conta.
Quando retornou ao Brasil, Marina enfrentou dificuldades para se recolocar no mercado de trabalho, depois de quase cinco anos fora do país. Aos 39 anos, enviou o currículo para diversas empresas, mas sentiu que o mercado havia mudado e que precisava se atualizar.
“Eu me dei conta de que o que faltava nos espaços de beleza para cabelos naturais não era apenas um corte, mas um acolhimento. Algo que fosse além da estética e que tivesse um olhar para a trajetória e a dor de cada cliente”, lembra.
Foi então que ela decidiu unir forças com seu sócio e abrir o Fusilli, o primeiro salão que se define como um “espaço inteligente de acolhimento”.
“A transição capilar não é só estética. Ela é emocional e muitas vezes social. Nós entendemos que as mulheres que decidem voltar ao natural precisam de suporte e também que se sintam abraçadas”, explica.
Anos mais tarde, Marina se especializou em tricologia e terapia capilar, fez um curso de extensão em cosmetologia, abriu uma segunda unidade e lançou sua própria linha de cosméticos sólidos. A trajetória como empreendedora rendeu a ela, em 2022, o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios na categoria de Microempreendedora Individual (MEI).
“A gente foi construindo um modelo de negócio muito pautado nas minhas percepções do que faltava no mercado, nas minhas dores, no que eu passei e no que eu não queria que as outras mulheres passassem”, diz Marina.
Com essa visão, o Fusilli se tornou um espaço de inspiração e empoderamento, onde as clientes não só encontram soluções para cuidar dos cabelos, mas também um lugar para celebrar sua identidade e beleza natural.