Júlia Vergueiro, do Nossa Arena: nós queríamos fazer com que a prática esportiva fosse muito acolhedora (Grasiela Gonzaga/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 5 de dezembro de 2023 às 14h53.
Última atualização em 6 de dezembro de 2023 às 10h26.
Quando saiu da faculdade de relações internacionais em 2010, um receio de Júlia Vergueiro era não ter onde jogar o seu futebol do dia a dia. Hoje, ela é uma das sócias do Nossa Arena, um espaço de 8,5 mil metros quadrados no bairro da Barra Funda, em São Paulo.
A arena reúne três quadras de society, adaptáveis para um 11 contra 11, e ainda quadras para esportes de praia como futevôlei, vôlei de areia e beach tênis. A diferença em relação aos mais diferentes espaços encontrados por aí é que quem está com a bola nos pés ou a raquete nas mãos ocupando as quadras são as mulheres.
O Nossa Arena foi aberto em julho de 2021 como um ambiente exclusivo para mulheres, meninas e pessoas trans."Nós queríamos fazer com que a prática esportiva fosse muito acolhedora. Criar um espaço onde a mulher, independentemente de saber ou não jogar, não será julgada", afirma Vergueiro.
Ela conta que cresceu em uma família apaixonada por esportes, principalmente pelo futebol. Assim como os dois irmãos, sempre jogou bola no condomínio e na escola. Uma realidade distinta de muitas mulheres que frequentam o Nossa Arena.
A prática esportiva, em muitas casas e por muito tempo, foi percebida como algo masculino. Leis de estado, como a proibição de prática do futebol por mulheres por 40 anos ou de esportes de contato, como o judô, na ditadura militar, contribuíram para o distanciamento.
Um relatório de 2019 do programa da ONU para o Desenvolvimento registrava que a prática de exercícios físicos por mulheres era 40% inferior a dos homens no país.
Nos últimos anos, os rumos mudaram e avanços são mais expressivos em direção oposta, impulsionados por uma agenda que conecta o aumento da prática esportiva, exposição em mídia de competições e investimentos dos clubes na formação de equipes femininas.
Uma pesquisa da consultoria Sponsorlink, do Ibope Repucom, revelou que o interesse pelo futebol feminino no Brasil cresceu 34% desde 2018, dado que reúne homens e mulheres.
O Nossa Arena se conecta com este novo movimento. Vergueiro já era sócia do Pelado Real Futebol Clube, uma escolinha de futebol para meninas de 6 a 18 anos de idade, desde 2013. Poucos anos após sair da faculdade, ela pediu demissão do banco onde trabalhava para se juntar ao negócio.
Os anos de Pelado Real conduziram à ideia de ter um espaço para acompanhar essas meninas em uma nova fase da vida. Com os sócios Fernanda Luiz e Luis Gustavo, decidiu criar o Nossa Arena. Para abrir as portas, o trio lançou cotas de R$ 50 mil e captou R$ 1,5 milhão, tendo como investidores pais de alunas, treinadoras e as próprias jogadoras.
O projeto também atraiu o patrocínio de marcas como SporTV, Visa, Vivo, Nike e Centauro, interessadas em ampliar o relacionamento com o público feminino e reforçar pautas ESG.
No seu primeiro ano cheio em 2022, o Nossa Arena faturou R$ 1,8 milhão. Em 2023, o valor deve chegar a R$ 3,1 mihões, impactado pela Copa do Mundo feminina, em julho e agosto deste ano, período em que a empresa cresceu 50%. Os números somam as receitas com:
As praticantes são, em geral, integrantes de coletivos e grupos de futebol, que reservam as quadras em pacotes mensais. Para os esportes de areia, o espaço oferece aulas e conta com um perfil diferente, com locações mais pontuais. Uma mudança ao longo destes dois anos e meio foi a permissão para que os homens pudessem jogar nas quadras de areia. Os atletas masculinos representam cerca de 10% dos usuários.
“Nós percebemos que a comunidade da Nossa Arena já entendeu como funciona o nosso espaço. Os homens participam ali sem desafiar, sem prejudicar essa ideia de espaço seguro e, inclusive, aprendem que é possível conviver num espaço onde as mulheres são maioria e que isso cria um ambiente muito mais gostoso para todo mundo”, afirma Vergueiro.
A construção de um ambiente menos tóxico, segundo ela, também tem feito como que o espaço seja escolhido para aniversários, confraternizações e eventos pelas atletas, criando uma nova receita.
O crescimento do espaço poderia ser maior, acredita Vergueiro, não fosse a limitação de espaço físico. “Os horários nobres do futebol estão 100% preenchidos”, diz, sobre a principal demanda do Nossa Arena.
A empresa também tem a vontade de tirar do papel o projeto de uma quadra poliesportiva e oferecer basquete, vôlei, futsal e handball.
Até por isso, no curto-médio prazo um dos objetivos é ampliar o espaço atual ou abrir unidades em outras regiões e até em outras cidades.
“Acho que o futuro é a expansão, a gente conseguir crescer, atender mais mulheres e mais projetos”. Atualmente, o Nossa Arena recebe cerca de 1.000 pessoas por semana.